sábado, janeiro 30, 2010

NOVO LIVRO DE MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA

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O Mauricio Arruda Mendonça acaba de lançar seu novo livro: LONDRINENSES. São pequenos contos deliciosos que se passam na Pequena Londres em diversas décadas. Alguns contos já são antológicos, como "O Fantasma da Rua Antonina" e "O Maníaco das Calcinhas".

Vale a pena conhecer o trabalho. Editado pela Elextra-K'an Editora.

SENSO SENTIDO

O Marco Oliveira, poeta e amigo, fez uma tradução bacana pro inglês de um poema antigo meu. vejam aí:




sem tido


tudo tem sentido
se sentido for
tudo que sentimos
tudo tão sentido
que não tem sentido algum
ficar sentado aqui
mentindo



- Rodrigo Garcia Lopes


sense

it all makes sense
if sense means
all that is sensible
so much sense
that it makes no sense
to be so sensitive
about such nonsense




Tradução: Marco Oliveira




e na sombra do que somos
e na lua que irradia
o agora mostra como



rodrigo garcia lopes


ROBERTO PIVA

Roberto Piva, pra quem não conhece, um de nossos maiores poetas, está internado. Piva não tem plano de saúde, tem 73 anos e sofre de Mal de Parkinson.

Piva teve suas obras completas reunidas em três volumes, pela editora Globo. São elas: "Um Estrangeiro na Legião", "Mala na Mão & e Asas Pretas" e "Estranhos Sinais de Saturno". Recentemente, o livro "Paranoia" (1963) foi reeditado pelo Instituto Moreira Salles.

Amigos irão fazer um evento semana que vem em Sampa para arrecadar dinheiro. Quem puder ajudar com o tratamento dele, é só depositar:

Banco: Itau

Agência: 0036

Conta: 20592-0

CPF: 565.802.828/00

sexta-feira, janeiro 29, 2010

SALINGER (entrevista fictícia a Rodrigo Garcia Lopes) publicada na Folha de S. Paulo

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J.D. SALINGER 1938-2010




Mais um mito da literatura do século 20 subiu ontem. A Folha me pediu há uns anos uma colaboração para um suplemento especial do Mais! que traria apenas entrevistas fictícias com escritores impossíveis de se entrevistar (e famosos por sua aversão ao público e a qualquer publicidade). Foi um exercício divertido.



J.D. SALINGER
"Entrevista" conduzida por Rodrigo Garcia Lopes, publicada na Folha de São Paulo, de 25/04/2004


PROFESSOR DE RECLUSÃO

A princípio seria uma missão impossível. Afinal, o homem está recluso desde 1953, quando o sucesso mundial de O apanhador no campo de centeio (1950) o levou para o exílio na casa no alto de uma colina, em Cornish, no Estado de New Hampshire. Trata-se do único livro de fato importante de sua obra e que, vira e mexe, volta a ser “cult”, como seu misterioso autor, J.D. Salinger, 85. Talvez essa nova onda de interesse se dê, agora, pelo trauma pós 11 de setembro e a sensação de viver num mundo menos seguro. Ou por termos uma geração de jovens cansados de guerra e de mentiras. Talvez exista um pouco de Holden Caulfield (personagem principal do romance) em todo jovem. Afinal, o protagonista do seu famoso livro era um adolescente problemático vivendo nos anos hipócritas e caretas do pós-guerra.
O contato com "o maior recluso da literatura americana", eu sabia, requereria um processo lento e delicado. Ele foi feito por meio de uma professora da Universidade de Nova York que trabalha para a agente literária de Salinger. Minha amiga me preveniu, dizendo que dificilmente ele responderia a meu pedido, mas não custava tentar, já que nas.últimas tempos ele andava mais acessível, pelo menos por e-mail. Arrisquei. Meu e-mail foi enviado a sua agente, que se encarregou de passá-lo a Salinger. Dois meses depois, veio o sinal positivo.
Na primeira dos dois rápidos e-mails trocados antes da entrevista, sempre intermediadas pela agente, apresentei-me como escritor e jornalista brasileiro que havia sido incumbido de tentar uma entrevista com ele, a primeira para a Brasil. Pedi desculpas pela invasão e disse que tentaria ser o mais breve e, direta passível. Argumentei que no Brasil ele possuía uma legião de fãs que não sabiam de sua histórica animosidade com a imprensa e jornalistas americanos. Disse que respeitava sua reclusão e que a considerava um ato heróico em tempos de celebridades.
Salinger escreveu que, por eu ter sido educado e pouco insistente, ele abriria uma exceção. Disse que eu o havia "pego num bom dia" e que responderia a dez perguntas curtas, "desde que não tomassem mais de 20 minutos”. Preferiu que eu enviasse cada pergunta e ele fosse respondendo uma a uma. Também deixou claro que esta seria "a primeira e última entrevista concedida a um país de língua espanhola” (sic).

***

- Por que a resistência em dar declarações?

Não nasci pra falar em público, e as pessoas não entendem isso. Isso me mata. As pessoas acham que, só porque escrevi um livro, eu necessariamente tenha que ser uma pessoa falante ou que isso me qualifique automaticamente como orador. A verdade é que eu sou... bem, não quero que se aproximem de mim. Odeio dar entrevistas, como você sabe, embora esteja abrindo uma exceção para o público brasileiro. A verdade é que tenho halitose, por isso não quero que as pessoas cheguem perto de mim. É para o bem delas. Odeio, por exemplo, quando estou fazendo compras no shopping e alguém olha para mim e diz: “Você não é o J.D. Salinger?". Tenho vontade de fazer uma besteira.

- Sim, entendo. Que procedimento o senhor costuma adotar nessas abordagens?

Nenhum. Viro as costas. Outro fingi que era surdo-mudo, antes de encarar o sujeito e sair da loja. Sabe que funciona? Pode parecer ridículo, mas foi a maneira que encontrei para evitar esse papo furado estúpido dessa gente inútil. Acho que o mundo seria um lugar bem melhor para se viver se as pessoas tomassem conta de seus próprios assuntos. Tento proteger o que restou de minha privacidade. Quando as pessoas perdem o respeito comigo, seja quem for, para mim está acabado.

- Mas, no caso de alguém precisar entrar em contato com o senhor ou o contrário, qual é o procedimento adequado?

Hoje em dia? E-mail. Se alguém quiser me dizer alguma coisa, escreva três linhas e me envie por meio de minha agente. Não há nada que não possa ser comunicado em três linhas, como os haicaístas ou budistas sabem muito bem.

- O senhor falou do público brasileiro. Há algo que o senhor conheça de nossa literatura? Também poderia mencionar autores americanos que considera importantes?

Par incrível que possa parecer, sim. Mas, para ser sincero, li muito pouco. O fato de eu não saber espanhol limita muito. Sou eremita, mas não sou desinformado... Li "Bras Cubas Latest Remembrances" (acho que é este o título) quando era jovem e também não ponho minha mão no fogo quanto à qualidade da tradução. Do pouco que acampanho de seu país ou que amigos brasileiros de Cornish comentam comigo por algum motivo, gasto de Rubem Fonseca, José Agrappino de Paula (sic), Hilda Hills (sic) e Dalton Trevisan (que conheci na tradução alemã). Entre os americanos, meus preferidos são Laura Riding, Emi1y Dickinson e Thomas Pynchon.

- E o episódio de um site da internet que o senhor fechou por trazer uma centena e meia de citações de seu romance. O Senhor não acha que foi uma atitude exagerada?

O problema é muito simples: não vou ficar alimentando o bolso desses elementos. O problema é que minha propriedade, minhas estórias foram roubadas. Alguém foi lá e roubou. Não é justo. Você não gostaria que eu fosse na sua casa, pegasse seu casaco preferido e caísse fora. É assim que me sinto em relação a isso.

Foi o que aconteceu também quando o senhor entrou com um processo contra a edição não autorizada dos seus contos (The complete uncolected short stories of J.D. Salinger)?

- Exato. Escrevi aquilo faz muito tempo. Nunca tive intenção de publicar aqueles contos e fiquei muito irritado com aquele episódio. O episódio daquela biografia, em que usaram minhas cartas, também me irritou muito. Como você sabe, ganhei as duas causas. Aqueles contos, para mim, já estavam mortos e enterrados. Foram feitos num tempo em que eu estava começando a escrever e precisava desesperadamente publicar. Não estou tentando esconder as fraquezas do meu trabalho, como insinuaram alguns. Simplesmente acho que m... não se publica.

- Não que seja minha opinião, mas o que pensa quando críticos escrevem que o senhor é apenas "um recluso querendo atenção”, como Robert Neill no "The New York Times", de novembro passado?

Esses imbecis não têm nenhum respeito, são uns estúpidos. Depois dizem que não tenho motivos para preferir me isolar. Vejo toda estupidez do mundo pela TV e cada vez fico mais apavorado com o que estou assistindo, principalmente agora. Escritores precisam de solidão para poder escrever.

- O senhor poderia adiantar algum projeto ou novo livro para os milhares de leitores brasileiros que cultuam sua obra?

Não sei. O que posso dizer é que escrevo todo dia, passo longas horas trabalhando. Tenho um quarto cheio de escritos. Se não publico, é por opção. Também não penso em lançar livros depois de morrer. Mas diria que vocês terão uma surpresa em 2005.

- Não é um paradoxo um escritor evitar publicar? Não é exatamente o que todo autor mais deseja no mundo?

Como escreveu Emly Dickinson, "publicar é leiloar a alma humana". Adoro, amo escrever. Mas só para mim. Publicar é uma coisa perversa demais. Veja o que aconteceu no meu caso. Não tenho mais paz desde l950. Acho que seria um homem mais feliz se nunca tivesse publicado nada. Não publicar me dá uma indescritível paz de espírito, uma sensação de bem-estar. Também recuso-me a dar autógrafos. Quem tem que dar autógrafo são atores e celebridades da mídia. O autógrafo de um escritor, se ele tiver algum caráter, deveria ser sua própria obra.

- Sim, mas seu livro teve tanto impacto... Num trecho, Holden afirma que um livro é bom quando a gente fica querendo ser um grande amigo do autor, para telefonar para ele quando der vontade". O senhor se arrepende de ter escrito isso?

Acho que o senhor não está me entendendo. Vou repetir pela última vez: escrevo para mim e quero que me deixem só. Quero ser deixado totalmente em paz para fazer minha obra. Não existe mais Holden Caulfield. Por que você não vai ler o livro de novo? Está tudo lá.

- Gostaria de saber sua opinião sobre o livro de Joyce Maynaird sobre os 11 anos que conviveu com o senhor (Abandonada no campo de centeio, Geração Editorial).

Não, agora chega. Eram dez perguntas, isso precisa parar. Já respondi o que tínhamos combinado. Você está começando a ficar inconveniente.
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terça-feira, janeiro 12, 2010

CIDADE (de Arthur Rimbaud - tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)





CIDADE


Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística maluca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — as novas Erínias, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua.



ARTHUR RIMBAUD

Escrito em Londres

In Iluminuras Gravuras Coloridas (Iluminuras, 1994)

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça


sexta-feira, janeiro 01, 2010

Haiku de ano novo, pra dar sorte



primeiro dia do ano


o mar azul ciano


uma página em branco




Rodrigo Garcia Lopes