terça-feira, novembro 06, 2007

Nelson Ascher resenha ARIEL, de Sylvia Plath, na BRAVO! de novembro




O poeta, tradutor e crítico Nelson Ascher escreve sobre a tradução de Ariel, de Sylvia Plath (Verus Editora, tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo) na edição de novembro da revista Bravo!

O TALENTO DA POETA SUICIDA



“Ariel”, publicado em nova tradução, mostra por que a obra de Sylvia Plath é mais importante do que as discussões sobre sua biografia

* por Nelson Ascher


Para bem ou para mal, Sylvia Plath tornou-se a poeta anglo-americana mais famosa da segunda metade do século passado. Sua celebridade é fruto tanto de seu talento indiscutível como de sua biografia. O que esta última tem de relevante é, obviamente, o suicídio, o fim precoce, além das intermináveis discussões que têm procurado entender esse fato, seja nela mesma, seja nas circunstâncias de seu casamento com o poeta inglês Ted Hughes. Há ainda os debates meio bizantinos em torno da sobrevivência e eventual manipulação póstuma de sua papelada (originais, esboços, diários etc.).

É melhor, porém, deixar tal debate aos aficionados, à verdadeira indústria que se formou em torno da escritora, e passar diretamente a seus poemas. Pois, por mais que as questões acima pareçam interessantes e, segundo alguns, até pertinentes à compreensão de seus textos (que às vezes podem ser um pouco herméticos), o drama todo pode soar um pouco banal, para não dizer pequeno-burguês.

Publicado em 1965, após a morte da autora, Ariel revela uma insatisfação com um tipo de poesia que Sylvia busca superar menos por meio de seus temas ou da pesquisa formal do que elaborando imagens mais vigorosas e sugestivas. A que estas se referem, é algo que fica não raro em aberto e depende da interpretação do leitor. Nem por isso seu impacto é menor. Plath pode ser considerada uma poeta forte a seu modo, se bem que distante da grandeza que seus fãs lhe atribuem.

MOVIMENTO INTIMISTA

Sylvia, que nasceu em 1932 nos Estados Unidos e matou-se em 1963, em Londres, começou a escrever numa época em que a poesia anglo-americana, depois da imensa energia que revelara durante o modernismo propriamente dito, encontrava-se numa espécie de refluxo intimista rumo ao confessional, transformando-se cada vez mais numa literatura feita por e para professores universitários. E, a bem da verdade, muito do que ainda se escreve em inglês ainda não escapou a essa definição.

A presente edição brasileira encara com seriedade os problemas de tradução que sua poesia oferece e a refaz num português tão atraente quanto é a apresentação gráfica deste volume, que - reordenando os poemas como a poeta desejara que os publicassem - inclui também seus manuscritos com as respectivas notas e correções. Num país como o nosso, no qual a poesia estrangeira é traduzida aos tapas ou aos trancos e barrancos, isso, sem dúvida, não é pouco.


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