sábado, janeiro 05, 2008

Poesia = letra = imagem = música?


Desde que começou a ser posta no ar ou sobre uma superfície, a palavra poética foi sobretudo respiração e representação ("palavras são símbolos"). Dos ritos/mitos/ritmos ancestrais à poesia concreta e depois, essa especificidade “verbivocovisual” tem sido intrínseca à poesia. Por outro lado, dos rapsodos gregos aos repentistas e rappers, a linguagem da música e a música da linguagem têm uma longa tradição de aproximações e distanciamentos, de múltiplas inseminações, sendo tão ancestral quanto sua prática. As possibilidades do hipertexto e do computador só ressaltaram essa qualidade performática inerente a ela (um poema pode ser, simultaneamente, lido, ouvido e visualizado). Acredito que experiências multimídia, ou mesmo o registro oral de textos poéticos em forma de CD, ou ainda amparado pelas novas tecnologias digitais, são caminhos instigantes que se abrem para a poesia hoje. Embora a técnica ou tecnologia não garanta um bom poema: um poema holográfico ou computadorizado pode usar os recursos mais avançados e não dizer coisa nenhuma. Afinal, se poesia é a arte da palavra, carne de pensamento, ela tem que dizer alguma coisa, sob o risco de virar mero fetiche ou maneirismo. Contra-discurso num mar de discursos, em plena Idade Mídia, esse é maior desafio da poesia hoje.

Rodrigo Garcia Lopes

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