quinta-feira, novembro 15, 2007

CITYSCAPE (poema de "Nômada", 2004)

CITYSCAPE

Carros avançam em nossa direção: eis o épico contemporâneo. Ítaca na esquina, Odisseu o mendigo lendo um anúncio travado no chão. Brisa de buzinas o atordoando, atraindo-o para o fluxo & atropelo. Da sinagoga slogans na multidão de rostos anônimos. Ele é o herói transubstanciado de outras eras, ou uma hera plugando o meio das coisas com o que sua flora de aço, voracidade, revela: não há silêncio, luzes traçam linhas de fuga, teu rosto fugaz atrás dos vidros, mancha de detalhe, disparo. Tudo sucede por fluxo e acumulação. Prolifera, fera, néon das lojas de conveniências, você sob eterna vigilância, e as imagens, as imagens. O minuto pede pra ser consumido como mais uma comodidade (impossibilidade) por isso precisa ser veloz, para que a morte não tenha como amortecer as interrupções que a ferem até sangrar para que a verdade não tenha tempo de instalar seu leão de gerânios, sua folha de erva e visão. Pense em Agora e toda uma rede se instala em seu cérebro. Este perfume vindo da vitrine lembra uma idéia, e se estilhaça no instante necessário para que o tempo pare.



Rodrigo Garcia Lopes, em Nômada, Lamparina, 2004



Um comentário:

Anônimo disse...

Rodrigo, tu libro está hermoso y contundente y rodrigogarcialopesiensis! Gracias pelo material. Hasta el final deste ano lo publicamos en Yiyi Jambo. www.yiyijambo.blogspot.com
Duglas Diegues