sábado, fevereiro 24, 2007

4 POEMAS DE JIM MORRISON




Um homem varre folhas

e as amontoa, em pilhas, no quintal

& se apóia em seu rastelo &

queima tudo.

O perfume enche a floresta

crianças param & atentam para

o perfume que um dia

vai virar nostalgia.



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Explosão de pássaros

Aurora

Sol acaricia os muros

Um velho sai do Cassino

Um jovem lendo pára

A caminho de um jardim



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O Medo é uma varanda onde ventos

escorregam pelo Norte

Um rosto na Janela que

vira uma folha

Águia intuindo seu desastre

Mas pairando com charme sobre

Um coelho brilhando na noite.



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Essa é minha floresta


Essa é minha floresta

mar de arames.

Esse bando de visão

é minha chama.

Essas árvores são pessoas,

os engenheiros.

Uma tribo de caipiras

em seu domingo de folga.


Deuses -- os diretores,

Câmeras, centauros

gregos na grua,

deslizando c/ graça

silenciosa e móvel.


Em minha direção --

um palhaço saltitante

No imenso olho do

Sol.


Grande perigo ali,

dobra de coxa.

O dedo vingador --

senhor.



JIM MORRISON

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

quarta-feira, fevereiro 21, 2007



"O passado é um país estrangeiro. Lá eles fazem as coisas de um jeito diferente".

J.B. Priestley

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

O poeta Thadeu Wojciechowski , de Curitiba, fez uma versão im-pa-gá-vel da minha tradução do poema RELATO VERDADEIRO DE UMA CONVERSA COM O SOL EM FIRE ISLAND, do Frank O'Hara, postada ontem.

Tá no link dele lá embaixo, Polaco da Barreirinha.

Pra fazer sentido, leia primeiro a tradução minha do Frank e depois a tradução da tradução feita pelo Thadeu.

Depois vêm uns bostas falar de "tradução criativa".


Grande!

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

RELATO VERDADEIRO DE UMA CONVERSA COM O SOL EM FIRE ISLAND (poema de FRANK O'HARA)

FRANK O'HARA (1926-1966) é um dos grandes poetas americanos do século 20. Um dos membros da chamada New York School of Poetry, (ao lado de nomes como John Ashbery e Kenneth Koch), recebeu influência da música contemporânea (estudou música e chegou a pensar em ser pianista profissional), das artes plásticas (foi crítico de arte, curador do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e amigo de William De Kooning, Jasper Johns, Andy Warhol, Larry Rivers e Jackson Pollock, entre outros).

Era comum Frank escrever poemas em bares, em festas, no metrô, em restaurantes, a caminho do trabalho, onde lhe desse na telha. Tinha uma enorme facilidade para escrever poesia. E escreveu muito. O título de seu livro mais famoso resume sua estética: Lunch Poems (algo como Poemas da Hora do Almoço).

A história deste poema que traduzimos aqui é peculiar.

Depois de sua morte, o amigo e poeta Kenneth Koch foi até a casa de O´Hara e encontrou, entre suas coisas, inédito, este que é um de seus poemas mais belos e famosos. É um de meus poemas preferidos também.

“Relato Verdadeiro de Uma Conversa com o Sol em Fire Island” dialoga com o famoso poema de um de seus poetas favoritos, Maiakovski (ver tradução dos irmãos Campos e Boris Schnaidermann em Poesia Russa Moderna (Perspectiva).

Ironicamente, o poema foi escrito oito anos antes de sua morte perto da praia onde, em 24 de julho de 1966, perto do nascer do sol, ele seria atropelado por um buggy. O nome da praia? Fire Island. Tinha 40 anos.





RELATO VERDADEIRO DE UMA CONVERSA COM O SOL EM FIRE ISLAND



O Sol me acordou esta manhã em alto
E bom som, "Ei! Há quinze minutos
estou tentando te acordar.
Não seja grosso, você é só o segundo poeta
Que escolhi pra falar tão pessoalmente
então
por que você não é mais atencioso? Se eu pudesse
te queimar pela janela eu te faria
levantar. Não posso ficar na área
O dia todo".
"Desculpa, sol, fiquei
acordado até tarde falando com Hal".

"Quando acordei o Maiakóvski ele foi
bem mais pontual", disse o Sol
com petulância. "A maioria das pessoas
já acordam querendo ver se vou
dar o ar da minha graça".
Tentei
me desculpar "Senti sua falta, ontem".
"Ah, está melhorando", o Sol falou. "Achei
que você não viria aqui fora" "Você deve
estar pensando porque cheguei juntinho assim"?
"É", eu disse, já começando a ficar todo quente
pensando se ele não estaria metendo fogo em mim
no fim das contas.
"Sendo franco, ô cara, queria dizer que
gosto da sua poesia. Vejo um monte
de coisas por aí e você até que não é mal. Pode não ser
a coisa mais importante sobre a terra, mas
você é diferente. Agora, já ouvi as pessoas dizerem
que você é maluco, eles sendo excessivamente
tranqüilos pro meu gosto, e outros poetas loucos te acham
um chato reaça. Eu não.

Continue mandando ver.

Faça como eu e não dê bola. Você vai perceber
que as pessoas sempre reclamam
do clima, sempre está quente ou frio
demais, escuro ou claro demais, dias
curtos ou longos demais.
Se você fica sem aparecer um dia
já acham que você é preguiçoso ou já morreu.
Continue nesse pique, eu curto.

E não se preocupe com sua linhagem
poética ou natural. O Sol brilha sobre
a selva, tá ligado?, sobre a tundra,
o mar, o gueto. Onde estivesse você
eu já sabia e via você se movendo. Estava te esperando
pra começar a trabalhar.


E agora que você

está tirando os dias pra si, digamos,
mesmo que ninguém te leia a não ser eu,
não precisa ficar deprimido. Nem todo mundo
é capaz de olhar pra cima, nem mesmo pra mim. Machuca
Os olhos deles".
"Ai ai, Sol, estou tão agradecido!"
"Não há de quê e lembre-se que estou de olho. Pra mim é
mais fácil conversar daqui de
fora. Não sou obrigado a deslizar entre os prédios
até seu ouvido.
Sei do seu amor por Manhattan, mas
você devia olhar pra mim mais vezes.
E
sempre abrace as coisas, pessoas a terra céu
estrelas, como eu, livremente e com
um conveniente senso de espaço. Essa é sua
inclinação, conhecida no céu
e que você seguiria até o inferno, se
preciso, o que eu duvido.


Talvez nos falemos
na África, que eu também gosto
especialmente. Agora volte e durma,
Frank, e que eu possa deixar de despedida
um poeminha nessa sua cabeça".

"Sol, não vai não!", eu acordei
enfim. "Não, preciso ir, eles estão
me chamando".
"Eles quem?"
O Sol se ergueu e disse "Um

dia desses você vai saber. Estão te chamando
também" . Sombrio, o sol se levantou, e adormeci.



Tradução: RODRIGO GARCIA LOPES


A True Account of Talking to the Sun at Fire Island

Frank O'Hara


The Sun woke me this morning loud
and clear, saying "Hey! I've been
trying to wake you up for fifteen
minutes. Don't be so rude, you are
only the second poet I've ever chosen
to speak to personally
so why
aren't you more attentive? If I could
burn you through the window I would
to wake you up. I can't hang around
here all day."
"Sorry, Sun, I stayed
up late last night talking to Hal."

"When I woke up Mayakovsky he was
a lot more prompt" the Sun said
petulantly. "Most people are up
already waiting to see if I'm going
to put in an appearance."
I tried
to apologize "I missed you yesterday."
"That's better" he said. "I didn't
know you'd come out." "You may be wondering why I've come so close?"
"Yes" I said beginning to feel hot
and wondering if maybe he wasn't burning me
anyway.
"Frankly I wanted to tell you
I like your poetry. I see a lot
on my rounds and you're okay. You may
not be the greatest thing on earth, but
you're different. Now, I've heard some
say you're crazy, they being excessively
calm themselves to my mind, and other
crazy poets think that you're a boring
reactionary. Not me.
Just keep on
like I do and pay no attention. You'll
find that some people always will
complain about the atmosphere,
either too hot
or too cold too bright or too dark, days
too short or too long.
If you don't appear
at all one day they think you're lazy
or dead. Just keep right on, I like it.

And don't worry about your lineage
poetic or natural. The Sun shines on
the jungle, you know, on the tundra
the sea, the ghetto. Wherever you were
I knew it and saw you moving. I was waiting
for you to get to work.

And now that you
are making your own days, so to speak,
even if no one reads you but me
you won't be depressed. Not
everyone can look up, even at me. It
hurts their eyes."
"Oh Sun, I'm so grateful to you!"

"Thanks and remember I'm watching. It's
easier for me to speak to you out
here. I don't have to slide down
between buildings to get your ear.
I know you love Manhattan, but
you ought to look up more often.
And
always embrace things, people earth
sky stars, as I do, freely and with
the appropriate sense of space. That
is your inclination, known in the heavens
and you should follow it to hell, if
necessary, which I doubt.
Maybe we'll
speak again in Africa, of which I too
am specially fond. Go back to sleep now
Frank, and I may leave a tiny poem
in that brain of yours as my farewell."

"Sun, don't go!" I was awake
at last. "No, go I must, they're calling
me."
"Who are they?"
Rising he said "Some
day you'll know. They're calling to you
too." Darkly he rose, and then I slept.


domingo, fevereiro 11, 2007

MINUTO



lá vem você
se passando por vento
como se ninguém te visse
lá vem você dublando pensamento
como uma praia que sentisse,

pra perto do riso, do risco, do início
das ondas, das dunas do espanto,

lá onde o calar fala mais alto
e onde o momento comemora
com um minuto de silêncio.



(poema de Visibilia, 1996)

quinta-feira, fevereiro 08, 2007



"A prática poética, essa poesia que se pode escrever com maiúsculas, POESIA, é isso ou não é nada. Um projeto de vida, o esforço para definir-se num espaço próprio, a refeitura contínua do ser. A poética não é meia dúzia de versos alinhados numa folha, nem o romance mais bem elaborado da história da literatura, nem a poesia, o cinema, ou o teatro. A poética é minha construção, minha construção outra, diversa da vida morna, regrada, de todos os dias, distinta dessa vida pneumática apenas sonhadas pelas pessoas, num pesadelo, por essas mesmas que dizem que o sonhador é o artista. O artista até pode ser um sonhador. O homem poético não. Ele Faz, quer dizer, ele Vive."


Antonin Artaud

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Meu amigo, o abduzido Jairo Pereira, grande poeta, escritor e ensaísta inquieto e endiabrado, e que manda ver suas porradas literárias lá de Quedas do Iguaçú, acaba de estrear seu site. Tem tudo lá. Vale a pena conhecer. O link tá lá embaixo. Ricardo Silvestrin, poeta de Porto Alegre, também acaba de inaugurar seu "sítio". E Antonio Cícero também estreeou seu blog esta semana. Linkes aí embaixo também.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

ISTO É SÓ PRA TE AVISAR, de William Carlos Williams



Williams Carlos Williams permanece um de meus poetas favoritos. Infelizmente, ainda pouco traduzido no Brasil. Este poema, belo e conciso, parece aqueles recados que a gente deixa na porta da geladeira para lembrarmos alguma coisa na manhã seguinte e evitar supresas desagradáveis. No caso, imaginamos o médico-poeta chegando tarde em casa, depois de algum atendimento, com fome, abrindo a geladeira e se deparando com deliciosas ameixas. Um toque para a esposa de sua "travessura". Uma prova de que tudo, mesmo os acontecimentos mais banais, são matéria para poesia. Tomei uma liberdade com relação ao título original, This is Just to Say ("Isso é só pra te dizer").


ISTO É SÓ PRA TE AVISAR

Comi
as ameixas
que estavam
na geladeira

e que você
provavelmente
guardava
pro café da manhã

Desculpe
estavam uma delícia
tão doces
e tão frias


This Is Just to Say

I have eaten
the plums
that were in
the icebox

and which
you were probably
saving
for breakfast

Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold



Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

domingo, fevereiro 04, 2007

Entrevista fake com J.D. Salinger

Uma das raríssimas imagens de J.D. Salinger, tirada logo após o fim de nessa entrevista.
Reparem que ele tá tentando me bater.


Há três anos a Folha preparava um número apenas com escritores inintrevistáveis, como Dalton Trevisan, Pynchon, entre outros. A mim coube a tarefa de entrevistar nada menos que J.D. Salinger, autor de "O Apanhador no Campo de Centeio". O resultado está ai:



São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004


EXCLUSIVO E FICTÍCIO

Professor de reclusão


J.D. SALINGER, O AUTOR DE "O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO", ANUNCIA UMA SURPRESA PARA 2005 E DIZ QUE TALVEZ NUNCA DEVESSE TER PUBLICADO SEUS TEXTOS

Rodrigo Garcia Lopes
especial para a Folha

A princípio seria uma missão impossível. Afinal, o homem está recluso desde 1953, quando o sucesso mundial de "O Apanhador no Campo de Centeio" (1950) o levou para o exílio na casa no alto de uma colina, em Cornish, no Estado de New Hampshire. Trata-se do único livro de fato importante de sua obra e que, vira e mexe, volta a ser "cult", como seu misterioso autor, J.D. Salinger, 85. Talvez essa nova onda de interesse se dê, agora, pelo trauma pós-11 de Setembro e a sensação de viver num mundo menos seguro. Ou por termos uma geração de jovens cansados de guerra e de mentiras. Talvez exista um pouco de Holden Caulfield (personagem principal do romance) em todo jovem. Afinal, o protagonista do seu famoso livro era um adolescente problemático vivendo nos anos hipócritas e caretas do pós-guerra.
O contato com "o maior recluso da literatura americana", eu sabia, requereria um processo lento e delicado. Ele foi feito por meio de uma professora da Universidade de Nova York que trabalha para a agente literária de Salinger. Minha amiga me preveniu, dizendo que dificilmente ele responderia a meu pedido, mas não custava tentar, já que nos últimos tempos ele andava mais acessível, pelo menos por e-mail. Arrisquei. Meu e-mail foi enviado a sua agente, que se encarregou de passá-lo a Salinger. Dois meses depois, veio o sinal positivo.
No primeiro dos dois rápidos e-mails trocados antes da entrevista, sempre intermediados pela agente, apresentei-me como escritor e jornalista brasileiro que havia sido incumbido de tentar uma entrevista com ele, a primeira para o Brasil. Pedi desculpas pela invasão e disse que tentaria ser o mais breve e direto possível. Argumentei que no Brasil ele possuía uma legião de fãs que não sabiam de sua histórica animosidade com a imprensa e jornalistas americanos. Disse que respeitava sua reclusão e que a considerava um ato heróico em tempos de celebridades.
Salinger escreveu que, por eu ter sido educado e pouco insistente, ele abriria uma exceção. Disse que eu o havia "pego num bom dia" e que responderia a dez perguntas curtas, "desde que não tomassem mais de 20 minutos". Preferiu que eu enviasse cada pergunta e ele fosse respondendo uma a uma. Também deixou claro que esta seria "a primeira e última entrevista concedida a um país de língua espanhola" [sic].

Por que a resistência em dar declarações?
SALINGER: Não nasci pra falar em público, e as pessoas não entendem isso. Isso me mata. As pessoas acham que, só porque escrevi um livro, eu necessariamente tenha que ser uma pessoa falante ou que isso me qualifique automaticamente como orador. A verdade é que eu sou... bem, não quero que se aproximem de mim. Odeio dar entrevistas, como você sabe, embora esteja abrindo uma exceção para o público brasileiro. A verdade é que tenho halitose, por isso não quero que as pessoas cheguem perto de mim. É para o bem delas. Odeio, por exemplo, quando estou fazendo compras no shopping e alguém olha para mim e diz: "Você não é o J.D. Salinger?". Tenho vontade de fazer uma besteira.

Sim, entendo. Que procedimento o senhor costuma adotar nessas abordagens?
Nenhum. Viro as costas. Outro dia fingi que era surdo-mudo, antes de encarar o sujeito e sair da loja. Sabe que funciona? Pode parecer ridículo, mas foi a maneira que encontrei para evitar esse papo-furado estúpido dessa gente inútil. Acho que o mundo seria um lugar bem melhor para se viver se as pessoas tomassem conta de seus próprios assuntos. Tento proteger o que restou da minha privacidade. Quando as pessoas perdem o respeito comigo, seja quem for, para mim está acabado.

Mas, no caso de alguém precisar entrar em contato com o senhor ou o contrário, qual é o procedimento adequado?
Hoje em dia? E-mail. Se alguém quiser me dizer alguma coisa, escreva três linhas e me envie por meio de minha agente. Não há nada que não possa ser comunicado em três linhas, como os haicaístas e budistas sabem muito bem.

O senhor falou do público brasileiro. Há algo que o senhor conheça de nossa literatura? Também poderia mencionar autores americanos que considera importantes?
Por incrível que possa parecer, sim. Mas, para ser sincero, li muito pouco. O fato de eu não saber espanhol limita muito. Sou eremita, mas não sou desinformado... Li "Bras Cubas Latest Remembrances" (acho que é este o título) quando era jovem e também não ponho minha mão no fogo quanto à qualidade da tradução. Do pouco que acompanho de seu país ou que amigos brasileiros de Cornish comentam comigo por algum motivo, gosto de Rubem Fonseca, José Agrappino de Paula [sic], Hilda Hills [sic] e Dalton Trevisan (que conheci na tradução alemã). Entre os americanos, meus preferidos são Laura Riding, Emily Dickinson e Thomas Pynchon.

E o episódio de um site da internet que o senhor fechou por trazer uma centena e meia de citações de seu romance. O senhor não acha que foi uma atitude exagerada?
O problema é muito simples: não abro mão de meus direitos autorais. Não vou ficar alimentando o bolso desses elementos. O problema é que minha propriedade, minhas histórias foram roubadas. Alguém foi lá e roubou. Não é justo. Você não gostaria que eu fosse na sua casa, pegasse seu casaco preferido e caísse fora. É assim que me sinto em relação a isso.

Foi o que aconteceu também quando o senhor entrou com um processo contra a edição não-autorizada dos seus contos ["The Complete Uncollected Short Stories of J.D. Salinger"]?
Exato. Escrevi aquilo faz muito tempo. Nunca tive intenção de publicar aqueles contos e fiquei muito irritado com aquele episódio. O episódio daquela biografia, em que usaram minhas cartas, também me irritou muito. Como você sabe, ganhei as duas causas. Aqueles contos, para mim, já estavam mortos e enterrados. Foram feitos num tempo em que eu estava começando a escrever e precisava desesperadamente publicar. Não estou tentando esconder as fraquezas do meu trabalho, como insinuaram alguns. Simplesmente acho que m... não se publica.

Não que seja minha opinião, mas o que pensa quando críticos escrevem que o senhor é apenas "um recluso querendo atenção", como Robert Neill no "The New York Times" de novembro passado?
Esses imbecis não têm nenhum respeito, são uns estúpidos. Depois dizem que não tenho motivos para preferir me isolar. Vejo toda a estupidez do mundo pela TV e cada vez fico mais apavorado com o que estou assistindo, principalmente agora. Escritores precisam de solidão para poder escrever.

O senhor poderia adiantar algum projeto ou novo livro para os milhares de leitores brasileiros que cultuam sua obra?
Não sei. O que posso dizer é que escrevo todo dia, passo longas horas trabalhando. Tenho um quarto cheio de escritos. Se não publico, é por opção. Também não penso em lançar livros depois de morrer. Mas diria que vocês terão uma surpresa em 2005.

Não é um paradoxo um escritor evitar publicar? Não é exatamente o que todo autor mais deseja no mundo?
Como escreveu Emily Dickinson, "publicar é leiloar a alma humana". Adoro, amo escrever. Mas só para mim. Publicar é uma coisa perversa demais. Veja o que aconteceu no meu caso. Não tenho mais paz desde 1950. Acho que seria um homem mais feliz se nunca tivesse publicado nada. Não publicar me dá uma indescritível paz de espírito, uma sensação de bem-estar. Também recuso-me a dar autógrafos. Quem tem que dar autógrafo são atores e celebridades da mídia. O autógrafo de um escritor, se ele tiver algum caráter, deveria ser sua própria obra.

Sim, mas seu livro teve tanto impacto... Num trecho, Holden afirma que um livro é bom "quando a gente fica querendo ser um grande amigo do autor, para telefonar para ele quando der vontade". O senhor se arrepende de ter escrito isso?
Acho que o senhor não está me entendendo. Vou repetir pela última vez: escrevo para mim e quero que me deixem só. Quero ser deixado totalmente em paz para fazer minha obra. Não existe mais Holden Caulfield. Por que você não vai ler o livro de novo? Está tudo lá.

Gostaria de saber sua opinião sobre o livro de Joyce Maynard sobre os 11 anos que conviveu com o senhor ["Abandonada no Campo de Centeio", Geração Editorial].
Não, agora chega. Eram dez perguntas, isso precisa parar. Já respondi o que tínhamos combinado. Você está começando a ficar inconveniente.



quinta-feira, fevereiro 01, 2007

POEMA (LANA TURNER DESMAIOU!) poema de FRANK O'HARA





Lana Turner desmaiou!
Eu tava apressado pela rua e de repente
começou a chover e a nevar
e você falou que era granizo
mas cara granizo bate com força
na cabeça era neve mesmo
e chuva e eu morrendo de pressa
pra te encontrar mas o trânsito
tava naqueles dias como o céu
e de repente vejo a notícia
LANA TURNER DESMAIOU!
Não tá nevando em Hollywood
Não tá chovendo na Califórnia
Já fui num monte de festas
e dei perfeitos vexames
mas nunca desmaiei de fato
Lana Turner te amamos levanta mulher



FRANK O'HARA





Tradução: Rodrigo Garcia Lopes