sexta-feira, novembro 09, 2007

TALVEZ SEJA ISSO


De repente você nota, em certa noite de chuva,

que ninguém se importa mais.

Noite em vigília. A ipoméia se abriu

Enquanto você dormia.

A imagem iluminada desgastou

depois que a duração virou mercadoria. O "eu lírico"

não subsiste num mundo de fluxos e superfícies vazias

que o olho mal consegue acompanhar

enquanto a verdadeira face da vida começa a dar as caras.

Evaporaram-se os dados precisos e algo mágicos que a poesia exibia.

Perdemos toda inocência, talvez nossa última chance,

e agora tudo o que você disser

pode ser

Usado contra você. Transformamos o real não num mito fugidio,

performance discreta ou fluxo de uma gravura, mas numa incoerência

algo eufórica, cheia de comentários sobre outras

pessoas e paisagens, pois aquilo

que se chamava vida

eram fábulas do momento presente,

o recriar incessante no castelo de areia, onde ondas eram adivinhas,

brincando de desaparecer. Não investigações vazias

sobre a temporalidade ou algo assim, muito menos

a idéia da palavra em si mas que pára ali,

cara a cara com sua onipotência, e

de como a sensação agora

é de uma velocidade que de repente não muda muito as coisas.

Pelo menos em essência. Isto não existe. Mas o que é essência,

e porque perdemos

nossos instantes preciosos

e o sonho de qualquer elegância

escrevendo ao vento ou então dispersos

nesses gestos inúteis e sublimes

tentando entender

alguém no outro lado da linha.





poema de Visibilia, Rodrigo Garcia Lopes, Travessa dos Editores, 2005)

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