quinta-feira, março 01, 2007

O DIA EM QUE MORREU LADY DAY, de FRANK O'HARA


A cantora Billie Holiday, na última sessão de gravação, 1959




O DIA EM QUE MORREU LADY DAY




Meio-dia e 20 em Nova Iorque sexta-feira

três dias depois do dia da Bastilha, é,

estamos em 1959 e vou engraxar os sapatos

pois às 4 e 19 salto do trem em Easthampton

às 7 e 15 e então direto pro jantar

e nem sei quem são os que vão me alimentar


Subo a rua abafada onde começa a bater sol

como um hamburger peço um maltado e compro

um exemplar horrível da ESCRITA DO NOVO MUNDO pra ver

o que os poetas em Gana andam aprontando

Vou pro banco

e dona Stillwagon (seu nome é Linda ouvi dizer)

nem checa meu saldo pela primeira vez na vida

e na GOLDEN GRIFFIN descolo um livrinho do Verlaine

pra Patsy com desenhos de Bonnard embora pense

é no Hesíodo, trad. por Richmond Lattimore ou

na nova peça de Brendan Behan ou no Lês Nègres

do Genet, mas não, fico mesmo com o Verlaine

depois de praticamente cochilar de tanta indecisão


e pro Mike é só passar no PARK LANE

e pedir uma garrafa de Strega e daí

volto por onde vim até a Sexta Avenida

e a tabacaria no teatro Ziegfeld e ao acaso

peço um maço de Gauloises e um de

Picayunes, e o NEW YORK POST estampa a face dela


e estou suando um monte agora e lembrando

de mim no FIVE SPOT encostado na porta do banheiro

ela sussurrando uma canção junto ao teclado

pro Mal Waldron e eu e todo mundo ficou sem ar





Tradução: Rodrigo Garcia Lopes



The Day Lady Died



It is 12:20 in New York a Friday
three days after Bastille day, yes
it is 1959 and I go get a shoeshine
because I will get off the 4:19 in Easthampton
at 7:15 and then go straight to dinner
and I don't know the people who will feed me

I walk up the muggy street beginning to sun
and have a hamburger and a malted and buy
an ugly
NEW WORLD WRITING to see what the poets
in Ghana are doing these days
I go on to the bank
and Miss Stillwagon (first name Linda I once heard)
doesn't even look up my balance for once in her life
and in the
GOLDEN GRIFFIN I get a little Verlaine
for Patsy with drawings by Bonnard although I do
think of Hesiod, trans. Richmond Lattimore or
Brendan Behan's new play or Le Balcon or Les Nègres
of Genet, but I don't, I stick with Verlaine
after practically going to sleep with quandariness

and for Mike I just stroll into the
PARK LANE
Liquor Store and ask for a bottle of Strega and
then I go back where I came from to 6th Avenue
and the tobacconist in the Ziegfeld Theatre and
casually ask for a carton of Gauloises and a carton
of Picayunes, and a
NEW YORK POST with her face on it

and I am sweating a lot by now and thinking of
leaning on the john door in the
5 SPOT
while she whispered a song along the keyboard
to Mal Waldron and everyone and I stopped breathing



Frank O'Hara


O título faz um trocadilho com “died” (morreu) e Lady Day, apelido da cantora Billie Holiday, homenageada nesta elegia.

A menção a Behan, que morreu, jovem, de tanto beber, anuncia a morte de Billie por overdose, encontrada num cais em NY.

John: americanismo para banheiro, lavatório

Mal Waldron (1926-2002), pianista de jazz e compositor que acompanhou Billie de 57 até 59.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não tenho nenhuma referencia que possa complementar a minha leitura a respeito deste post, portanto prefiro não opinar.
Já havia vindo aqui algumas vezes, acredito que já foi em meu blog. Através de uma citação a seu respeito em sala de aula por minha professora Lúcia Ricotta,pude recordar do seu blog.
Li o texto “Relato Verdadeiro de Uma Conversa com o Sol em Fire Island” e me emocinonei, muito lindo.
Seu blog está de parabéns.

Beijos.