segunda-feira, dezembro 16, 2013

Poema na Gazeta do Povo

A Gazeta do Povo abriu suas páginas para a poesia paranaense no último sábado. 

Eu contribuo com o poema "Indo para Casa (Numa Estrada Rumo a Lhasa)", de Estúdio Realidade (7 Letras, 2013). Link aqui:

RESENHA DE "POÉTICA", DE ANA C, NA ILUSTRADA

14/12/2013 - 03h46

Crítica: Antologia de Ana Cristina Cesar traz voz poética única


RODRIGO GARCIA LOPES
ESPECIAL PARA A FOLHA

 

      Se a biografia de um poeta são seus versos, como sugeriu o escritor russo Joseph Brodsky, o leitor brasileiro tem agora acesso a da carioca Ana Cristina Cesar, cuja carreira foi interrompida com seu suicídio em 1983, aos 31 anos.
"Poética" tem o mérito de reunir livros esgotados, como o fundamental "A Teus Pés" (1982), que chacoalhou a poesia brasileira daquela década.
      Voz única entre os poetas de sua geração, Ana C. escreveu uma poesia que se destaca pela inteligência, fragmentação e autoironia, tendo ousado gêneros literários "marginais" como o diário íntimo e a carta, forjando uma poesia imitadíssima pelas poetas que vieram depois. 


Luciana Whitaker/Folhapress
Ana Cristina Cesar em foto de maio de 1975 do acervo do Instituto Moreira Salles do Rio
Ana Cristina Cesar em foto de maio de 1975 do acervo do Instituto Moreira Salles do Rio      

Voz poética que é construída, paradoxalmente, por meio de uma apropriação frenética de outras vozes.
      Se tivesse vivido mais, sua escrita desembocaria no romance, já ensaiado nas prosas poéticas de "Luvas de Pelica" e esboçado nos fragmentos de "O Livro", publicado aqui pela primeira vez.
Seria o caminho natural para uma autora cuja poesia é assumidamente discursiva, invadida pela prosa, que se faz através de um diálogo com outros autores, num tom de falsa intimidade que oscila entre o coloquial e erudito, entre a ficção e confissão.
      Ana C. criou um espaço próprio e uma terceira via na poesia brasileira da época, polarizada entre a poesia concreta e a poesia marginal.
Se para os fãs o livro é uma festa, por outro lado, como é frequente em antologias póstumas, o lançamento nos faz pensar se muitos poemas reunidos no livro passariam pelo crivo rigoroso da autora. 

RODRIGO GARCIA LOPES é autor de "Estúdio Realidade" (7 Letras)
POÉTICA AUTOR Ana Cristina Cesar EDITORA Companhia das Letras QUANTO R$ 48 (504 págs.) AVALIAÇÃO bom

terça-feira, dezembro 03, 2013

Poema para a campanha Descubra o Paraná (RPC TV), de Rodrigo Garcia Lopes

 A RPC TV (Rede Globo-Paraná) pediu um texto para acompanhar estas incriveis imagens usando a técnica "time-lapse" do Pico Paraná, o mais alto do sul do Brasil. A campanha Descubra o Paraná vai colher imagens de pontos selvagens e pouco conhecidos do Estado. O primeiro vídeo já está no ar, aqui:


 

sábado, novembro 30, 2013

Site de Rodrigo Garcia Lopes

Neste sítio plantamos livros, poemas, canções, discos e revistas. Visite:


http://rgarcialopes.wix.com/site

sexta-feira, novembro 22, 2013

CABANA VAZIA (RYOKAN BY RODRIGO GARCIA LOPES)

CABANA VAZIA



cabana vazia

o ladrão esqueceu

a lua na janela



ryokan by rodrigo garcia lopes

quinta-feira, novembro 21, 2013

As iluminações musicais de Rodrigo Garcia Lopes


As iluminações musicais de Rodrigo Garcia Lopes
Jardel Dias Cavalcanti


+ de 700 Acessos


As notas do piano, que abrem solitariamente a décima música do CD, mantendo-se por alguns segundos, servem como guia a nos levar e nos deixar em um estado de suspensão dramático-temporal. Em seguida, a voz grave de Rodrigo Garcia Lopes ressoa pausada e poderosa: "Não diga que você não liga/ a mínima/ pra toda essa/ luminosidade...". A letra da música prossegue até seu término, com a voz de Lopes se sobrepondo à base jazzística do piano, baixo, bateria e violão. A voz desaparece por alguns segundos para que a base instrumental nos carregue novamente para outro estado de suspensão, agora mais dramático, quando, então, a voz de Lopes, mais poderosa e penetrante, nos invade com uma emoção irresistível retomando os versos iniciais: "Não diga que você não liga/ a mínima/ pra toda essa/ luminosidade...".

Assim, é impossível não estar atento a cada detalhe não só dessa música, mas de todo o CD, em que letra, arranjos e projeto gráfico se conjugam para produzir uma experiência onde "o pensamento não se detém em nada/ mas vagueia/ entre cada coisa vívida", como diz outro verso da música "Iluminações".

É uma alegria entrar em contato com um CD autoral como Canções do Estúdio Realidade, gravado por Rodrigo Garcia Lopes, que foge completamente aos formatos enlatados que a indústria musical tem produzido para um público de "cabeças ocas" e "vidas vazias". Aqui o ouvinte deve se deter no tempo que a arte exige para as experiências que só a música e a poesia podem nos dar. Aqui se exige o adeus ao mundo como "fábula de papel".

Rodrigo Garcia Lopes é poeta, tradutor e músico e estas vivências se entrecruzam de forma surpreendente ao longo do CD, trazendo para suas canções referências (diretas ou indiretas) musicais e poéticas (e de outra área como o cinema) caras ao artista. Jazz, Rap, MPB, música pop (Dylan, Lou Reed, Arrigo Barnabé, por exemplo), poesia Beat (e sua tradição formadora com Rimbaud, Keats, Shelley, Baudelaire, dentre outros poetas que com certeza influenciaram o músico, como Augusto de Campos, João Cabral, Sylvia Plath, Leminski, Valéry etc) e música erudita. Esses universos vibram ao longo do disco em pequenos lampejos que se entrecruzam na criação de cada canção.

Além das deliciosas canções, o CD é em si mesmo um belíssimo objeto artístico, com fotos, textos e as letras das músicas, nos fazendo ver que tudo nesse trabalho foi pensado para ser uma conjunção entre as várias artes.

As epígrafes na abertura do CD são pistas dos interesses de Lopes. A principal, uma citação de Dante Alighieri: "Canção: palavras postas em música". Aqui anuncia-se a importância que as palavras têm para o músico, fazendo do universo da criação poética a ponte necessária para que a música exista em seguida. E com certeza essa operação da poesia (já em si música) indica caminhos que as construções instrumentais devem tomar ao longo das composições. Por exemplo, veja-se a música "Vertigem (um corpo que cai)", onde a ideia de uma situação em caracol (a mente enlouquecida) passeia por acordes musicais como cortes cinematográficos em climas que remetem ao cinema de Hitchcock e à poesia simbolista. E a fotografia do encarte reforça a ideia, num caracol que não se completa, cortado vertiginosamente.

Outras epígrafes, como as de Burroughs e Macedonio Férnandez, nos conclamam a retomar o universo (e através da canção isso é possível, pois ela é espaço) e ver a realidade como "aberto mistério", lugar da possibilidade das iluminações. Na canção "Álibi", os versos dizem: "Surpresos no passeio das sílabas /.../ beijamos o momentâneo /.../ e simplesmente somos".

Essas iluminações da realidade aparecem nas fotografias do CD, como no registro de folhas mortas caídas ao chão, numa paisagem ao entardecer, nas marcas de uma velha parede, no brilho luminoso que atravessa um vidro com gotas de chuva, no reflexo de uma Nova York noturna sobre os vidros de um prédio, na explosão de uma onda do mar, na forma contrastante entre flores róseas e folhas mortas ocres.

O conjunto das doze músicas nos faz pensar num universo amplo de "correspondências" entre sons, imagens e palavras. Ressoam aqui e ali, como "tempos reencontrados", a nossa memória, tomada pelos prazeres que músicas, filmes e poesias nos causaram ao longo da vida. Ouvir e retomar a audição do CD é uma exigência para que todos os detalhes se revelem, que todas as conexões sejam feitas, e cada vez que voltamos ao início novas configurações parecem se estabelecer entre todos os elementos das músicas.

São várias as referências musicais que se encontram no CD. Para ficar só em um exemplo, os acordes iniciais de "Alba" remetem à tradição da música mineira de Lô Borges, Milton Nascimento e Beto Guedes, e tanto seu acompanhamento quanto suas letras soam no registro dessa tradição musical. O contrabaixo nos faz pensar imediatamente na sonoridade das gravações de Yuri Popov junto aos músicos das Gerais, como Toninho Horta.

A felicidade do encontro dos excelentes músicos para a criação do CD é notável. O diálogo musical que se estabeleceu pressupõe uma sintonia fina entre a sensibilidade de todos no processo de criação de cada música.

Como exigia Baudelaire para os poemas, que fossem criados pela imaginação livre e lapidados como um diamante, em "Canções do Estúdio Realidade" encontra-se o mesmo princípio. No CD ecoa, como nas iluminuras, o trabalho de músicos-artesãos dotados de grande competência, cujo desejo é revelar em cada detalhe a beleza púrpura das canções, que nos parecem perfumadas pelo imaginativo cheiro do sândalo.


Para ir além:

Visite o blog do artista para ver videos, filmes, noticias de suas publicações, etc:

http://estudiorealidade.blogspot.com.br/

Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 20/8/2013


Mais Jardel Dias Cavalcanti

sábado, outubro 26, 2013

Sobre os bastidores do livro "Estúdio Realidade", no Suplemento Pernambuco

De quando a “realidade” toma posse

Escrito por Rodrigo Garcia Lopes   

Ilustração por Hallina BeltrãoIlustração por Hallina Beltrão
Estúdio realidade(7 Letras, 2013) é meu primeiro livro autoral desde Nômada (2004). Nunca havia ficado tanto tempo sem publicar um livro de poemas. Nesse meio tempo, de 2005 a 2009, fui dar aula na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Depois de Nômada (que são, para mim, três livros em um) senti que havia esgotado o que tinha para dizer em forma de poesia, pelo menos naquele momento. Concentrei minhas energias na música, compondo e preparando o disco Canções do Estúdio Realidade( que saiu este ano, acessável em www.rgarcialopes.wix.com/site) e no romance de detetive O Trovador (a ser publicado no em 2014 pela Record). Também queria dar um tempo de traduções. Senti necessidade de encarar o desafio da narrativa longa e acabei escolhendo o gênero policial. Nunca fui fanático pelo gênero mas, depois de ler e estudá-lo mais a fundo, hoje sou. Ele se passa em 1936, o que complicou ainda mais as coisas. Para mim, escrever O trovador foi como aprender a escrever de novo.

    Os primeiros esboços de poemas de Estúdio Realidade foram saindo aos poucos, no meio desse processo. Poesia é um trabalho de linguagem que demanda tempo. Com o passar dos anos fui ficando mais e mais rigoroso, com a poesia dos outros e principalmente com a minha. Em 2009 ganhei uma bolsa Funarte de criação literária que foi fundamental para o desenvolvimento do livro, pois me possibilitou concentrar nele. O termo “estúdio realidade” foi retirado da obra de William Burroughs (o qual entrevistei para o livro Vozes & visões e cuja obra foi tema de meu mestrado). Refere-se a um lugar onde imagens, informações e representações do mundo “ao vivo” estão a todo instante sendo editadas e manipuladas, de modo a passar ao espectador uma ilusão de realidade e de “agoridade absoluta”. Para mim, é uma metáfora do mundo complexo em que vivemos. Este foi o mote. A palavra realidade já é problemática em si. Do ponto de vista da poesia, a linguagem é a nossa realidade enquanto seres humanos. A operação poética reconstrói a realidade através da palavra. Por outro lado, a realidade num poema nunca é dada, de graça, ela só pode ser conquistada. Pelo autor, e pelo leitor.

      Eu queria discutir, em poemas que explorassem várias linhas discursivas e abordagens poéticas, os limites entre o chamado “real” e sua representação, entre o sujeito observador e a “floresta de signos” que configuram nosso mundo atual. Desde o primeiro livro, Solarium (1994), sempre organizei meus livros em seções. Acho que é um roteiro aberto, uma forma de organizar o caos, definir linhas temáticas e estilísticas. O resultado é um volume de quase 90 poemas e um apêndice: 24 aforismos sobre poesia.

      A primeira seção, Estúdio realidade reúne poemas que tratam da sensação de compressão espaço-temporal causada pela velocidade de informações, num contexto Idade Mídia, em que estamos (mesmo em meio à natureza) cada vez mais mediados pela tecnologia, num mundo “pós-utópico”, digamos. A segunda, Vórtex, traz no plano formal uma exploração de várias formas poéticas. O poema sendo abordado como um amplo campo de possibilidades discursivas. As abordagens poéticas desembocam, por operações textuais distintas, na grande questão: o espaço habitado pela poesia enquanto matéria mental, entre palavra e mundo. Pensagens, a parte 3, traz poemas numa linha mais filosófica ou logopaica (“a dança do intelecto entre as palavras”, na definição de Pound) e que exploram a experiência poética e a “sensação do que acontece” (o termo do neurologista Antonio Damásio para “a consciência da consciência”). Memória, percepção, linguagem e a experiência do estrangeiro, do lugar, são alguns dos “tópicos” abordados nesta parte, se é que podemos dizer assim. O poema como o resultado do atrito entre consciência e mundo, fruto dessa tensão. A ideia de poesia menos no sentido de escrita sobre experiências, e sim escrita como experiências. Finalmente, Quarto escuro traz poemas mais narrativos e que têm como objetivo dialogar com o imaginário, a estrutura e as convenções do gênero da novela de detetive e do romance policial para a poesia. E o livro fecha com 24 aforismas sobre poesia, em que eu reflito sobre a prática poética.

     Busquei, em Estúdio Realidade, uma poesia que seja relevante para nossos tempos, que tenha a capacidade de dialogar com o agora, de estar sintonizada com o mundo globalizado que nos rodeia, sendo capaz de re-significar o mundo à nossa volta. Uma poesia que seja relevante para os dias de hoje, que resgate a percepção, a faculdade de imaginação e de maravilhamento. Que faça do ordinário, extraordinário, e vice-versa. Sem perder o lirismo, o humor. Se consegui alcançá-la, é com você, leitor.


sábado, setembro 28, 2013

"Estúdio Realidade" na Revista da Folha


Reynaldo Damazio escreve sobre o livro "Estúdio Realidade" na "Revista da Folha" de hoje. 

terça-feira, setembro 10, 2013

NOTURNO (poema de Rodrigo Garcia Lopes)



imagem: warren harold



NOTURNO




A gente nunca sabe

saber a mente sempre

intui que seja breve

mesmo que seja a chave

enquanto a mesma febre

conclame à alma acabe

e assim a gente lembre

que negra é a cor da neve






Rodrigo Garcia Lopes.
Poema de "Estúdio Realidade" (7 Letras, 2013)

domingo, setembro 08, 2013

PASTORAL (Poema de Rodrigo Garcia Lopes / Em Estúdio Realidade / 7 Letras 2013)


PASTORAL


A eficiência empresarial e o gerenciamento de produtos têm sido umas das marcas de nosso empreendimento.
Você deve estar brincando.
Reflexos de carros se espreguiçam como gritos.
Mesmo?
Pelo menos uma chance de que nuvens nos distraiam e deem as caras com uma contraproposta plausível para a ampla variedade de profecias.
“Os viajantes não têm pressa de entregar as encomendas”.
 Eixo peixe fonte luz reflexo pixel.
O arvoredo bêbado de cor.
“Por rios digitais celulares bipam madrigais”.
Apesar da silhueta de seu ombro se definir, enfim, entre sonho e devir.
Então de novo a janela, surpresa, natureza-morta.
E havia o vento, subentendido, um figurante.
A ação estava concentrada em detectar detalhes.
Em Solombra aprendera a arte das sombras.
Quanto aos jornais, notícias velhas como uma tela de plasma, absorviam a morte pelos quatro cantos da Rede Sky.
Antenas da roça enferrujam, ideogramas dormindo na luz outonal.
Púrpura até que é uma, mas primeiro você precisa saber do solitário sabor.
Onde o olho pousa é sempre um deus, um dia, ou dois.
Direitos reservados com antecedência para atividades ilícitas.
Você está certo, a ilusão
do ponto de fuga retardou
o surgimento de novos paradigmas. Mas
arquitetos chineses
não desistem jamais de sonhar
suas borboletas estruturas.
Aurora de sangue, um default nas mãos do mundo
Enquanto signos piscam de premonição, já ausentes de
Deus ou de qualquer textura. Neste lugar
nomes desertam
do mesmo modo como a água sequestra
as árvores nas margens, percebe?
E ainda é domingo.


 Pastoral de Outono (François Boucher)




















quarta-feira, setembro 04, 2013

RIME (poema de Rodrigo Garcia Lopes)


RIME

You are the music while the music lasts.
T.S. Eliot


Nessa linguagem lenta eu tatuo
Nada e tudo o que não suo:
Não solitude, mas um duo.

E não é banal o que persegue essa rima
Que ecoa, pássaros, no ouvido da fala.
Não está na sala, mas um andar acima.

Irmã do ritmo, nunca fuja de mim,
Eu a quero surpreendendo sempre
E acontecendo mesmo onde não existe.

Reitera sua verdade, música do pensamento,
Revela pelo milagre do deslumbramento
E não fica só um só momento.

Se você é incapaz de ouvi-la, e se
Juntas não formarem acordes deve ser
Porque não a traz dentro de você.

É isso: ela é um acorde,
Um beijo de coisas, a tarde
Traduzindo-se em jade.

Como rimam ao se repetirem
Lua e lago, ou os olhos de quem
Nos mira agora, de amor refém.

Você não pode perder.
Isso ecoa simples até não poder.
Quando for ver já está pensando você. 




Rodrigo Garcia Lopes.
Poema do livro "Estúdio Realidade", 7 Letras, 2013.

terça-feira, agosto 20, 2013

ESTÚDIO REALIDADE NO SITE DA REVISTA CULT



Realidade fabricada

Rodrigo Garcia Lopes lança seu novo livro de poesias, “Estúdio, realidade”, no Espaço Revista CULT

"Estúdio, realidade" é o mais recente livro de poesias de Rodrigo Garcia Lopes
Amanda Massuela
Desde 2004, quando publicou Nômada, o poeta Rodrigo Garcia Lopes não lançava um novo livro de poesia. Passou os últimos sete anos trabalhando em O Trovador, romance policial de fundo histórico que se passa em 1936, durante a colonização do norte do Paraná, seu estado de origem. Sentia que havia esgotado tudo o que tinha a dizer, em termos de linguagem poética. Em meio ao processo de construção do enredo e das personagens do seu primeiro romance, Rodrigo produzia alguns poemas, em ritmo desacelerado. “Estava esperando ter uma produção vigorosa e que também tivesse algo a dizer”, conta.
Tais poemas estão reunidos no livro Estúdio, realidade, lançado ontem (19/08), no Espaço Revista CULT. Além de poeta, Rodrigo também é músico, compositor, jornalista e tradutor – e, em certa medida, todos esses ofícios influenciam seu trabalho poético. Aos 11 anos começou a arranhar o violão e aos 14 já escrevia suas próprias canções. Em 2001, lançou o álbum Polivox, uma mistura de canções, poemas falados e trilha sonora. “Nessa época eu me aborreci um pouco, porque os músicos diziam que eu tinha lançado um trabalho de poesia e os poetas diziam que eu tinha lançado um trabalho musical. A ideia era justamente romper com essas barreiras”, admite. “Prometi para mim que o próximo disco que eu lançasse teria a palavra ‘canções’ no titulo.”
Junto ao livro Estúdio, Realidade, Rodrigo cumpriu a promessa ao lançar o disco Canções do estúdio realidade, mas apesar da aparente semelhança, ele afirma serem trabalhos distintos. No livro, dividido em quatro partes, seus poemas surgem em diferentes estilos, formas e linguagens. Há haicais, poemas narrativos, fragmentados, filosóficos.
Entre algumas xícaras de café, ele conversou com a reportagem da CULT sobre seu novo livro.
CULT – O nome do livro, Estúdio, realidade, faz referência ao escritor norte-americano William S. Burroughs. De onde vem essa relação e por que ela nomeia o livro?
Rodrigo Garcia Lopes - Essa é uma expressão que o William Burroughs usa em três romances mais experimentais: “Assaltem o estúdio realidade e retomem o universo”. Essa frase aparece várias vezes nos livros dele. Dentro da sua ficção, o estúdio realidade é uma espécie de lugar onde a realidade é fabricada, não se sabe muito bem o que é ficção e o que é, de fato, realidade. Na verdade, é uma crítica à manipulação dos meios de comunicação de massa, antevendo os dias de hoje. Dei esse título ao meu blog, em 2007. Uso Estúdio, realidade como se fosse uma metáfora para o mundo que vivemos hoje. É o planeta todo. Vivemos num grande estúdio realidade onde as relações estão cada vez mais complexas, com a tecnologia, a velocidade, a informação, os meios de comunicação de massa. Acho que o termo dá a ideia da complexidade do mundo. Estúdio realidade também é o lugar em que o poeta fabrica, usa a realidade para fabricar novas realidades.
É como se você tentasse desconstruir a realidade para construí-la por meio da poesia?
Isso mesmo. A poesia tem esse poder transfigurador da realidade através da linguagem e acho que tem um pouco de crítica ao mundo. Em vários poemas eu toco nessa questão da simultaneidade das coisas; da natureza e da cultura cada vez mais distantes. Há poemas em que eu revisito o gênero pastoral num ambiente completamente tecnológico, com o discurso da publicidade. A poesia incorpora o fato de que somos inundados por vários discursos o tempo todo. As mesmas palavras que a gente faz poesia são as palavras que a publicidade usa para vender, para informar, para distorcer. Trabalhamos com a matéria suja, que é a palavra, suja de história. No livro, há menção a vários lugares ao mesmo tempo. Ele joga com a ubiquidade, com o fato de que hoje você pode, virtualmente, estar em vários lugares ao mesmo tempo; com a velocidade de informação. Tentei incorporar tudo isso na poesia que estou fazendo.
A própria estrutura do livro reflete um pouco isso, não é? Ela se divide em “Estúdio realidade”, “Vórtex”, “Pensagens” e “Quarto Escuro”. Como essa divisão foi pensada?
Sempre dividi meus livros em seções. É uma maneira que eu achei de organizá-los melhor. Sempre pensei os livros assim – talvez por influência da música -, como se fossem quatro movimentos de uma mesma obra musical. Tentei agrupar, em cada seção, poemas que dialogam entre si ou que tem uma pegada em comum. A primeira parte tem poemas mais fragmentados, que refletem o estúdio realidade, a simultaneidade da descontinuidade do mundo atual. Na “Vórtex”, há poemas de vários estilos poéticos: haicai, oriki (que é uma forma de poema oferenda africano), alba (que vem da tradição provençal). Tem poema com rima que remete ao Dante, poemas que remetem à poesia oriental. Nessa parte há poemas com várias poéticas diferentes. Em “Pensagens” há os poemas mais filosóficos, maior preocupação com a consciência, investiga mais a percepção, a relação da palavra com a realidade. São poemas mais meditativos. A quarta parte, que é “O quarto fechado” – e o quarto fechado dentro do gênero policial é uma espécie de enigma -, eu concentro os poemas que foram influenciados pela minha experiência escrevendo um romance policial, seja na forma de poemas mais narrativos, que contam algum tipo de mistério, ou poemas que tem alguma coisa de investigação. Há também um apêndice, que são 24 aforismos sobre poesia, uma maneira de refletir sobre o próprio ato de escrever.
Essas estruturas que compõem o livro são bem diferentes entre si. Você já disse que algo que você tenta combater desde o início da sua carreira é a ideia de coesão, de unidade. Esse livro também acaba seguindo essa forma…
Desde que comecei a escrever nunca fui um poeta de um estilo só. Há poetas que têm uma pegada, um tipo de escrita e linguagem que são mais ou menos estáveis. Eu sempre fui um franco atirador. Sempre gostei de pesquisar todos os tipos de poetas de outros tempos e, por ser tradutor, traduzi muita gente de diferentes tradições poéticas, algo que acabei incorporando na minha própria poesia. Acho que a poesia é um espaço da liberdade de linguagem supremo. Nós temos um passado riquíssimo de formas poéticas que devem ser revisitadas, refeitas e repensadas para o contexto atual. Nunca abri mão da multiplicidade. Há um livro meu que se chama Polivox, que são várias vozes. Nunca acreditei na ideia do poeta como um sujeito único, fixo. Ele se metamorfoseia a cada poema que escreve. Nunca tentei engessar a minha voz poética num estilo só. Talvez essa diversidade toda acabe sendo uma marca do meu estilo. Sempre quis que o leitor passasse de um poema para o outro e se perguntasse se o mesmo poeta tinha escrito os dois. Queria surpreender o leitor dando a ele uma série de possibilidades de poéticas que o “eu” pode assumir na escrita. Essa acaba sendo a minha forma de dar unidade. Essa multiplicidade toda também não deixa de ser típica da pós-modernidade, das múltiplas influências, do apelo nostálgico de revisitar algumas formas antigas. No livro, há um poema em provençal. Há coisas bem antigas – mas, muitas vezes, jogadas num contexto bem contemporâneo. E esse atrito me interessa bastante.
Você também é músico e compositor. Como essas atividades interferem no seu trabalho poético? Tem como separar o músico do poeta?
Para mim, está ficando cada vez mais difícil de escrever poesia. Com o tempo você vai ficando mais rigoroso. Eu sempre fui um leitor crítico de mim mesmo. A música é mais complicada ainda, pois exige não só a linguagem verbal, mas a linguagem musical. Costumo dizer que a composição é uma simbiose entre voz, música e palavra. Envolve uma alquimia bem mais complexa do que a escrita de um poema. Fazer uma canção é muito mais difícil que escrever um poema, porque ela sai com muito mais trabalho, demora muito mais tempo e produzo num número muito menor do que gostaria. Mas desde que eu comecei a escrever, a música teve um papel muito grande. Quando eu era adolescente escrevia ouvindo jazz, música clássica. Sempre fui apaixonado pela música popular brasileira e seria até natural que, escrevendo poesia, em algum momento eu fosse cair na composição – até porque essa proximidade dos poetas com o universo da música é uma tradição da cultura brasileira.
E quais são os seus próximos projetos – na música e na literatura?
Estou esperando o lançamento do meu romance, O Trovador, que sai no começo de 2014. Continuo fazendo shows de divulgação do CD – acabei de fazer Curitiba, Rio, interior de São Paulo. Também estou começando outro livro, que se chama Experiências Extraordinárias, um livro de poemas.
Estúdio, realidade
Rodrigo Garcia Lopes
Editora 7Letras
136 págs. – R$ 35,00