sábado, junho 17, 2017

Resenha de "Meu Coração Está no Bolso" (Frank O'Hara) por Rodrigo Garcia Lopes




De alta voltagem lírica, Frank O'Hara tem poemas traduzidos

 Rodrigo Garcia Lopes
 Especial para a Folha

      “Meu Coração Está no Bolso” traz 25 poemas de Frank O´Hara (1926-1966), um dos poetas americanos mais relevantes da segunda metade do século 20. No Brasil, desde os anos 1990, ele vinha sendo traduzido esparsamente, mas esta é a primeira reunião de poemas dele em livro. O’Hara costuma ser considerado figura central da chamada Escola de Nova Iorque. O termo define não um movimento mas um grupo de poetas-amigos com interesses em comum: o horror ao formalismo estéril dominante na poesia do pós-guerra, a pintura expressionista abstrata e uma atitude informal e anti-acadêmica. A poesia de O’Hara, coloquial e de alta voltagem lírica, é tributária de Walt Whitman, do surrealismo mas, sobretudo, do lirismo ambiente, do simultaneísmo, dos poemas-passeios e poemas-conversas de Apollinaire. Quer captar o imediato, o aqui-e-agora do poema, numa espécie de zen-nova-iorquino.
    Uma de suas marcas registradas é começar o poema precisando o dia, hora, o clima ou local de sua ocorrência, como em “O Dia em que Lady Morreu”: “São 12:30 em Nova York uma sexta / três dias após o Dia da Bastilha, sim / estamos em 1959 e estou no trem indo ao engraxate / pois vou saltar do trem das 16:19 em Easthampton / às 9:15 eu vou direto jantar / e nem conheço as pessoas que vão me dar de comer”. Ler poemas como este ou o delicioso “A Um Passo Deles” é tentar acompanhar, em tempo real, a mente atenta e fantasista do poeta enquanto flana pela metrópole e incorpora-a fragmentariamente. Já “Versos para os Biscoitos da Sorte” é composto apenas de frases paratáticas inspiradas nas mensagens “positivas” de biscoitos da sorte de restaurantes chineses, satirizando seu tom de profecia. O livro traz também outros poemas representativos como “Autobiografia Literária”, “O Amante”, “Tomar Uma Coca com você” e “À Memória de Meus Sentimentos”. 
       As traduções de Beatriz Bastos e Paulo Henriques Britto são de alto nível, recriando os poemas em português e as características linguísticas, os vários registros da poesia de O’Hara, muitas vezes com ganhos. Exemplo rápido: o penúltimo verso de “Avenida A”, “but for now the moon is revealing itself like a pearl” é vertido como “mas por ora a lua se desnuda como uma pérola”. Aqui, a própria linguagem simula, com sua dança de letras, o strip-tease lunar. Os 25 poemas representam 4.9% de sua obra (constam 510 na edição de seus poemas completos). Como dar conta, em poucas peças, de uma poesia que, além de profusa e frenética, é marcada por várias fases e estilos? O livro tem o mérito de ser bilíngue (crucial em matéria de poesia) mas a colocação dos originais ao lado das traduções, e não no fim do livro, seria uma decisão editorial mais acertada, facilitando o trabalho do leitor. Apesar de terem ficado de fora poemas essenciais e representativos, é uma iniciativa louvável em tempos de trevas: “estamos mesmo em apuros, esparramados / pés para cima apontando o sol, rostos / minguando na escuridão colossal”. 

MEU CORAÇÃO ESTÁ NO BOLSO (muito bom) http://f.i.uol.com.br/guia/2/furniture/images/evaluation_four_stars-blue.png
AUTOR Frank O'Hara
TRADUÇÃO Beatriz Bastos e Paulo Henriques Britto
EDITORA Luna Parque Edições.
QUANTO R$ 40 (88 págs.)

Rodrigo Garcia Lopes é autor de “O Trovador” (Record) e “Experiências Extraordinárias” (Kan)

segunda-feira, junho 05, 2017

LANA TURNER DESMAIOU! de Frank O'Hara (versão 2 rodrigo garcia lopes)



LANA TURNER DESMAIOU!


Lana Turner desmaiou!
eu trotava pela rua e de repente
começou a chover e a nevar
e você falou que era granizo
mas granizo machuca a cabeça
essa era neve mesmo
e chovia e eu morrendo de pressa
pra te encontrar mas o trânsito
se comportava mal como o céu
e de repente vejo a manchete
LANA TURNER DESMAIOU!
nenhuma neve em Hollywood
nenhuma chuva na Califórnia
já fui num monte de festas
e já dei cada baixaria
mas nunca desmaiei pra valer
ah Lana a gente te ama levanta mulher


FRANK O'HARA
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

domingo, junho 04, 2017

Especial – Self-publishers londrinenses dos 80’s: Como uma geração inventou a si própria se publicando

Felipe Melhado escreveu um ensaio-relato que resgata a riquíssima cena literária, jornalística e editorial de Londrina nos anos 80. Pouca gente conhece. Páginas como Leitura (na "Folha de Londrina", várias dentições), revistas como Outra e Kan, fanzines como "Hã Verde" até incursões pés-vermelhas no histórico jornal "Nicolau", da Secretaria de Curitiba do Paraná, e iniciativas de alcance nacional, como a longeva "Coyote": 

"Self-publishers Londrinenses dos 80’s: Como uma geração inventou a si própria se publicando".
Vale a pena ler.

LINK:
http://www.rubrosom.com.br/especial-self-publishers-londrinenses-dos-80s-como-uma-geracao-inventou-si-propria-se-publicando/