sexta-feira, agosto 29, 2008

POEMAS DE ROBERTO BOLAÑO NO CRONÓPIOS


Roberto Bolaño nasceu no Chile em 1953 e faleceu na Espanha em 2003. Sua carreira meteórica foi marcada pela fundação do movimento mexicano infrarrealista nos anos 70. Apesar de mais conhecido como romancista (Os Detetives Selvagens, 2666, De Noite no Chile, entre outros), começou como poeta, tendo publicado volumes de poesia como Los Perros Románticos e La Universidad Desconocida. Pouca gente no Brasil conhece seus poemas. O Cronópios publicou algumas traduções que fiz, retiradas de seu Os Cachorros Românticos, que aliás está pra sair pela editora americana New Directions em novembro. Quer conhecer os poemas da fera, clique aqui:
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=3488

Leitura em Asheville


Amanhã estarei lendo meus poemas (em inglês) na bela cidade de Asheville, no pé das Montanhas Apalaches, junto com Magdalena Zurawski e Brian Howe. Vou postar fotos do evento aqui, que está sendo organizado pelo poeta Chall Gray. Um dos poemas que vou ler, nos meus 15 minutos, será este, de Nômada, traduzido por mim:

OSTRANENIE, a road poem


Taken by the strange logic of the age
I ask a lift from the family of hippies
That has for as its strangest hobbies
To not tell the hours, just the cuckoos,

To exchange kisses as if exchanging blows,

To curse like a band of sailors,

To get hit in the face assuming it is a hiccup.

They ask my nose if we are close,

Erase landscapes, eat sausages,

And then talk talk talk as a mad sect

Until they are without voice and subject.


I get off, in an old Russian village.





Incidental Reading series

8:00 p.m., 8/30/2008
186 Pisgah View Rd.
Asheville, NC 28806


quarta-feira, agosto 27, 2008

QUASE TOUCHDOWN

Tivemos um alerta de tornado hoje aqui em Chapel Hill. Ele quase fez o touchdown, mas acabou virando uma tempestade. Fica para a próxima.



segunda-feira, agosto 25, 2008

PIN DUCA


Meu amigo e irmão Ademir Assunção, o Pinduca, além de grande poeta e grande figura, é também um dos melhores e mais combativos jornalistas que eu conheço. Na área cultural, tem tido uma atuação pra lá de importante, ainda mais em tempos bicudos como o nosso para o jornalismo tupiniquim, guiado pela lógica do mercado da "indústria cultural".
Chova ou faça sol, sofra pedrada ou perseguições, seja boicotado ou marginalizado por editoras e jornais, ele não desiste de dizer o que pensa. Além disso, tem escrito poemas contundentes e furiosos e acabou de finalizar três livros (um de entrevistas brilhantes que ele fez ao longo de sua carreira de jornalista, outro de ficção e mais um de textos que escreveu para jornais). Está correndo há meses atrás de editoras e ninguém se atreve a editar. Ele não desiste, e é bom que não desista mesmo. Ele agora publicou um texto oportuno cuja leitura eu recomendo, além do seu blog
Espelunca: Quem é que Paga por isso, sobre feiras de literatura e os bastidores literários. Valeu, Pinduca!
Link aqui:
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=3461

LUPE (poema de Roberto Bolaño)

LUPE

Trabalhava na avenida Guerrero, a poucas quadras da casa de Julián
E tinha 17 anos e havia perdido um filho.
A lembrança a fazia chorar naquele quarto do hotel Trébol,
espaçoso e escuro, com chuveiro e bidê, o lugar ideal
para se viver por alguns anos. O lugar ideal para escrever
um livro de memórias apócrifas ou um ramalhete
de poemas de terror. Lupe
era magra e tinha as pernas compridas e manchadas
como as dos leopardos.
A primeira vez nem sequer tive uma ereção:
tampouco esperava ter uma ereção. Lupe falou de sua vida
e do que era a felicidade para ela.
Depois de uma semana voltamos a nos ver. Encontrei-a
numa esquina junto com outras putinhas adolescentes,
apoiada nos paralamas de um velho Cadillac.
Acho que ficamos felizes em nos ver. A partir de então
Lupe começou a me contar coisas de sua vida, às vezes chorando,
às vezes trepando, quase sempre pelados na cama,
olhando o céu raso de mãos dadas.
Seu filho nasceu doente e Lupe prometeu à Virgem
que largaria sua profissão deixaria se seu bebê sarasse.
Manteve a promessa por um mês ou dois e logo teve que voltar.
Pouco depois seu filho morreu e Lupe dizia que a culpa
era dela por não comprir o prometido à Virgem.
A Virgem levou seu anjinho por sua promessa não cumprida.
Não sabia o que lhe dizer.
Eu gostava de crianças, claro,
mas ainda faltavam muitos anos para que soubesse
o que era ter um filho.
Por isso ficava quieto e pensava em como era estranho
o silêncio daquele hotel.
Ou tinha as paredes muito grossas ou éramos os únicos ocupantes
ou os demais não abriam a boca nem para gemer.
Era tão fácil lidar com a Lupe e sentir-se homem
e sentir-se um infeliz. Era fácil acompanhar seu
ritmo e era fácil ouví-la se referir
aos últimos filmes de terror que havia visto
no cine Bucareli.
Suas pernas de leopardo enlaçavam meus quadris
E afundava sua cabeça no meu peito procurando meus mamilos
ou o latido do meu coração.
É isso o que eu quero chupar, me disse uma noite.
O que, Lupe? Seu coração.

ROBERTO BOLAÑO

TRADUÇÃO: RODRIGO GARCIA LOPES



quinta-feira, agosto 21, 2008

Satori Uso será exibido na Grécia

O curta londrinense SATORI USO (PR, fic, cor & p&b, 17 min, HDV>35mm, 2007), uma realização da KINOARTE com direção de Rodrigo Grota, foi selecionado para o 14th International Short Film Festival in Drama, na Grécia. No mês passado, SATORI USO havia sido exibido no 1º Festival de Cinema Brasileiro na Polônia. O festival grego será realizado entre 15 e 20 de setembro de 2008. SATORI USO, inspirado na obra de Rodrigo Garcia Lopes, que também co-escreveu o roteiro, recebeu três prêmios no 35º Festival de Cinema de Gramado (Melhor Filme – Crítica, Prêmio Aquisição do Canal Brasil, Melhor Fotografia), além de ser considerado o Melhor Filme no 15º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, Melhor Filme e Melhor Fotografia no FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul) 2008, Melhor Fotografia no V Festival de Cinema de Maringá, prêmio ABC de Melhor Fotografia para Curta Metragem, e Menção Honrosa no Curta Cinema 2007 – Festival Internacional de Curtas Metragens do Rio de Janeiro e na IV Mostra Curta Pará Cine Brasil. SATORI USO é uma realização da KINOARTE com patrocínio da Prefeitura de Londrina. O filme está disponível em DVD pela Programadora Brasil, pode ser visto no KINOARTE CHANNEL (http://www.youtube.com/kinoarte) e no Canal Brasil. Nos dias 17 e 18 de setembro de 2008, SATORI USO concorre ao 1º Grande Prêmio para Curtas Metragens do Canal Brasil.

quarta-feira, agosto 20, 2008

PARA UM JOVEM POETA (POEMA DE ANDREI CODRESCU)


PARA UM JOVEM POETA


Então poesia

arrá, lá vem

eu escrevo

quero publicar

sou do rebanho novo

fui ensinado

na escola por muitos

renomados poetas

todos eles grandes

mediocridades & agora

quero colocar minha auto-

consciência para ser usada

por você de modo que

você possa me indicar para prêmios

auxílios fama & então talvez

você possa ligar pra minha mãe

& dizer sim ele fez alguma coisa

de si mesmo ele é um poeta

& daí se você publicar um

livrão de poemas eu vou ler

um ou dois & então vou te dar

meu livro de poemas & dar

minha aprovação relutante em nome

do rebanho novo mesmo que estejamos

perdidos & ninguém se importe

se vivemos ou morremos & se nossos

web sites continuam sem serem visitados

talvez precisem de mais sexo

muito disso tem a ver com a porra

da sua geração que teve tudo mais

egos pra competir & odiamos você

mesmo aqueles dois poemas que eu não

acabei do seu novo grande livro

livros livros estão mortos você

não sabia?




TO A YOUNG POET so poetry / aha they go / I write it / I want to publish it / I am the new flock / I have been taught / in shool by many / renowned poets / all of them great / mediocrities & now / I want to put my self- / consciousness to use / by you so you can / recommend me for prizes / grants fame & then maybe / you can call my mom / & say yes he made some- / thing of himself he’s a poet / & then if you publish a big / book of poems I’ll read / one or two & give you my / begrudging approval in the name / of the new flock even though / we are lost & nobody cares / if we live or we die & our / web sites go unlogged on / maybe they need more sex / the sex we are not having / much of because your fucking / generation had it all plus / egos to match & we hate you / even those two poems I didn’t / quite finish from your big new / book books are dead don’t / you know it

ANDREI CODRESCU

TRADUÇÃO: RODRIGO GARCIA LOPES

De It Was Today (Era Hoje) Minneapolis: Coffee House Press, 2003.

MAIS CODRESCU NA EDIÇÃO NÚMERO DA REVISTA COYOTE (NÚMERO 17)

quarta-feira, agosto 13, 2008

CLASSIFICADOS 2008

Calíope, musa da poesia na mitologia grega



MUSA PROCURA

um poeta

sem pose

e com poesia





segunda-feira, agosto 11, 2008

Epigrama de MARCIAL



O que faz a vida ser mais feliz,
velho amigo Marcial, são essas aqui:
herança ganha sem trabalho
safras que não cessam, fogo sempre aceso,
nada de lei, nada de toga, mente quieta;
corpo viril e com saúde;
franqueza com tato, gente inteligente,
convidados com humor e mesa farta,
noites sóbrias mas livres de problemas,
uma cama casta sem ser pudica,
dormir o bastante para abreviar as trevas:
estar feliz com o que se é, não ter medo
do último dia, nem ficar esperando-o.



Vitam quae faciunt beatiorem, / iucundissime Martialis, haec sunt:/ res non parta labore sed relicta; non ingratus ager, focus perennis; / lis numquam, toga rara, mens quieta; / vires ingenuae, salubre corpus; / prudens simplicitas, pares amici, / convictus facilis, sine arte mensa; / nox non ébria sed soluta curis, / non tristis torus et tamen pudicus; / somnus qui faciat breves tenebras: / quod sis esse velis nihilque malis; / summum nec metuas diem nec optes.

MARCIAL
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

quarta-feira, agosto 06, 2008

EVIVA PAT!!


De babar: o maravilhoso PAT METHENY tocando "Don't Know Why", bela canção de Norah Jones (pra quem não sabe, filha do Ravi Shankar). Ele toca um violão barítono fabricado pela Linda Manzer, luthier canadense. Essa e outras músicas estão no CD One Quiet Night, um dos discos mais lindos que ouvi nos últimos anos. Gravado só ele e este violão, no estúdio de gravação de sua casa. Disco que conta ainda com uma versão matadora de "My Song", do Keith Jarret.

http://www.youtube.com/watch?v=EN7YHbQjwjo#

tudo tem sentido

se sentido for

tudo que sentimos

tudo tão sentido

que não tem sentido algum

ficar sentado aqui

mentindo

Rodrigo Garcia Lopes (no livro Solarium, 1994)

terça-feira, agosto 05, 2008

CANÇÃO DAS MUSAS



a noite arrasta seus cascos
abrindo clareiras no acaso
que precede o som.

até
as estrelas, atrás,
estão mais
acesas

se por tristezas
a morte que acusas
não couber em belezas

linha por linha
arrastem-nos como a um cão
de espumas
levem-nos a parte alguma.




Rodrigo Garcia Lopes

domingo, agosto 03, 2008

Robert Creeley (trad RGL)

NOVO MUNDO


Terra edênica, adâmico ser

Estupidez o preço que você vai pagar

Por esse inútil saber.




NEW WORLD


Edenic land, Adamic person —

Foolishness is the price you´ll have to pay

For such useless wisdom.



Robert Creeley (trad. RGL)