sexta-feira, novembro 27, 2009

VISÃO É PÓ (JACK KEROUAC, traduzido por Rodrigo Garcia Lopes)



Visão é pó,

Deve obedecer, e só.


O fogo se assanha

Em ígneas façanhas.


A água da lua

Logo surge, se situa.


O vento no matagal

É brisa mental.


O espaço no soalho

Ficou sujo de lago.


A mente, só,

Introduziu o osso.


Única mente

Chama tão gentil.


A mente é o mar

Fez a água concordar.


O vento acorda frio

De seu sono vazio.


Ausente de espaço

A mente, estado de graça.



JACK KEROUAC

Tradução: RODRIGO GARCIA LOPES

quarta-feira, novembro 25, 2009

LANÇAMENTO DO CD DA KAREN DEBÉRTOLIS


Minha amiga, Karen Debértolis, poeta, lança na próxima sexta seu CD A MULHER DAS PALAVRAS. É na sexta-feira, 27 de novembro, `as 20h, na Casa de Cultura da UEL/ Artes Plásticas (Av. JK, 1973). Link para as músicas: http://www.myspace.com/karendebertolis
Karen vai estar acompanhada, no show ao vivo com a banda formada por Fillipe Barthem, Rafael Fuca, Mizão e Leonardo Cacione.

AO COIOTE (Jorge Luis Borges, tradução Josely Vianna Baptista)


Século a século a areia infindável
Dos diversos desertos têm sofrido
Teus passos numerosos e o ganido
De chacal cinza ou hiena insaciável.
Por séculos? Eu minto. Essa furtiva
Substância, o tempo, não te alcança, lobo,
Teu é o puro ser, teu é o arroubo,
Nossa, a torpe vida sucessiva.
Foste um latido quase imaginário
Nos confins do Arizona, nessa areia
Onde tudo é confim, e se incendeia
Teu perdido latido solitário.
Símbolo de uma noite que eu possuía,
Seja teu vago espelho esta elegia.



JORGE LUIS BORGES
Tradução: Josely Vianna Baptista

terça-feira, novembro 24, 2009

PÉROLA DE PERLOFF


"Não ser além de seu tempo, mas apenas de seu próprio tempo. E por isso minha principal crítica hoje é em relação a falta de interesse no aspecto sonoro e visual da maior parte da poesia que aparece sobre minha mesa. É como se o som não existisse e que 'verso livre' fosse apenas prosa preguiçosa".



Marjorie Perloff, em trecho de entrevista a mim, 2006.

domingo, novembro 22, 2009


o sangue pesa
menos que um relâmpago

a alma sulca
solidões sombrias

a primavera arde
sua última chuva




Rodrigo Garcia Lopes

quarta-feira, novembro 18, 2009

NUM CAMPO DE REFUGIADOS (dreamscape 2)


Tudo deve se passar nos meses que se seguem ao fim da segunda guerra. Perdi meu corpo na batalha, mas me deram um outro, imenso e desengonçado, cheio de tatuagens e cicatrizes, que eu estudo num espelho, como quem lesse um livro. Devo estar em algum campo de refugiados, numa cabana caindo aos pedaços, que divido com um soldado de nacionalidade indefinida e uma moça que só se comunica por sinais e que com certeza foi estuprada centenas de vezes. Ela está cheia de hematomas e marcas de picadas nos braços. Ela tem medo do soldado, ele a ameaça a estuprar novamente. Da cabana, pela janela, vejo os soldados americanos dançando em volta de uma fogueira, bebendo, como uma fraternidade de filmes de Hollywood. Um homem parecido com Ezra Pound passa por ali. Dizem para que eu não me aproxime dali, e xingo quem disse isso, em russo, embora não a veja a pessoa. Deve ter sido o Pound, que está com um rosto sofrido e arrasta um cobertor enlameado. John Wayne lidera a cantoria. Idiota. Fecho a janela e ela desaba do lado de fora. Tenho em meu pulso um relógio que também deve ter pertencido ao corpo do morto em batalha, o corpo que perdeu a vida e que foi dado a mim, como algum prêmio sinistro por ter dado o meu corpo na batalha. Só não me perguntaram se eu queria este prêmio. Eu preferia ser pura alma. Olho novamente para o visor do relógio digital. É um relógio especial, e também parece ter sido atingido por estilhaços de bomba. Aperto um pequeno botão e imagens a princípio riscadas e trêmulas começam a aparecer. São cenas de guerra, de cidades devastadas, de imensos exércitos se movimentando pela neve, e muitas pilhas de cadáveres sendo incinerados e varridos da existência, para que desocupem o campo de batalha e permitir o avanço das tropas. As cenas se tornam embaçadas, no visor riscado, mas reconheço muitos de meus companheiros pegos no momento da morte. No exato instante em que estou vendo estas cenas no pequeno visor, tentando entender o que aconteceu comigo, meu companheiro de cabana entra e desligo o relógio. Ele franze a sobrancelha, sei que desconfia de mim, por não saber minha nacionalidade, mas não posso me revelar, nem eu mesmo sei a que exército pertenço. Sei que estamos esperando a transferência para uma região mais ao norte, quem sabe Sibéria. Eu pareço uma mistura de índio com esquimó. Sei que sou muito forte, como uma espécie de soldado mutante. Sei que sou precioso, talvez um agente secreto cujas informações foram apagadas através de uma lavagem cerebral, mas quem me deu este corpo tentou apagar as pistas para que eu não descobrisse minha verdadeira origem. Mas as pistas estão em mim, inscritas em cada centímetro de minha pele dura como a de um crocodilo. Meu companheiro de cabana desconfia de mim, quem sabe, por não acreditar como um homem com tantas cicatrizes e hematomas (algumas delas repartem minha carne ao meio) conseguiu sobreviver a tudo isso. Mas sobrevivi. Tento me comunicar com ele mas ele é um camponês bruto e só pensa em cheirar cocaína. Ele se senta numa cadeira caindo aos pedaços, estende duas carreiras gordas e me convida. Tento ser solícito e aceito apenas uma vodka, que ele despeja num copo fétido., até a boca. A moça está presa por uma algema numa das pernas da cama e me lança um olhar de súplica. Cortaram sua língua. Ela ainda sangra no chão do quarto.
O piso da cabana é de madeira podre, e ele cede a cada passo, dando a impressão de que a qualquer momento o escuro espaço por debaixo vai nos engolir. Olho novamente para o relógio, fora do alcance do olhar do bruto camponês, e penso que ele na verdade ele está mais para um checheno, ou até mesmo um turco, pelos seus traços e pele escura. Ele sai novamente e ligo para Maurício vir me pegar. Maurício atende e diz que está com Bernardo. Ambos estão indo para uma festa. Eu digo, filhos da puta, eu me fodendo neste sonho, no corpo de um homem que não conheço, e vocês indo se divertir. Maurício desliga o telefone na minha cara e ligo novamente. É um daqueles telefones militares, usados para passar mensagens em meio a campo de batalha. Maurício atende, soltando uma gargalhada. Outras pessoas estão rindo dentro do carro que ele dirige, e uma das risadas eu reconheço como sendo da moça que eu namorava até ser convocado para esta guerra insana. Peço sua posição, dou as coordenadas, usando todo o jargão militar, e, pelo que ele me diz, não está distante de Kiev, o bairro de refugiados onde me encontro, o bairro onde decidiram guardar os homens dos exércitos sem pátria, enquanto decidem o que fazer conosco. Insisto com ele, digo que não custa nada ele vir me pegar, e ele finalmente se convence que o melhor a fazer é me resgatar. Aviso que eles não irão me reconhecer pois eu perdi meu corpo original, estou usando o corpo de um homem grandalhão que perdeu a vida na guerra. Um selvagem. Descrevo-me para que ele me reconheça quando eu estiver na esquina bombardeada onde combinei o encontro. Explico que deram-me este corpo substituto porque eu não merecia ter morrido. Maurício passa as informações para Bernardo, e mesmo ele tendo abafado o bocal do fone, escuto as risadas altas do grupo dentro do carro. Filhos da puta. Não acreditam em mim. Enquanto espero o jipe militar me aproximo do espelho grande e quebrado do quarto da cabana puída e fico estudando as estranhas tatuagens que trago pelo corpo todo, e tento descobrir a origem do homem que forneceu a matéria-prima física para eu continuar existindo.
Um sinal de Rosa-Cruz nas costas. Uma serpente imensa em meu braço esquerdo. O nome de uma mulher em cirílico.

A porta da cabana se abre novamente, não é ninguém. Mesmo assim, pressinto que alguém entrou, quem sabe uma alma. Sinto uma lufada de ar. Quem sabe a
minha alma. Olho novamente para o relógio e vejo no visor mais cenas do conflito que acaba de acontecer, e percebo que eu estava do lado dos que perderam a batalha. Ainda escuto os soldados americanos em volta da fogueira, cantando canções estúpidas, liderados por um John Wayne de mais de dois metros de altura. Mas eu me olho no espelho e vejo que meu aspecto é grotesco o suficiente para meter medo em qualquer um, até em mim mesmo. Meu cabelo negro e espesso se cola em minha testa. Não devo tomar um banho há alguns meses. Meu cheiro me enjoa. Mas não há água em lugar nenhum. Os meus músculos doloridos, eu sei, trazem uma história de violência. Tenho a absoluta certeza, naquele momento, de que matar, para mim, é algo que já devo ter feito muitas e muitas vezes. Se ao menos eu pudesse me lembrar. Me concentro em meu objetivo naquele instante, que é odiar Jolhn Wayne e decido que o canalha merece morrer. Acho que posso fazer isso antes de Mauricio chegar. Ele e todos os soldados americanos sorridentes cantando suas cançõezinhas estúpidas. Mato a vodka toda, bebo direto no gargalo e jogo a garrafa no espelho que não precisarei mais usar. Parece água para mim. O que estou fazendo agora é carregar meu imenso corpo e ir em direção à fogueira, sob os olhos assustados dos que me vêem passar, inclusive meu companheiro de cortiço, que chega arrastando sua prisioneira como uma boneca de pano puído, quando a buzina do jipe toca do lado de fora da cabana. Vieram para me pegar. Danem-se. Decido que a prioridade é liquidar John Wayne e aqueles soldadinhos gringos de merda, aqueles cuzões. Eles vão pagar caro por terem me acordado. Deviam saber que odeio a luz do sol.



Sonhado na mente em 18/11/2009

ASSIM CAMINHA A FILOSOFIA


TO BE IS TO DO (Descartes)


TO DO IS TO BE (Sartre)


DO BE DO BE DO (Sinatra)




compilado por

GREGORY CORSO


segunda-feira, novembro 16, 2009


"Quando perdemos uma pessoa que a gente sente como muito importante para nós e para o mundo, uma coisa que a gente deve tentar fazer é como que se transformar um pouco nela, para que ela possa viver através de nós".


Belas palavras de
José Miguel Wisnik, no seu livro Sem Receita

BALADA LITERÁRIA 2009

Esta semana começa a segunda edição da BALADA LITERÁRIA, capitaneada pelo Marcelino Freire. A programação tá muito legal. Link aí do lado. Eu participo de uma mesa no dia 20, às 14:30, na Livraria da Vila, num bate-papo sobre a poesia e prosa latinoamericanas. A mesa será mediada pelo Frederico Barbosa, e terá Claudio Willer e o venezuelano Léo Felipe Campos.



domingo, novembro 15, 2009

De um diário antigo



"Lembra daquele entardecer, em que ficamos vaiando o crepúsculo, xingando as nuvens, enquanto nossos corpos passeavam no infinito, brincando de envelhecer?"



AGHARTA (Rodrigo Garcia Lopes)




No rosto das sombras arrecio, spray, salito.

Espaço maciço e sem estrelas, presença no avesso

de si mesma, fulgor de ossos, unipensamento.

Sefiras ardem em vazios — névoa muezin

dobra-me e

se me-

dita. Nossos gestos sobrepostos escapam

(emblema de instantes).

A praia rege ondas com seus acenos de ventos,

sua corola ocular:

áspero, acre olor de enquanto.

Rastilho de vagalumes acesos (ao tocá-los).

O movimento queima.

O arder do corpo impermanece. Dispara

no som que bebe o estampido rouco (eco)

de sua imagem (sem sentido). O corpo, nomádico,

imprime lucilâncias

no ombro do Céu, asceta.






Rodrigo Garcia Lopes (Visibilia, Travessa dos Editores, 2005)

quinta-feira, novembro 12, 2009

MEU PESADELO AMAZÔNICO (dreamscape 1)


Estou em Manaus tentando pegar o avião para os Estados Unidos. Já não tenho tempo hábil para chegar a tempo do primeiro dia de aulas. Descubro que tenho que pegar o voo em Guarulhos. Mas não tem ônibus nem voo para São Paulo, só para Curitiba. Desisto, não quero ir para Curitiba de jeito nenhum, depois percebo que seria uma ótima opção, mas já é tarde. Atravesso o Amazonas numa barca bastante precária mas em alta velocidade com líderes do PSDB, dirigido por um português que não fala a minha língua. Os líderes do PSDB não falam comigo, parecem não entender o que eu digo, na verdade o que eu quero é uma carona no avião fretado deles para voltar para São Paulo (eles devem ter algum avião fretado). Um intenso cheiro de fritura emana do outro lado do rio. Pouco a pouco os líderes do PSDB vão se suicidando nas águas barrentas do Amazonas, enquanto elogiam as melhorias que estão fazendo. Não entendo nada. Tenho medo do Serra, que não pára de olhar para mim. Ele parece querer meu sangue. Existem ondas gigantes, artificiais, criadas para estimular o turismo local. Seguem discursos. As ondas chegam com tal força na margem que fazem as ondas da pororoca parecer miniaturas. Música breganeja escapa dos alto-falantes. Não gosto nada do tamanho e do aspecto das ondas. Quando vou comentar isso com meu guia, ele desapareceu.

O calor é frio. Sinto calafrios. Waldir Aguiar surge novamente, como na noite passada, para dar uma força, gritando da margem do rio, mas não consigo ouvir, e a barca já avança o grande Rio. Quero saber quem é o responsável pela produção do sonho. Não há ninguém para perguntar. O barco chega sozinho, apenas comigo. Pára sozinho e o motor desliga ao tocar terra firme. Do outro lado do rio está sendo realizado um simpósio de poesia portuguesa onde ninguém fala nada com nada. Umas figuras esquisitíssimas. Estou do outro lado do rio, numa cidade ou vila que não sei onde é. Árvores imensas e sem nome rufam sobre minha cabeça. Parecem querer dizer alguma coisa. Tento tirar fotos. A máquina digital está estragada, entrou água. Pego um carro-barcaça que vai passando a toda velocidade por curvas cheias dágua do Amazonas, por vilas, casas, construções em ruínas. Botos selvagens ficam o tempo todo cutucando o casco do nosso carro-barco. Alguns deles aproveitam as ondas imensas do Amazonas e surfam com destreza. Vejo seus corpos se movendo sob as ondas imensas. Com o impulso, chegam até as praias do rio, deslizam e param em terra, com guinchos. Uma multidão se aglomera para ver o fenômeno. Acham os botos "bonitinhos", crianças e mulheres, mas em seguida começam a cravar estacas e a matá-los, furiosamente, com os dentes cerrados, soltando uivos de prazer. Percebo que a multidão está na verdade faminta ou possuída por uma doença que as torna violentas e egoístas. Ah, então é por isso, penso, que estão todos isolados aqui nesta vila, ou indo para cá. A população se junta para fatiar pedaços dos botos cor-de-rosa imensos, que soltam gritos lancinantes. Todos brigam entre si. Famílias inteiras se debatem. Em seguida, outros botos começam a chegar, botos gigantes, furiosos, da cor de sangue desta vez, usando as ondas que chegam às margens para ganhar potência e precisão: chegam usando seus bicos como armas e cravando-as na cabeça e membros das pessoas em terra, as assasinando. Sangue. Os golpes são certeiros. A cena toda é horrível.

Vou novamente ao porto (não sei como cheguei ate lá) e digo que quero voltar para Manaus. Manaus estava ótimo comparado com isto. Nem penso mais em voltar para os Estados Unidos. A esta altura, meus alunos americanos já me denunciaram à direção da universidade. Penso que São Paulo já está de bom tamanho, isto é, se eu conseguir chegar lá. A única pessoa que trabalha no porto é um senhor que me diz, com sarcasmo, mostrando os dentes podres, que só consegue um barco se eu tocar três músicas. Menos "Rita", do Chico Buarque, ele diz. Ele se parece com o cara de alguma ordem dos músicos. Não é o Caronte. É o único funcionário por ali. Não há passageiros para embarcar. Abro a caixa do violão, que surgiu misteriosamente em minha mão direita, e as cordas se arrebentam de uma vez, menos o mizão. Xingo a mim mesmo, fujo dali e volto para o simpósio de poesia portuguesa, que se realiza numa espécie de hospital em decadência. De repente, penso, consigo uma carona por lá. Um cara esquelético com cara de Saramago me pede crachá do evento. Me livro do velhote com cara de múmia com um safanão e entro num quintal onde pessoas jogam futebol com frutas tropicais já meio despedaçadas. Penso que posso me disfarçar por ali, ninguém vai perceber minha presença. Ledo e Ivo engano. Descolo um grande cobertor amarelo e tento usá-lo como para-quedas, parapente ou o que quer que seja. A ventania é forte o bastante para me levar dali, pelo ar. Ganho alguns metros acima do solo. Desisto da ideia rapidinho, pois a altura pode me matar e eu posso cair em plena floresta amazônica. Alguns portugueses percebem que estou tentando fugir e me pegam pelo pé. Desisto do plano e volto a jogar o futebol caótico. Só então percebo que algumas frutas na verdade são cabeças. Humanas. E de botos cor-de-rosa. Alguém avisa que uma parte da delegação de Guiné-Bissau e dos Açores acaba de chegar. Eles entram no hospital precário que é usado para o evento enrolado em sacos plásticos de lixo, panos sujos, cobertores, e em cadeiras de rodas. Não vejo sequer seus olhos. Está um calor infernal, mas mesmo assim eles não tiram os cobertores. Passam por mim em cadeiras de rodas que se movimentam sozinhas. Parecem monges de alguma seita demoníaca. Resmungam em uma língua que não se parece com nada com o português, feita apenas com consoantes. Penso no motivo dos portugueses maltratarem tanto as vogais. Não obtenho resposta. Parecem andrajos de uma pintura de Bruegel. Só que estão em cadeiras de rodas que se movimentam sozinhas. Uma Juliane Moore velhíssima tenta falar comigo. A ignoro solenemente. Volto para a sala onde está sendo discutido algum aspecto semiótico da poesia ribeirinha de Maria João Carapinha e fico quieto. Tentando ganhar tempo. Pensar em outra saída. Uma mulher me descobre ali e me chama com o dedo que se transforma num gancho assustador. Dentro de uma sala, que parece ser de tortura, ela anuncia que estou sendo procurado pelo meu orientador de doutorado. Explico que já terminei o doutorado há anos, mas ela parece não me ouvir. Aliás, ninguém parece me ouvir. Todos no simpósio me olham, furiosos. Descubro o motivo: no último encontro, embalado pelo álcool, eu tirei sarro de uma marca de iogurte que financia o evento e então decidiram suspender minha bolsa. E eles tem as imagens que me denunciam. Dizem que vou pagar caro com isso. Eu ameaço denunciá-los por maus tratos aos botos. Os banheiros. estão fechados. Nenhum telefone público funciona. Parece que estou na vida real. A direção do evento começa a me perseguir. Tento achar a saída de volta. Mas não encontro. Faz muito calor aqui no Amazonas. Prometo a mim mesmo que nunca mais lerei Saramago. Aliás, nunca li. E isto me reconforta. Olho para o céu, o sol começa a cair, da mesma cor dos botos cor de sangue. Não sei o que vai acontecer nos próximos minutos. E nem sequer tenho fotos para mostrar que estive ali.




Escrito e sonhado na mente em 12/11/2009


terça-feira, novembro 10, 2009

WALDIR AGUIAR


Waldir Aguiar, que era produtor e amigão do Edvaldo Santana e de alguns de meus amigos, morreu ontem. Não o conheci muito bem, mas todas as vezes senti que ele era uma pessoa boa. Da paz.
Produziu dois de meus shows, um no SESC Pompéia e, há um mês, no SESC Vila Mariana. E estávamos armando outras paradas.
Na última vez que estivemos juntos, há uns dois meses, no dia do show do SESC, ele disse que inha tido um piripaque e ido parar no hospital. Tinha levado um susto.
Era uma grande figura humana, pessoa super carinhosa e atenciosa, dessas que andam raras por aí. Waldir, você vai fazer falta!

sexta-feira, novembro 06, 2009

ENTREVISTA SOBRE WHITMAN, TRADUÇÃO, POESIA E MÚSICA


Rosaly Senra , da Rádio UFMG Educativa, de BH, me entrevistou sobre a homenagem a Whitman e minha participação no Terças Poéticas, capitaneado por Wilmar Silva, realizado na última terça:

Ouça aqui:
http://www.ufmg.br/online/radio/arquivos/anexos/RODRIGO%20GARCIA%20LOPES%20-%20HOMENAGEM%20A%20WALT%20WHITMAN%20-%2003-11-2009.mp3

quarta-feira, novembro 04, 2009

SOMOS PESSOAS ESTRANHAS



somos

pessoas
estranhas

nem sabemos
que sonhos
que somos

esses
olhos
poucos

essas
folhas
secas?

esqueçam
fiquem
calados

somos
estranhos
no entanto

esta noite
dormiremos
lado a lado




Rodrigo Garcia Lopes

Em Solarium (Editora Iluminuras)