Perguntaram a Aristóteles
O que era a beleza.
Ele respondeu:
— Isso é uma pergunta para cegos.
1
A perfeição da vida das coisas é ser objeto da nossa percepção.
A percepção é a glória das coisas.
O mundo e sua famosa aparência existem para os ouvidos, olfato, paladar, tato e olhos do homem.
2
Primeiro, utilidade.
Depois, beleza.
Serem belos é a destinação final de todos os seres.
Só sendo apreendidos segundo a modalidade da beleza os objetos e fenômenos do mundo estão a salvo da violência contínua e permanente que o homem pratica sobre eles.
A fruição da beleza é um ato pacífico.
De integração do percebedor com a coisa percebida.
Sem conflitos.
3
A experiência estética do mundo é a experiência humana última.
A estetização é uma humanização das coisas, uma erotização.
Belos para o homem são, primeiro, os pontos de atração sexual do corpo e seus objetos culturais.
Ao molde destes, o mundo se embeleza, adquire aquela qualidade única (não há substituto para a beleza) que nos faz dizer que são belos.
As montanhas são belas à semelhança de seios, coxas e nádegas.
As árvores, à imagem do pênis ereto.
O artefato foi belo antes da paisagem.
O canto foi belo antes do nascer do sol.
4
A arte é uma intensificação da experiência.
Por isso, a beleza se concentra nela.
A beleza é o lugar da intensificação do prazer.
Deste prazer, brota uma consciência nova.
A existência de uma obra de arte perfeita é denúncia da sociedade, que não apresenta uma perfeição igual à dela.
Qualquer beleza é contra toda a feiúra do mundo, da qual ela é uma fração libertada.
5
A beleza parece ser algo que se passa com o sentido.
Ela é a plenitude física do sentido.
6
Neste mundo, só a beleza faz sentido.
PAULO LEMINSKI
Publicado originalmente no Correio de Notícias, Curitiba, 2º Caderno, 1986
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