quarta-feira, março 28, 2007

Vida de autor japonês fictício vira curta-metragem


O curta ficcional do cineasta Rodrigo Grota estréia no dia 24; obra representa primeiro patrocínio do Promic a filme produzido em padrão para sala de cinema

Da Redação

O novo curta-metragem do londrinense Rodrigo Grota é um documentário sobre a passagem do poeta japonês, Satori Uso, por Londrina, na década de 1950. Aqui, ele sofreu uma desilusão amorosa com sua musa inspiradora, e viajou para Nova Iorque, onde conheceu o cineasta americano Jim Kleist, que rodou um filme em sua homenagem, em Londrina, no ano de 1967. O filme, chamado “Isolation”, ficou inacabado, e são trechos dele que aparecem no curta-metragem, dirigido pelo cineasta londrinense Rodrigo Grota.

Parece uma história real, mas o poeta japonês e o cineasta americano mencionados não existem. Satori Uso é criação do poeta londrinense Rodrigo Garcia Lopes, que Grota utilizou para produzir “Satori Uso”. O curta estréia no próximo dia 24, no Cine Com Tour, em sua primeira exibição ao público. A sessão começará às 20h30, e a entrada é franca.

Antes da produção do curta-metragem, mais um susto com relação ao poeta japonês. Garcia Lopes publicou algumas poesias de Satori Uso, mais especificamente haikais, em uma coluna literária do jornal local onde trabalhava em 1986, ao lado de uma breve biografia do poeta ficcional. Tão bem-feita foi a criação, que até o escritor Paulo Leminski telefonou para Garcia Lopes, pedindo que Uso lhe fosse apresentado.

Após tomar conhecimento da ficção, pelo seu próprio criador, Rodrigo Grota resolveu produzir um filme sobre Satori Uso. Quando começou a trabalhar no curta-metragem, tudo o que ele tinha em mãos eram os haikais de Uso. “O material que Garcia Lopes me cedeu ainda não continha os conflitos do personagem. A partir dos haikais, que tratam, entre outros assuntos, de uma temática budista de respeito à natureza, criei os conflitos de Uso, o cineasta Jim Kleist, que faria o filme sobre sua vida, e sua musa, Satine”, explicou Grota. “O que fiz foi dar uma resposta visual aos poemas de Uso”, completou.

Com o curta, ainda é possível ter uma visão nostálgica da Londrina da década de 1950, com toda a sua riqueza proveniente da cultura cafeeira. Mas a essência da história, conforme Grota, é a luta contínua (de Uso) para desaparecer do mundo e em espírito, aos poucos, após a desilusão amorosa com Satine. “Por isso o curta apresenta planos mais longos, narrativas contemplativas, que correm bem suavemente”, disse. E um dos pontos fortes da produção é a fotografia, dirigida pelo paulista Carlos Ebert, que tem espalhados pela Europa e Estados Unidos trabalhos de seus 40 anos de experiência em cinema.

O projeto do curta-metragem teve patrocínio integral do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), da Secretaria de Cultura de Londrina, com um custo aproximado de R$100 mil, e foi produzido pela Kinoarte (Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina). Foi o primeiro filme produzido em 35 mm (formato padrão para salas de cinema) pela Kinoarte e patrocinado pela Prefeitura de Londrina. E Satori Uso não termina por aí. Rodrigo grota promete mais dois curta-metragens, formando uma trilogia.

As três produções, por fim, acabam por fazer um panorama de Londrina da década de 1950 em “uma espécie de trilogia do esquecimento, destacando personagens que estavam ali na época, mas acabaram marginalizadas”. O segundo curta, previsto para começar a ser produzido em agosto, já tem patrocínio do Promic garantido e também será produzido pela Kinoarte. Dessa vez, a história será verídica: vai tratar da passagem do jazzman americano Booker Pittman pela cidade, no que vai se chamar “Mestre Buca”. Quanto ao terceiro curta, o cineasta londrinense preferiu manter mistério.
(Londrina, 14 de março de 2007)

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