sábado, janeiro 26, 2008

BELEZA: PROCURA-SE (ensaio de PAULO LEMINSKI)



Perguntaram a Aristóteles

O que era a beleza.

Ele respondeu:

— Isso é uma pergunta para cegos.

1

A perfeição da vida das coisas é ser objeto da nossa percepção.

A percepção é a glória das coisas.

O mundo e sua famosa aparência existem para os ouvidos, olfato, paladar, tato e olhos do homem.

2

Primeiro, utilidade.

Depois, beleza.

Serem belos é a destinação final de todos os seres.

Só sendo apreendidos segundo a modalidade da beleza os objetos e fenômenos do mundo estão a salvo da violência contínua e permanente que o homem pratica sobre eles.

A fruição da beleza é um ato pacífico.

De integração do percebedor com a coisa percebida.

Sem conflitos.

3

A experiência estética do mundo é a experiência humana última.

A estetização é uma humanização das coisas, uma erotização.

Belos para o homem são, primeiro, os pontos de atração sexual do corpo e seus objetos culturais.

Ao molde destes, o mundo se embeleza, adquire aquela qualidade única (não há substituto para a beleza) que nos faz dizer que são belos.

As montanhas são belas à semelhança de seios, coxas e nádegas.

As árvores, à imagem do pênis ereto.

O artefato foi belo antes da paisagem.

O canto foi belo antes do nascer do sol.

4

A arte é uma intensificação da experiência.

Por isso, a beleza se concentra nela.

A beleza é o lugar da intensificação do prazer.

Deste prazer, brota uma consciência nova.

A existência de uma obra de arte perfeita é denúncia da sociedade, que não apresenta uma perfeição igual à dela.

Qualquer beleza é contra toda a feiúra do mundo, da qual ela é uma fração libertada.

5

A beleza parece ser algo que se passa com o sentido.

Ela é a plenitude física do sentido.

6

Neste mundo, só a beleza faz sentido.



PAULO LEMINSKI

Publicado originalmente no Correio de Notícias, Curitiba, 2º Caderno, 1986

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