sexta-feira, setembro 26, 2014

Resenha de O TROVADOR (Record) no Paraná Online

Divulgação/Elisabete Ghisleni


Curitiba não é a verdadeira Twin Peaks paranaense. De longe, o prêmio vai para Londrina. E não é a Londrina de uma época qualquer, é a cidade da década de 1930. Aí vai o porquê: um contador assassinado, dois médicos alemães em fuga, ascensão do nazismo e uma misteriosa carta escrita em provençal são os elementos chaves em que se desdobra o enredo metalinguístico de O Trovador, o primeiro romance do poeta Rodrigo Garcia Lopes.  
A gênese do livro tem o assassino como um artista, referência tirada do ensaísta britânico Thomas de Quincey e seu livro Do Assassinato como uma das Belas Artes – que possivelmente também foi usado como inspiração para David Bowie e seu disco Outside, de 1995. Por isso, Garcia Lopes escolheu o tradutor escocês Adam Blake para descobrir os motivos para a morte de um funcionário modelo. À melhor herança de Conan Doyle, a solução do caso se encontra em uma colcha de detalhes, no caso, puxada por uma palavra.
A pesquisa histórica é um dos grandes trunfos da obra. Londrina é colocada como uma cidade mítica, em que a presença de imigrantes europeus – sobretudo alemães e ingleses – não se dá ao acaso. O resgate memorialístico – e registro ficcional - da presença de associações nazistas e da visita do Príncipe de Gales Edward VIII, que depois se tornaria Rei da Inglaterra e abdicaria do trono após um escândalo sobre uma possível associação com Hitler, dão carne à trama policial.
Divulgação

Referências bibliográficas
Muito longe de ser um pastiche de um gênero literário, O Trovador consegue dar cor local à narrativa detetivesca sem cair nas banalidades e lugares comuns. Até certo ponto, a obra permite um novo olhar sobre as possibilidades de reinvenção de um estilo que, não raras vezes, parece seguir um roteiro pré-definido.
Garcia Lopes, que nunca foi um leitor contumaz de histórias policais, emulou com maestria os grandes romances do gênero, bebendo de Wilkie Collins, Dorothy Sayers, Georges Simenon, Raymond Chandler e S.S. Van Dine para compor o seu livro.
Não é de hoje que a literatura policial encanta escritores de outros bosques, como diria Umberto Eco. Os escritores argentinos Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares criar o pseudônimo H. Bustos Domecq para que pudessem se debruçar sobre os contos policiais.
“O livro começou a ser pensado por volta de 2006. Li biografias, livros de história dos anos 30, da região norte do Paraná, teses de doutorado, no Brasil e no exterior. Assisti documentários, entrevistei pilotos, peritos, historiadores, consultei jornais da época como o ‘The Times’, de Londres, o ‘Paraná-Norte’ e ‘O Cometa’, de Londrina. Vi muitos filmes e trabalhei com fotografias para a composição de algumas cenas e cenários”, comenta Rodrigo.
Com a possibilidade de um olhar histórico e literário – e até mesmo do puro entretenimento -, O Trovador se ergue aos leitores como um dos melhores livros policiais brasileiros.

quinta-feira, setembro 25, 2014

DASHIELL HAMMET ESTEVE EM LONDRINA

 

Um raro registro da visita de Dashiell Hammet (em missão secreta como detetive da agência Pinkerton) a Londrina, norte do Paraná, em outubro de 1936.

 


Saiba mais em




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 “Tudo é surpreendente neste romance, da exatidão ao aplicar as regras do policial norte-americano e inglês dos anos 30 à sua rigorosa pesquisa histórica.”
 Joca Reiners Terron

O TROVADOR
Rodrigo Garcia Lopes
Editora Record | Grupo Editorial Record
406 páginas
Preço: R$ 45,00
Formato: 16 x 23 cm
ISBN: 978-85-01-03034-4

quinta-feira, setembro 18, 2014

"CANÇÕES DO ESTÚDIO REALIDADE" NA SEMANA DO SESC

18/09/2014 -- 00h00

Rodrigo Garcia Lopes é destaque da Semana do Sesc

Elisabete Ghisleni/Divulgação
Artista apresenta composições do disco "Canções do Estúdio Realidade" e lança o romance policial "O Trovador"
O poeta, cantor e compositor londrinense Rodrigo Garcia Lopes é o destaque da programação de hoje da 33ª Semana Literária & Feira do Livro Sesc Paraná, que acontece até sábado em Londrina e mais 20 cidades do estado simultaneamente. No Sesc Londrina, às 19h30, Lopes (voz e violão) apresenta um show intimista com músicas do disco "Canções do Estúdio Realidade" (Independente, 2013), acompanhado pelo baterista Paganini. Em seguida, será realizado o lançamento do seu primeiro romance - "O Trovador" (Record), que traz uma história de ficção policial ambientada em Londres e Londrina em 1936.

No evento, o artista irá autografar o CD, o romance recém-lançado e o livro de poemas "Estúdio Realidade" (7Letras, 2013), semifinalista do Prêmio Portugal Telecom de 2014.

Elogiado por Vitor Ramil, Arrigo Barnabé, Marina Lima e Luiz Tatit, entre outros, "Canções do Estúdio Realidade" aprofunda a inter-relação entre música, voz e poesia iniciada em seu primeiro disco "Polivox" (2001). A canção brasileira é vitalizada e arejada, aflorando em várias formas por meio de letras e melodias inspiradas, sonoridades e ritmos que dialogam com o funk, o jazz, a música erudita, o rap, o afoxé, o blues e o folk, entre outros.

No repertório, canções de sua autoria compostas nos últimos anos como "Quaderna", "Alba", "Cerejas", "Fugaz", "Álibis", "Vertigem", "Rito" e "New York", além de canções de seu primeiro disco como "A Solidão", "O Assinalado" e "Ítaca". Além dos encontros com os escritores, a semana dedicada à literatura reúne exposições, oficinas, exibição de vídeos, performance literária e shows.

Serviço:
"Canções do Estúdio Realidade" e lançamento do livro "O Trovador", com Rodrigo Garcia Lopes
Quando – Hoje, às 19h30
Onde – Sesc Londrina (R. Fernando de Noronha, 264), em Londrina
Quanto – Gratuito, mas os ingressos devem ser retirados no local com uma hora de antecedência
Informações – (43) 3305-7800
Programação completa - www.sescpr.com.br/semanaliteraria
Ana Paula Nascimento
Reportagem Local

sexta-feira, setembro 12, 2014

OUTRAS PRAIAS * Rodrigo Garcia Lopes

 
       
    




       OUTRAS PRAIAS



O ar do verão vibrava como imitação
que os dedos do maestro regiam, Além,
(uma outra palavra para Adeus)
E sua ausência imediata, que são próprias
das coisas consideradas fora de seus centros;

Náufragas, como ilhas dispersas circundadas
por tanta Luz, e o mar hibernando o surf
das manobras rápidas, radicais, engolindo praias,
prises e personas
Uma tontura que persiste após
o estrondo doce do amor, antes e agora dobrando-se no Tempo

Tudo a caminho, tudo rápida passagem, impressões,
a textura da areia, seixos
ao redor do sexo que é tudo e que sustém em linguagem
Viva, a linguagem das marés e dos exercícios estratégicos do vento
que uiva às coisas e nomeia lagoas e dunas, uma gíria imaginária

O mar da página de jornal, gaivotas
bicando lâmpadas à procura de águas vivas, quebrando-se
Cristais,
& uma visão do vórtex do vir-a-ser distraindo
as cores excessivas, todo ornamento inútil, recolhidas em
fotografias dinâmicas, e que se revelam lentamente em suas
ausências em fuga, como nós, aos pés destas pedras, refletindo-nos
na mudança desse poço, em sua condição.

O que vemos daqui são gestos que querem o além
o reflexo de terras nunca vistas,
brisas nunca sentidas, uma viagem
sem volta a territórios livres, como nômades detidos
no meio de uma tempestade obsessiva. O que
carregamos são espelhos que refletem sempre
o diferente, enquanto nós, eu e você
mudamos juntos. Nuvens
dissipam-se em doces fragmentos, sentidos acenam
do outro lado da baía, onde estivemos
Há alguns instantes que ficaram

Misturados com a lembrança do instante diferenciado,
um ideograma na fumaça do cigarro, o haikai mais simples
recolhido num vazio que vibra, diz, e muda.
Um brilho secreto, isso o mar também nos traz
sem cobrança alguma
e além do privado e do profundo jaz
o não dito, o absurdo de calar, o conferido:
penínsulas e abraços

de mar, studio marinho. E o modo como ele
endereça suas maresias a nós mudos e humanos
com seu estilo que no fim revela ser apenas
a mancha do mar em sua blusa, uma blueprint, um sim.



2



O Agora voava, deixando nossas respostas
sem pergunta alguma.
Acabamos nos cruzando, a caminho da estação
onde nada se detém, na luz que grita atrás das montanhas,
No som de nossas vozes e olhares assustados
como sempre
Sílabas apagando beijos como a maré faz com nossas pegadas
recolhendo
Apenas o silêncio, o silêncio.
Registros de amanheceres sendo
Eternamente abertos para agentes secretos
Até que a página se vire como onda

Deixando paisagens no retrovisor
Longe de qualquer ideal de transparência ou nostalgia.

Linhas que nada são a não ser a trajetória das gaivotas
Deliciadas com as horas que ainda restam antes do pouso.
Primeiro dia de sol, a casa está vazia.
Tesouras repousam quietas ao lado de
Gencianas. Nova Geografia. A cena
Está quase completa, viva nos músculos que apanham rápido
um clichê qualquer no ar, uma sombra. A voz, cada vez mais,
Se estilhaçava, ficando assim impossível dizer
Quem falava ou soprava o vento
no stylus das árvores rabiscando um céu
que não era bem assim
O que se queria dizer, um espaço implodido a cada passo
Dentro do corpo onde a natureza sopra seu processo
As sentenças do mesmo rio nunca o mesmo rio
Códigos nascidos sem qualquer charme, e a gravidade
De tudo o que prossegue, indestrutível, viagem.




3



Aqui o céu é fino feito papel.



Regras se dissolvem como uma velha palavra na boca
velha manhã com um gosto de folhas secas na boca
Muito viva vívida doce e muito viva
distribuindo seu teatro, lírica barata, seu Gesamtkuntswerk,
nos telhados onde pássaros respiram, quietos,
sendo observados por gatos negros e cantados obsessivamente por
Cigarras. invadem o verão. A indistinta voz que distribui
sons secos pela estação dos sustos, para além de si, desejo
De um presente acelerado como as ondas deste
doce Desterro,
O modo vazio e pleno como o olhar
faz
de tanta luz
o ar vibrar

Nos sentimos Oceanus, Pan, nos sentimos mais humanos
& sacamos
parte da hera tomando a janela onde pouco ou nada é dito
Apenas sentido, o limite de um "ouvir-se dizer"
que já não diz, reprisa
Velhas cenas de um teatro previsível.
Apenas o espectador mudou no fim de tudo
E as estações se amontoam num canto do céu esperando
Um milagre, uma confortável
Invisibilidade, que não tem nada a ver com
O excesso desse sol depois de três dias de chuva
Três úmidas palavras sussurradas e conduzidas como o vento faz

Às nuvens, nada necessariamente difícil ou vazio
gruda à pele, livre
De qualquer engodo, assinatura, assunto.
Horas e horas de vidro, sentenças sem nome flutuam
no manso ar do verão do interior e suas diferenças
Vêm à tona, enfim, o que nos deixa ao menos
uma chance para ouvir uma chuva invisível
atrás da porta pela qual acabamos de passar.








           Rodrigo Garcia Lopes (Solarium, editora Iluminuras, 1994)

quinta-feira, setembro 04, 2014

"O TROVADOR" NO GUIA DA FOLHA

Nota sobre O Trovador no Guia da Folha por REYNALDO DAMÁZIO