De repente você nota, em certa noite de chuva,
  que ninguém se importa mais. 
  Noite em vigília. A ipoméia se abriu
  Enquanto você dormia. 
  A imagem iluminada desgastou
  depois que a duração virou mercadoria. O "eu lírico"
  não subsiste num mundo de fluxos e superfícies vazias
  que o olho mal consegue acompanhar
  enquanto a verdadeira face da vida começa a dar as caras. 
  Evaporaram-se os dados precisos e algo mágicos que a poesia exibia.
  Perdemos toda inocência, talvez nossa última chance, 
  e agora tudo o que você disser
  pode ser
  Usado contra você. Transformamos o real não num mito fugidio,              
  performance discreta ou fluxo de uma gravura, mas numa incoerência
  algo eufórica, cheia de comentários sobre outras
  pessoas e paisagens, pois aquilo
  que se chamava vida
  eram fábulas do momento presente, 
  o recriar incessante no castelo de areia, onde ondas eram adivinhas,
  brincando de desaparecer. Não investigações vazias
  sobre a temporalidade ou algo assim, muito menos
  a idéia da palavra em si mas que pára ali, 
  cara a cara com sua onipotência, e
  de como a sensação agora
  é de uma velocidade que de repente não muda muito as coisas.
  Pelo menos em essência. Isto não existe. Mas o que é essência, 
  e porque perdemos
  nossos instantes preciosos
  e o sonho de qualquer elegância
  escrevendo ao vento ou então dispersos 
  nesses gestos inúteis e sublimes
  tentando entender
  alguém no outro lado da linha.
 
poema de Visibilia, Rodrigo Garcia Lopes, Travessa dos Editores, 2005)
 
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