domingo, março 24, 2013

Canções do Estúdio Realidade no Caderno G



Domingo, 24/03/2013
Elisabete Ghisleni/Divulgação

Elisabete Ghislen/Divulgação / Rodrigo Garcia Lopes: ano de colheita artística
Rodrigo Garcia Lopes: ano de colheita artística
CD

O mistério da canção

Poeta, tradutor e músico londrinense Rodrigo Garcia Lopes lança o segundo disco, Canções do Estúdio Realidade, 12 anos após Polivox

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Publicado em 24/03/2013 | RAFAEL RODRIGUES COSTA
Saudado como um dos grandes de sua geração, o londrinense Rodrigo Garcia Lopes, tal qual Antonio Cicero, Waly Salomão, Alice Ruiz, Paulo Leminski e outros poetas, não resistiu à tentação da canção e estreou em disco alguns anos depois de seu primeiro livro, Solarium (1994).
Compositor pouco prolífico, no entanto, levou 12 anos para lançar o sucessor de Polivox (2001) – um bem-sucedido híbrido entre poesia e música influenciada pela estética da Vanguarda Paulistana.
MPB
Cancões do Estúdio Realidade
Rodrigo Garcia Lopes. Independente/Tratore (distribuição). R$ 25 (mais frete na venda pelo e-mail rgarcialopes@gmail.com).


A nova safra de composições vem sob o título de Canções do Estúdio Realidade – termo emprestado de William Burroughs (1947-1981) que também dá nome ao próximo livro de poemas de Lopes, prestes a ser lançado, em um ano que ainda renderá o seu primeiro romance, o policial O Trovador.
“O livro de poemas é o primeiro desde o Nômada, de 2004. E o romance policial histórico, passei seis anos escrevendo. É um ano de colheita”, diz Lopes, por telefone.
São 12 canções que retomam a tradição principal da MPB, de Caetano Veloso e Djavan a Lenine, em arranjos que arregimentam treze músicos sob a direção do autor e de André Siqueira – responsável pela maioria dos baixos, baterias, violões e guitarras. “Não me lembro de compositores de Londrina aglutinando tantos músicos em um mesmo mesmo trabalho”, diz Lopes, que contou com patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura de Londrina.
Trabalhadas lenta e conscientemente, as músicas vêm em roupagens como as do afoxé (“Alba”), blues (“Cerejas”), funk (“Vertigem”), folk (“Álibis”) e jazz. “São formas de mostrar multiplicidade e a elasticidade do conceito de MPB. Minha poesia sempre se caracterizou por essa diversidade”, explica.
A condição de poeta e tradutor, no entanto, se impõe na vocação literária das canções – algumas, originalmente poemas, como “Iluminações” (escrito por Lopes musicado por Bernardo Pellegrini) e “Adeus” (escrito por Leminski e musicado por Lopes). Há ainda uma versão para “Nobody Does It Better” carregada nas tintas de espionagem (“Ninguém Melhor Que Ela”).
“Para mim, a criação de uma canção sempre foi um mistério. Que santo baixou em Chico Buarque para ele fazer uma coisa como ‘Construção’?”, questiona. “O mistério da canção é que nem sempre você a persegue. Ela surge em você.”

segunda-feira, março 04, 2013

POEMA TWITTER - rodrigo garcia lopes


MUNDO MODERNO A distância, o acaso, o Éter,

um romance, o rigor, até a vaidade de Afrodite

Neste mundo efêmero, acredite,

Tudo acaba em twitter



140 toques
Rodrigo Garcia Lopes

domingo, março 03, 2013

TODOS OS POEMAS, Paul Auster, resenha de Rodrigo Garcia Lopes

ILUSTRADA, FOLHA DE S.PAULO. 02/03/2013 - 04h42

Crítica: Edição brasileira soube verter complexidade rítmica de Paul Auster


RODRIGO GARCIA LOPES
ESPECIAL PARA A FOLHA


 
Ao abrir "Todos os Poemas", o leitor se depara com textos concisos, densos, enigmáticos. Nada da influência beat, por exemplo, nem dos confessionais, então em voga nos EUA.
O "lirismo abstrato" de Paul Auster é informado pela poesia de Emily Dickinson (1830-1886) e Paul Celan (1920-1970), entre outros.
O mérito da edição brasileira é a competente tradução, tendo Caetano Galindo sabido dar conta de traduzir a complexidade rítmica, imagética e sintática da poesia do americano. Não é tarefa fácil.

Thomas Samson/AFP
O escritor americano Paul Auster, que tem suas poesias reunidas em livro, em Paris
O escritor americano Paul Auster, que tem suas poesias reunidas em livro, em Paris
Auster escreve como um bom músico da linguagem, uma música sutil que investiga os dados imediatos da percepção. São poemas que tentam captar a tensão entre palavra e silêncio, mente e corpo, consciência e real.
À medida que seu estilo evolui e vai ficando mais solto, pintam surtos de narratividade, como em "Obituário no Tempo Presente" e "Busca de uma Definição". Muitos problematizam o próprio ato de fazer sentido do mundo.
Aos poucos, seu projeto poético austero parece entrar em crise, sucumbir à tentação da narrativa. A fé na linguagem poética como ferramenta ideal para captar a percepção passa a diminuir nos últimos livros.
Sua renúncia à poesia tem muito a ver com o caso da modernista Laura Riding (1901-1991), uma de suas influências. Ele mesmo explica: "Ela não renunciou à poesia devido a alguma insuficiência objetiva na própria poesia, mas porque a poesia como ela a concebia não era mais capaz de exprimir o que ela queria dizer. Ela agora sente que 'atingiu o limite da poesia'".
O texto-limite é "Espaços em Branco", ponte entre a poesia e a ficção. Auster tinha uma visão da poesia como sendo essencialmente monológica, ao contrário da narrativa, dialógica, habitada por múltiplas vozes e fantasmas, como se vê em sua prosa.
Quem sabe ele tenha descoberto, como ressalta Galindo, que "talvez seja apenas implodindo sua própria voz que um autor se transforme no coligidor de vozes que é o romancista". Melhor para nós, que ficamos com o Auster narrador sem perder o poeta. 


RODRIGO GARCIA LOPES é poeta, tradutor e compositor; está lançando o álbum "Canções do Estúdio Realidade"
 
TODOS OS POEMAS AUTOR Paul Auster EDITORA Companhia das Letras TRADUÇÃO Caetano W. Galindo QUANTO R$ 49,50 (352 págs.) AVALIAÇÃO ótimo