domingo, maio 31, 2009

ENTREVISTA COM GARY SNYDER (por Rodrigo Garcia Lopes)

http://www.poetryfoundation.org/images/features/SnyderGary500.gif

O Estadão de hoje publicou a entrevista que fiz com o poeta, tradutor e ecologista GARY SNYDER, um dos últimos remanescentes da geração beat. Ele foi um dos entrevistados para o documentário que Walter Salles Jr. está preparando sobre a beat generation. Eu o entrevistei na cidadezinha de Hickory, na Carolina do Norte. A conversa aqui está na íntegra. Divirtam-se com a lucidez e sabedoria de um velho mestre. Vamos por partes:


sábado, 30 de maio de 2009



'Preciso estar pronto para a poesia'

Para Gary Snyder, a escrita em versos é uma surpresa a partir de uma ideia 'que vem de outra parte'


Rodrigo Garcia Lopes - Especial para O Estado


HICKORY, CAROLINA DO NORTE - Um dos fundadores e um dos últimos representantes vivos do movimento beat, o poeta, antropólogo, tradutor e ensaísta Gary Snyder, aos 79 anos, pertence a uma estirpe de intelectual cada vez mais rara na atualidade: a do poeta público, imerso nas questões de seu tempo, servindo de intérprete ou xamã da complexa paisagem cultural dos dias atuais. Seus livros mais recentes são Danger on Peaks: Poems (2004), espécie de diário poético, e Back on the Fire, coletânea publicada em 2007 e que reúne ensaios sobre temas caros a Snyder, como o papel do fogo na preservação das florestas da Califórnia, poesia oriental, mitologia indígena, a "nova desordem mundial" e ecologia - sobre os quais ele fala na entrevista a seguir, realizada na cidadezinha de Hickory, Carolina do Norte.

'Danger on Peaks: Poems' foi publicado em 2004. Por que você demorou tanto para publicar poesia novamente (seu último livro dedicado ao gênero havia sido ‘Mountains and Rivers Without End’, de 1996)? O senhor acha que às vezes é mais importante viver do que escrever?

Estou sempre escrevendo poemas. Quando me sinto estimulado a escrever? Quando me sinto estimulado a escrever! A poesia não é prosa: na prosa você pode se atirar e se forçar a escrevê-la. Já com a poesia é preciso esperar que a voz chegue até você. É uma questão de inspiração, de se conseguir uma ideia criativa que o surpreende e que vem de outra parte. Meu trabalho é sempre estar pronto para a poesia. A escrita de um novo poema é sempre uma surpresa.

No poema 'Waiting for a Ride' (esperando uma carona), do último livro, você escreve: "a maior parte de minha obra / tal como é / está feita". Como você vê seu trabalho, retrospectivamente? Quais poemas você acha que sintetizam sua poética?

Meu trabalho é tão diverso, e há tantos tipos de poemas, que existe um ecossistema literário inteiro aí. Não há um exemplo de um poema em particular que eu sinta interesse, orgulho ou que eu tenha preferência, mesmo porque eles servem funções diferentes. Cada um tem um papel: não fosse assim, eu não deixaria ser publicado.

http://www.wlbooks.com/wlb455/images/items/31753.jpg

Que paralelos você traça entre Zen e poesia, em seu caso? Seus poemas incorporam a precisão e concisão da poesia chinesa e japonesa, e a percepção detalhada e afinada cara ao Budismo. Como a poesia e arte chinesa e japonesa afetaram sua sensibilidade?

Esta é uma questão interessante. Em primeiro lugar, é preciso fazer uma distinção entre a sensibilidade Ch'an (ou Zen) e as artes. Nem todos os grandes artistas do Extremo Oriente - que são Japão, China, Coreia e Taiwan - foram necessariamente influenciados pelo Zen, mas um número surpreendente o foram, especialmente durante as dinastias chinesas S'ung e T'ang, bem como durante boa parte da história do Japão. No entanto, é preciso fazer uma distinção entre poética e trabalho artístico e algo como a prática Zen. A prática Zen o distancia da arte: ela é uma prática de meditação e de investigação profundas e, enquanto tal, não está preocupada com expressão ou representação. Claro que a prática Zen está preocupada com a comunicação, e ela tem seus próprios métodos de se comunicar que estão embebidos na literatura Zen, com o ensino da literatura, em coleções como o Mumonkan, ou O Portal Sem Portão, ou os escritos extraordinários do filósofo Dôgen [(1200 - 1253), fundador da escola Soto de Zen Budismo], no século 13. Qualquer artista pode aprender muito com a leitura destes textos, mas eles não representam a poesia em si. A psiquê estética do Extremo Oriente sempre valorizou a concisão, a observação clara, a condensação, o registro direto da experiência. Em parte, isso acontece porque ela não tem uma carga teológica ou ideológica a dirigindo, como acontece em toda a literatura europeia pós-romana e cristianizada, que possui na maioria das vezes um componente teológico do qual é muito difícil se livrar. Por isso, a poesia chinesa do século 8 soa muito moderna porque fala de história, de amizade, de ideias culturais, bem como ser uma resposta direta para o mundo natural. Este é um caso interessante, como no caso de tradições japonesas como o haiku, sobre a qual escrevo bastante em Back on the Fire. O haiku agora é um valor internacional, sendo ensinado em toda parte. Falando nisso, há inclusive alguns haikaístas nipo-brasileiros maravilhosos, e que escrevem tanto em português quanto em japonês.

Em Back on the Fire você fala elogiosamente de Masaoka Shiki, por exemplo. Quem são os melhores haikaístas, na sua opinião?

Ah, não respondo perguntas como essa. É como comparar laranjas e maçãs.

Você acredita que existe uma imaginação haikaística? Como ela pode ser aplicada a poemas mais longos, como seu 'Mountains and Rivers Without End'?

Em primeiro lugar, é preciso separar a forma do haiku da imaginação do haiku. Nem todos os poemas curtos e breves são haikus. Isso é uma coisa que tenho que explicar muitas vezes, como fiz recentemente para um alemão que me entrevistou por e-mail. Ele queria que eu dissesse que todo poema curto é um haiku. Não é este o caso. O haiku tem uma estética específica e, neste sentido, quero dizer que o que existe é uma imaginação do haiku. As pessoas tropeçam nela mas nem sempre a obtém, a tem, ela é aberta, fresca e sem ego, mas não sempre está no "momento" ou nem sempre é "zen". Este é um assunto complicado, não é tão simplório quanto pode parecer. Não gosto de chamar de haiku os poemas escritos em poucas linhas, a menos que eles se encaixem de fato dentro da estética do haiku. Acho maravilhoso que pessoas na Dinamarca, Itália, Estados Unidos ou no Brasil, sobretudo crianças, estejam aprendendo haiku nas escolas ou escrevendo poemas curtos influenciados pelo haiku. É bonito isso, mas não precisa necessariamente ser haiku. É mais útil dizer que o haiku é um poema japonês escrito numa forma específica mas nem todos os poemas japoneses curtos são haikus. Sugiro a leitura de um livro excelente, escrito por Haruo Shirane, Traces of Dreams: Landscape, Cultural Memory, and the Poetry of Basho [rastros de sonho: paisagem, memória cultural e a poesia de Bashô], que é a primeira descrição bem informativa e de senso comum do mundo social em que o haiku se desenvolveu no Japão dos séculos 18 e 19. O haiku também é um fenômeno sociológico.

http://contentcafe.btol.com/Jacket/Jacket.aspx?SysID=Jacket&CustID=Image&Return=1&Type=L&Key=1593761376

Há alguns anos o haiku está em voga no Brasil. Alguns críticos, no entanto, têm dito que ele tem tido uma influência negativa na nossa poesia, se tornando um maneirismo, uma maneira "fácil" de escrever poesia. Poucas pessoas sabem, como você afirma em Back on the Fire, da enorme influência que o haiku teve sobre o modernismo.

O que chamamos de influência do haiku na poesia moderna, pelo menos na poesia escrita em inglês, é a influência sobre o Imagismo, e claro que Ezra Pound fez parte disso em algum momento. O haiku não é necessariamente Imagismo, nem uma imagem. De fato, muitas vezes são duas imagens justapostas que se intersectam. Mas outra coisa que não é realmente percebida é que o haiku é escrito em japonês. Isso significa que a gramática é totalmente diferente,a gramática é totalmente fora do quadro de qualquer coisa que conheçamos nas línguas germânicas ou românicas. Parte do poder de um haiku japonês é o que ele faz em termos de sintaxe. Você sabe o que isso significa? Em primeiro lugar, no japonês os verbos sempre aparecem no fim da frase, mas não se usa frases no haiku. Se o jogo sintático é uma parte da força do haiku, como alguém que não conhece japonês pode apreciar isso? Do mesmo modo, há muitas coisas na poesia portuguesa e inglesa que só pertencem a essas línguas e que somos incapazes de traduzir. Então não devemos nos preocupamos com isso. No entanto, entendo que a escrita de um poema curto pode virar um maneirismo. Mas isso passa. Podemos aprender algo com o modo como o haiku funciona na escrita de poemas longos? Em relação ao poema longo, a questão é mais sobre o que podemos aprender com o Imagismo em relação à escrita de poemas longos, o que já foi demonstrado por Ezra Pound, como algumas coisas que ele fez em seus melhores "Cantos". Muitos não são muito bons. Ele apontou uma maneira, e muitos modernistas da primeira metade do século 20 tocaram no que o Imagismo pode fazer. Eu uso pequenas imagens precisas disso ou daquilo o tempo todo em minha poesia, inclusive em poemas mais longos. Suponho que tenha aprendido isso com o haiku e com o Imagismo, mas para dizer a verdade nem costumo pensar sobre isso.


fim da parte 1

http://www.altmanphoto.com/altman_snyder_ginsberg.jpg

Snyder, Ginsberg ao fundo, anos 60

sexta-feira, maio 29, 2009

O LUZINADO


"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"

"Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobão"




Lembra dessa? Tá no Iluminado, do Kubrick, com Nicholson arrasando. Que filme do caralho. Imperdível. E sempre reassistível. (O que será que Dorival Caymmi diria em resposta?).

quinta-feira, maio 28, 2009

TEM TAINHA NA REDE



As estrelas da festa, flagradas no exato instante em que saíam de uma balada, fugindo do assédio dos peixerazzis..... (foto: Tástôlo Associated Press)


Enquanto milhões de pessoas acompanham as celebridades dos Big Bloggers, Big Brothers, Fama, Dança dos Famosos, etc etc meus amigos Fernando Alexandre e Andrea Ramos acompanham a chegada das tainhas no Pântano do Sul, em Floripa. Quando morava lá sempre via como as pessoas ficavam em maio, com a temporada da tainha. Um evento que une a comunidade numa atividade coletiva, quase um ritual que traz à tona a cultura atávica dos manezinhos, esta gente simples e apaixonada pelo mar. É-é-é.

Vou te dizer-te uma coisinha pra ti: os vigias, posicionados dos altos das dunas, em lugares estratégicos, ficam como monges zen-budistas com os olhos e a mente atentos para uma aproximação de um cardume ou manta de tainha, vinda do sul. Elas saem, lá de longe, da cloaca da Lagoa dos Patos, e vêm subindo, subindo, numa longa viagem. A frente fria e o vento sul dando as condições ideais para a chegada de milhares delas, lindas e, sobretudo, deliciosas.

De longe, o vigia acena a camisa negra quando avista um lanço, -- sacando o cardume pelo eriçar na água e por outras técnicas que eles não confessam -- indicando para os pescadores já posicionados do outro lado da praia o número de canoas necessárias para o cerco e o arrasto da rede de terno. Sem dizer que antes, através de um grito de u-u-u-u que percorre a vila em tempo recorde, atraindo as pessoas para a praia, que fica cheia num lance de mágica. Ou de peixe. Tudo muito simples, tudo muito mágico. Tá no blog: "arrastados para a praia, as tainhas são contadas e divididas entre os donos das parelhas (canoas e redes), os camaradas que fazem parte das listas de pesca e também por todos que ajudaram a puxar a rede. Se o lanço for grande, não fica ninguém sem ganhar o seu peixe. À noite, praticamente todas as casas do Pântano do Sul exalam o delicioso cheiro de tainhas fritas ou assadas".

O Fernandão e a Andrea estão lá acompanhando a chegada dessas estrelas no pasto dos peixes.

Tem tainha na rede. Aqui:


http://www.tainhanarede.blogspot.com/


quarta-feira, maio 27, 2009

SIMPOESIA 2009 (contagem regressiva)



Semana que vem, de 4 a 7 de junho, em São Paulo, acontece o SIMPOESIA 2009, um festival internacional de poesia que acontece na Casa das Rosas e que reunirá poetas e críticos literários do Brasil e exterior, além de uma feira de e
ditoras independentes de poesia do Brasil e Argentina promovida pela revista Grumo. Com curadoria de Virna Teixeira, o festival é um encontro que envolve a troca de idéias, a exposição da diversidade intelectual e o intercâmbio artístico e cultural entre diversas expressões da poesia contemporânea. Eu participo no dia 4, 21 horas, com o pocket-show Canções do Estúdio Realidade, e no dia 6, 'as 14:30, do debate Poesia Brasileira em Tradução, ao lado Steven Buttermann, Stefan Tobler e Flávia Rocha.

LOCAL:

Casa das Rosas (Espaço Haroldo de Campos de poesia e cultura) - Av. Paulista, 37 – Bela Vista. Tel. 3285-3986.

Instituto Cervantes -Av. Paulista, 2439 (Metrô Consolação).

Contato: simpoesia2009@yahoo.com.br


Mais informações no site: Http://www.simpoesia.wordpress.com


terça-feira, maio 26, 2009

poema de NÔMADA (Rodrigo Garcia Lopes)



De leve, neste banhado em abril,

a paisagem nos descreve

arroios são rios


de planície

parecem não se mover


distância aquarelada

contornos adensando

enquanto chuva arrefece


pago arenoso do agora

faces, não-superfícies


o sabiá afia seu bico

no arame farpado

pensando


precisa descer

de seu altar de vento


precisa caminhar

na relva revelada





Rio Grande (2002)

quinta-feira, maio 21, 2009

PRA QUEM ESTIVER EM SAMPA
















Amanhã tem mais uma rodada do projeto Parcerias: A voz da poesia.
Os encontros acontecem na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, em São Paulo.
A idéia: um poeta e um compositor são reunidos para um bate-papo. E tem rolado muita coisa boa. No evento com Zeca Baleiro e Celso Borges 200 pessoas ficaram de fora.

Não há interesse pela poesia? Conta outra.

São oito encontros quinzenais, de abril a agosto, sempre aos sábados, às 18h30.

Os convidados deste sãbado são o compositor EDVALDO SANTANA e o poeta e letrista ADEMIR ASSUNÇÃO.

Mais informações, acesse o Espelunca, blog do Ademir Assunção.


quarta-feira, maio 20, 2009

PAISSAGEM (Rodrigo Garcia Lopes)





Um mapa na tapeçaria deste agora: grão de luz oscila na centelha da palavra noite. Cubo negro. No espaço do olho, ilha, detetive do dentro, dança numa reminiscência de íris, a ciência do acaso tocando sua música abstrata que trata dos segundos e deste corpo que se duplica em sua passagem pelo rebatimento das duas imagens, paralelas, para lê-las. Vem em sua direção mais uma onda, na verdade todo o mar a seu encontro, mas não a tempo de impedir os retornos imprevisíveis de uma imagem de flor num rosto deserto, sol estrondo crepúsculo. Se isso não estivesse acontecendo, nessa vila, sob nuvens, ou mapas fossem nossos próprios corpos ambulantes, como se centelhas se espalhassem como ímãs num espelho que é você.






sexta-feira, maio 15, 2009

SATORI USO é eleito melhor curta de ficção no Arraial Cine Fest 2009

O curta londrinense SATORI USO, uma realização da KINOARTE com patrocínio da Prefeitura de Londrina, foi eleito o Melhor Filme de Ficção, de curta duração, no 3º Arraial Cine Fest, festival realizado nas cidades de Arraial D’Ajuda e Porto Seguro, na Bahia, entre 4 e 17 de abril de 2009. SATORI USO, inspirado na obra de Rodrigo Garcia Lopes, que inventou o personagem e sua biografia e também co-escreveu o roteiro, é um falso documentário sobre um poeta que não existiu, apresentado por um cineasta imaginário. O filme integra o projeto Curta Petrobras às Seis, estando em cartaz atualmente no Cinemark Midway Mall Natal, em Natal (RN), até o próximo dia 19. SATORI USO já recebeu os prêmios de Melhor Filme (Crítica), Melhor Fotografia (Júri Oficial) e de Aquisição do Canal Brasil no 35º Festival de Cinema de Gramado, Melhor Filme e Melhor Fotografia no FAM 2008; Melhor Filme no 15º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, Melhor Fotografia (Júri Popular) no 5º Festival de Cinema de Maringá, Melhor Fotografia (júri oficial) no Festival Primeiro Plano 2008, Melhor Direção de Arte (para José de Aguiar) no 7º Santa Maria Vídeo e Cinema, Prêmio ABC de Melhor Fotografia para Curta-Metragem, Melhor Roteiro no 6º Curta Santos, além de Menção Honrosa no 14th International Short Film Festival in Drama, na Grécia, no Curta Cinema 2007 – Festival Internacional de Curtas Metragens do Rio de Janeiro e na IV Mostra Curta Pará Cine Brasil. Comercializado com o Canal Brasl (com exibições entre agosto de 2008 e julho de 2010), SATORI USO também foi exibido pelo programa Zoom da TV Cultura (SP), e está disponível em DVD pelo projeto Programadora Brasil, do Minc. Mais informações pelo e-mail: kinoarte@gmail.com

quinta-feira, maio 14, 2009

Nascimento da Poesia (Rodrigo Garcia Lopes)


Quando a linha era só voz

era uma margem sem rio pois


seguia


foz em foz

oculta (miragem)


na escuta da memória.


Séculos se passaram.


Um dia a voz

efêmera

é escrita na areia


e nasce a linha

retorno

virada


“trazendo a palavra

da boca ao ouvido”.


A consciência sulca

e eterniza o fugaz

no grão da linguagem.



sábado, maio 09, 2009

O AMOR É UMA MULHER DE OLHOS INVISÍVEIS (de Rodrigo Garcia Lopes)


Um poema na levada do doce estilo novo dos poetas do círculo de
Dante, em diálogo com a poesia trovadoresca provençal. Está no Solarium, de 1994;





Imprimo em seus lábios lírios & jasmins
primícias de cetim em toques de neve
mixo a ti e a mim nesses senfins
gravo na boca o cheiro bom do cravo.
Nenhuma nóia a nos tocar se atreve.

Ligado, digito os terminais dos teus sentidos
Regulo o foco do deleite, chupo teus bits & bytes,
Quando a aurora goza um sono rosa, Danaê, acredite:
com sentidos assim, quem precisa de inimigos?

Quem dera ver nascer desse oscilar nova beleza
que trema nossos ossos de delícia, e dance,
deixando no ar um doce incenso, ninfa acesa, em transe,
cabelos elétricos, olho fixos medusa.

Amor me fia como teia, sua presa,
me tateia lá onde o orvalho goza na manhã.
me tenta e me entontece em teu veneno, vinho, surpresa
depois do bom do beijo, erva, & relvas de avelã.
Memórias ondulam indolores, cuja malha
aquece o cor como uma blusa, leve como lã.

Eu quero que você levite e me leve a um outro reino
lá onde uma luz eterna de Amor emana
aura perfeita bebendo minha dor no ar sereno
dizendo-se musa, mas oásis que engana.

Agora olha bem fundo em mim e diz:
vê esse silêncio, esses mínimos grãos de luz?
Essa é a vida que não bisa, um sentir que se reprisa,
estrela que desliza, sol que eclipsa, um deus?

Por que o que vai dentro e fora nunca se condiz?
sempre por dentro e fora do tempo, algo traduz
nossos gestos mais secretos, brisa que nos irisa,
onda que, um dia, alisou esta camisa, onde se lia:
“o homem que a vestia nunca foi feliz”




Rodrigo Garcia Lopes (Em Solarium,Iluminuras, 1994)

sexta-feira, maio 08, 2009

A VOZ DA POESIA (Com Celso Borges e Zeca Baleiro)
















Amanhã tem a segunda rodada do projeto Parcerias: A voz da poesia, coordenado pelo poeta A
demir Assunção. Os encontros acontecem na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, em São Paulo. A idéia: um poeta e um compositor são reunidos para um bate-papo de Oito encontros quinzenais, de abril a agosto, sempre aos sábados, às 18h30.
Os convidados deste sãbado são
ZECA BALEIRO e o poeta CELSO BORGES.
Mais informações, acesse o Espelunca, blog do Ademir Assunção.
Muito legal esta iniciativa, em tempos de pobreza poética.