quinta-feira, dezembro 31, 2009




O vento me petisca o vento nos degusta as dunas nos ilustram o pôr-do-sol alumbra as cores se desnudam a pálpebra relembra a brisa nos belisca a ilha nos despista as trilhas nos trazem aqui






Rodrigo Garcia Lopes (Nômada, 2004)

domingo, dezembro 27, 2009





元日も別條のなき屑家かな  一茶


Primeiro dia do ano:
Meu barraco,
O mesmo de sempre.

Issa

sábado, dezembro 26, 2009



Casa cercada de ervas-

vivas

no ritual do verão.


Um ano fecha

em poucas horas.


Agora, mestre em

arestas —


A luz acende esse silêncio

de cinzas de sílex, e a porta secreta.



Rodrigo Garcia Lopes (Nômada, 2004)




quarta-feira, dezembro 23, 2009

BRAZIL, LYRIC, AND THE AMERICAS





















Acabo de ficar sabendo, pelo professor, crítico, tradutor e poeta Charles A. Perrone, que saiu nos EUA o livro Brazil, Lyric, and the Americas, onde ele tece paralelos entre a poesia brasileira e os Estados Unidos, entre outras coisas. Eu compareço com análises de poemas meus, como "C:/polivox.doc," "A Tempestade", minhas traduções de poetas norte-americanos e as referências e assimilações da poesia norte-americana contemporânea, como a Language, além dos diálogos feitos em meu livro de entrevistas como Vozes & Visões. A notícia é um belo presente de Natal. Agora só falta mandar o livro, Perrone! Custa 79 doletas na Amazon. Caraco!

E este é um dos poemas meus analisados pelo Charles:



A TEMPESTADE

Canibal, palavra latina,
à maneira de canis, animal
de fidelidade canina.

Nas Bermudas, sublime ironia,
será um vento do cão
e vai se chamar hurracán.

E quando o mar de lã
de repente apontar terra à vista
então será Caliban.


MAIS DETALHES SOBRE O LIVRO, AQUI:

Brazil, Lyric, and the Americas
Charles A. Perrone

"This is Perrone at his most brilliant. Erudite but accessible, thorough but playful: Brazil, Lyric, and the Americas is the latest contribution by the most knowledgeable U.S.-based scholar of the Brazilian lyric."
--Severino Joao Albuquerque, University of Wisconsin

"Perrone retraces the dialogue of the Brazilian lyric with the poetry of the Americas in the generous spirit that the poets' utopia of solidarity will serve as a counterpoint to the harsher side of globalization."--Luiza Moreira, Binghamton University

In this highly original volume, Charles Perrone explores how recent Brazilian lyric engages with its counterparts throughout the Western Hemisphere in an increasingly globalized world. This pioneering, tour-de-force study focuses on the years from 1985 to the present and examines poetic output--from song and visual poetry to discursive verse--across a range of media. At the core of Perrone's work are in-depth examinations of five phenomena: the use of the English language and the reception of American poetry in Brazil; representations and engagements with U.S. culture, especially with respect to film and popular music; epic poems of hemispheric solidarity; contemporary dialogues between Brazilian and Spanish American poets; and the innovative musical, lyrical, and commercially successful work that evolved from the 1960s movement Tropicalia.
Charles A. Perrone is professor of Portuguese and Luso-Brazilian literature and culture at the University of Florida.


Brazil, Lyric, and the Americas
Details: 264 pages 6 x 9 Cloth: $69.95 ISBN 13: 978-0-8130-3421-8 ISBN 10: 0-9130-3421-3 Pubdate: 2/21/2010
http://www.clas.ufl.edu/bookbeat/200912_bookbeat.html

segunda-feira, dezembro 21, 2009

E ELES CONTINUAM APARECENDO EM MEUS SONHOS


DEFININDO A MAGIA (Charles Bukowski traduzido por Rodrigo Garcia Lopes)




um bom poema é como uma cerveja gelada
quando você está mais a fim,
um bom poema é um sanduíche de presunto, quando você está
faminto,
um bom poema é uma arma quando
os bandidos te cercam,
um bom poema é algo que
te permite andar pelas ruas
da morte,
um bom poema pode fazer a morte
derreter feito manteiga,
um bom poema pode enquadrar a agonia e
pendurá-la na parede,
um bom poema pode fazer seu pé tocar
a China,
um bom poema pode fazer você cumprimentar
Mozart,
um bom poema permite você competir
com o diabo
e ganhar,
um bom poema pode quase tudo,
isso sem dizer que
um bom poema sabe quando
parar.




CHARLES BUKOWSKI
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

domingo, dezembro 20, 2009

MARIÃO

Segundo amigos, Mário Bortolotto deve se transferido hoje para um quarto do hospital e se recupera bem. Passa o tempo lendo. Agora é uma longa estrada de recuperação. O pior já passou.

Força e paciência agora, Marião!


quinta-feira, dezembro 17, 2009

VISITAS NO MEIO DA NOITE




Visito a casa de Pound na Itália. É uma mansão de paredes que parecem um mosaico, escadas em caracol, cercada de ciprestes altíssimos que roçam o céu. Mary de Rauchewitz, sua filha, me atende. Está vestida com elegância, toda de branco, como uma Emily Dickinson. As paredes, logo percebo, são feitas de livros. Ligo o gravador e ela conta que viveu um tempo em São Paulo, fala da amizade com os irmãos Campos e eu digo que também os conheci, numa outra vida. Uma luz intensa emana do interior da casa. Ela vai me mostrando coisas preciosas, manuscritos inéditos do pai, páginas e páginas escritas a mão e outras datilografadas. Mas o principal são dois volumes dos Cantos com anotações do próprio poeta, com a maioria dos versos reescritos por ele. São suas provas para uma segunda e improvável edição, Mary me diz. Os dois tomos são acondicionados em uma pasta de couro verde muito grossa e que fecha com um fecho que faz um som metálico. Fico intrigado, manuseando os volumes, enquanto a filha de Pound vai buscar o chá. O poeta está lá, olhando pela janela. Parece nem perceber minha presença. Tem um ar deprimido, e de vez em quando volta a cabeça em direção à mesa onde entrevisto sua filha. Enquanto o chá não vem, as palavras dos Cantos brilham sob meus olhos. Nem penso em surrupiar um volume daqueles, ainda mais na presença do poeta. Poderia encher o cu de dinheiro com aquilo, penso. Descubro que tenho a capacidade de memorizar todos os versos, por mais numerosos que sejam. Eles se traduzem automaticamente em minha mente. Olho para as palavras e para o poeta, sentado junto à janela, tão perto e tão distante de mim. Ele parece não se importar com mais nada. Sabe que já está morto e que isso é um sonho. Arrasta os passos pela casa, como se andasse com correntes invisíveis. Está cansado, mas ainda é o velho Pound. O poeta olha para mim e dá um sorriso benevolente. Ele tem os olhos mais tristes que já vi. Sussurra, finalmente: "Te ensinei tudo o que podia, rapaz". Isso me desconcerta. Subimos os três ao solário e contemplamos o nascer do dia, a aurora de dedos rosas, o vulto dos ciprestes contra um céu espetacular. Toda a atmosfera é banhada por uma luz irreal, tristemente dura. Decido que, quando voltar, ou acordar, a primeira coisa que farei é reler os Cantos. Mary conversa bastante comigo sobre o que ele passou, o exílio, e o limbo em que o poeta vive atualmente. Estamos em 1972. Ela diz que o pai já desistiu de lutar pela vida, por um paradiso terrestre. Velho Pound, encostado no beiral do solário, passa a declamar trechos em italiano e provençal de sua poesia com voz roufenha, e é interrompido por uma longa tosse. Não estamos em Veneza, e sim no interior, talvez Florença. Mary fala pelo pai, e remói ressentimentos antigos, de quando ele foi trancafiado numa jaula durante a Segunda Guerra Mundial. Da longa temporada no hospital Saint Elizabeth. Claro que nem toco na questão do fascismo. Ela me serve um chá fumegante. Enquanto contemplo os livros da bibliocasa, Mary anuncia que vai sair, diz que o poeta está dormindo, e pede que eu và a cozinha e faça alguma coisa, que me sinta à vontade. Quando ela sai a casa mergulha misteriosamente no breu. Ouço o barulho do carro de Mary se afastando. Estou morrendo de fome, encontro dois burritos mexicanos (?) na geladeira e decido esquentá-los no microondas. Faço uma bagunça danada na cozinha e acabo estourando o microondas e sujando todas as paredes com um tubo imenso de catchup. Fujo de lá para não ser advertido pela filha do poeta. Pound está dormindo, num canto da sala, como um menino. Fecho os olhos. Quando os abro novamente estou caminhando à esmo pelas ruas de Curitiba. Apenas metade do meu corpo está coberto. Estou nu da metade para baixo. Sinto que serei preso ou linchado se me virem. Um trecho da calçada onde caminho está coberta por tapumes. Jaime Lerner é o prefeito novamente, vejo cartazes dele por toda a cidade. Caio num buraco, estão construindo um metrô. Consigo me safar e tento encontrar o caminho de volta para a casa onde estava, mas a Itália agora está tão longe. As placas nas ruas mudam os nomes para me confundir. Subitamente anoitece e paro na frente de um restaurante alemão. Músicas bávaras soam das janelas. Todos lá dentro parecem estar se divertindo um bocado, menos eu. O céu está estranhamente estrelado. Percebo que não são estrelas. Alguém está escrevendo mensagens de amor no céu com uma nova tecnologia. Pessoas puxam cadeiras e se sentam nas calçadas para assistir aquele estranho espetáculo. Não é coisa de Deus. As letras, brancas contra o fundo negro, cabalisticamente trocam de lugar e formam mensagens de amor e, finalmente, o seu nome. Sinto um arrepio me atravessar o corpo. Então você aparece à minha frente, como mágica, me olha e segue adiante pelas ruas, fingindo não me reconhecer. Consigo umas roupas com um garçom vestido de trajes típicos alemães, são roupas de um mendigo. Saio em disparada pelas ruas para ver se te alcanço. Entro num edifício comercial. Quando agarro a manga de sua blusa, digo que desse jeito vou ter que acabar lhe pagando direitos pelo uso de sua imagem. Você não entende a piada. Tento pegar na sua mão no elevador. Você a solta e sacode a cabeça. Pela milésima vez tento argumentar. Mas você não dá chance para minhas palavras. Termino o sonho balançando a cabeça tristemente, imitando seu gesto, olhando você pela última vez, enquanto a porta do elevador se fecha. Tudo o que quero agora é voltar para a casa de Ezra Pound, para o silêncio de sua estranha biblioteca.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

GOSTO (poema de Rodrigo Garcia Lopes)


gosto quando meu rosto
mostra

só o que sei
só o que sinto

sem querer ser
mais do que sou

gosto quando teu rosto
gosta

do que vê refletido em mim
que é quando ficamos assim

tão quietos, tão
poucos




Rodrigo Garcia Lopes (em Solarium, 1994)

EM PROCEDIMENTO DE DESCIDA

"É Isso o que vai Acontecer", show de lançamento do novo disco de Bernardo Pellegrini e o Bando do Cão Sem Dono, no clic de Elizabete Ghisleni. Mizão (guitarra), Edu (encoberto pelo Mizão, bateria), Bernardo (voz e violão), Felipe Barthem (baixo) e Marco Scolari (teclados).


E agora que 2009 se aproxima da pista de pouso verificamos os instrumentos para fazer um bom procedimento de descida.
Domingo, em Little London, acabou o Cabarezinho, evento que reuniu durante quatro dias muita música, talentos, amigos e poesia. Foi uma festa e tanto, no embalo das comemorações de 75 anos da Cidade. Nas quatro noites vi-ouvi muita coisa boa, como os irmãos Beto e Rubens Nardo com Edu Batistella no "Tributo a Gigante Brasil", na homenagem ao grande baterista, cantor e compositor (e tocando músicas do homem, falecido em 2008). Rolou o Bando do Cão Sem Dono, se apresentando todas as noites com o show "É Isso que Vai Acontecer", com as músicas inspiradas do meu amigo Bernardo Pellegrini em seu ótimo disco recém-lançado, sob liderança do próprio e uma banda só com feras: Marco Scolari (teclados), Mizão (guitarra), Felipe Barthem (baixo), Edu Batistella. Teve música instrumental com o Batistella Trio, com Edu tocando a louquíssima "DNA", daquele jeito de tocar bateria que só ele tem. Teve a Frutilínias do Éden, tocando Rita Lee da época da Tutti-Frutti. Teve a Vilma de Todos os Santos cantando sambas. Teve o show Nós Caipira, com os irmãos Nardo (ex-vocalistas da Tutti-Frutti) mais Marco Scolari tocando clássicos da música caipira da década de 30. No último dia, depois do meu show (de quase duas horas, tocando músicas do Polivox e outras tantas inéditas ao lado de Marco Scolari e Edu, teve a Gisele Almeida e banda, a Gisele, que andava sumida, arrasando com sua voz uns blues muito bonitos.

Clic de Elizabete Ghisleni durante o show "Canções do Estúdio Realidade".

Teve Marquinhos Diet com suas traduções endiabradas (como as versões de "Take a Walk on the Wild Side" e "Sweet Jane", do Lou Reed, arrepiantes e impagáveis). O legal é que foi tudo gravado pelo fera Julio Anizelli, e filmado também, o que pode resultar num belo material sobre a música produzida em Londrina.
Uma festa e tanto, daquelas que deixam um gosto de quero mais.
Quem perdeu, quem sabe quando, não é?

SEM CARONA


Desta vez duas garotas me convidam para visitar uma cidade que penso ser Aspen, Colorado. Deve ser próximo do Natal, porque vejo meia dúzia de papais noéis com apetrechos de esqui nos ombros, descendo a rua. Enquanto tentam estacionar, Kathy Acker (não lembro o nome da outra) acaba sendo testemunha de uma batida de carro, nada muito grave. Mas ela tem problemas na justiça, ou assim penso eu, e quando o casal vietnamita dá ré e pergunta para mim se poderia contar com a ajuda delas como testemunha (os vietnamitas não foram culpados pelo acidente) ouço um "nem morta" do dentro do carro, seguido de uma arrancada brusca que leva meu paletó que estava preso na porta da van banca e marrom de Kathy. Não demoro muito para descobrir que estou sem minha carona para voltar para Asheville. Não tenho dinheiro, nem o telefone celular de Kathy. Tento me reconfortar com o pensamento de que ela e a outra estão apenas dando voltas pela cidade e que com certeza elas irão me buscar. Elas jamais fariam isso (me largar lá no meio da rua. Ou fariam?). Sim, fariam. Fico parado numa esquina durante uma hora. Nada acontece. Ninguém aparece. Decido então dar uma volta pelo centro da cidadezinha, rodeada de montanhas da cor de leite contra um céu muito azul. Estou na sacada de um hotel que lembra o do filme O Iluminado, olhando para um jardim todo cinza e sem graça quando um policial gordão pula em minha direção, de trás de um pilar, me aborda e pergunta o que estou fazendo ali e o que quero. Ele tem olhos frios e azuis e me interroga como se eu tivesse acabado de fugir da prisão estadual. Respondo com um inglês perfeito que estou apenas conhecendo a cidade. Ele diz que nunca viajou para fora da sua cidade natal. Ele fala dos Estados Unidos como se fosse um país estrangeiro que ele sonhasse em visitar um dia. Penso, que idiota. Ele me libera. Acabo entrando por engano no mesmo prédio imenso por uma porta que abre por fora mas não por dentro. Começo a andar pelos corredores do hotel, com tapetes imensos cobrindo o chão e quando percebo vejo mais policiais fardados de azul escuro zanzando pelos corredores. Ouço o som de alto-falantes e quando me vejo estou numa sala onde está escrito CONVENÇÃO MUNICIPAL DOS POLICIAIS DE ASPEN. Tento não entrar em pânico e me disfarçar, talvez me tomem por algum parente de um policial. Pergunto pela saída para vários policiais. Me vejo no espellho e percebo que meu aspecto é de um boliviano daqueles que tocam zamponas em cidades brasileiras em praças públicas. Quando tento achar novamente a saída uma policial lindíssima fecha meu caminho. Caio na besteira de bater continência. Ela não gosta da brincadeirinha. Vejo pelos olhos que ela já conseguiu mandar alguem para a cadeira elétrica. Tento achar um telefone público, mas no momento todos estão tomados por policiais tentando se comunicar com suas famílias. É a final da NBA, e todos querem informações sore o desenvolvimento da partida. Finalmente um tira camarada me dá uma dica de saída e me vejo novamente na praça central da cidadezinha. Nem sinal da van marrom e branca de Kathy. Começo a me desesperar. Elas são minha única chance de sair daquele paraíso de esquiadores. Procuro um orelhão, e no meu sonho eles ainda existem. Vasculho meus bolsos da calça jeans, que estão cheios de papéis, anotações, poemas, mas nem um sinal, nem uma pista de onde eu estava hospedado. Converso com um jovem hippie de bicicleta que decide me ajudar. Ele pede moedas para que eu possa ao menos ligar para o hotel na cidade vizinha onde eu estava, mas não tenho moeda, apenas um cartão de crédito. Ele diz "serve" e consegue (sabe-se lá como) retirar o equivalente a dois dólares em moedas, que ele me entrega num envelope branco. Um segundo depois ele some misteriosamente. Com meu cartão, lógico. Aí percebo que estou realmente fudido. E outra pessoa, uma mulher com cara de má e com um Dobbermann na coleira, já se apossou do telefone. E pelo jeito ela vai demorar horas. Começa a nevar e fazer frio e percebo que não tenho nenhum agasalho. E nem sinal da Kathy e sua amiga. Me aproximo de um grupo de pessoas com caras chicanas e latinas mas incrivelmente percebo que não consigo entabular uma frase sequer em espanhol. Eles falam sobre futebol, mas creio que não é sobre a NBA, mas sobre a final do campeonato mexicano, que eles estã oouvindo ao redor de um radinho de ilha. Entro numa quitanda mexicana mas não consigo articular nem uma palavra em espanhol. Todos ficam me olhando com cara de desprezo. Volto para a mesma esquina onde Kathy e a amiga me deixaram. Vasculho cada carro que passa para ver se são elas. Começa a nevar muito. Vários carros com tiras passam por mim, as luzes vermelhas e azuis revistam a neve e ferem meus olhos, mas depois de algumas horas me sinto parte da paisagem. Já virei invisível. Já nem me encaram mais. Percebo que vou ficar muito, muito tempo ainda por ali. Decido deixar-me naquele sonho, pois lembro que tenho compromissos nesta manhã de sábado. Meu outro eu que se vire. Acordo. Confesso que me sinto culpado de ter me deixado ali, sem grana nem documento, numa cidade que vagamente me lembra Aspen, no Colorado.

sábado, dezembro 12, 2009

HOJE, DOMINGO, "CANÇÕES DO ESTÚDIO REALIDADE" EM LONDRINA



CANÇÕES DO ESTÚDIO REALIDADE


O poeta, cantor, violonista e compositor Rodrigo Garcia Lopes apresenta, neste domingo, às 22 horas, dentro da programação do Cabarezinho, na Vila Cultural Cemitério de Automóveis, o show Canções do Estúdio Realidade. No espetáculo, músicas inéditas, como "Fugaz", "Quaderna", "Vertigem", "New York", "Betty Blue" e outras que farão farão parte de seu próximo disco, a ser gravado em 2010. Acompanhado de Eduardo Batistella (bateria) e Marco Scolari (teclados, acordeon), Rodrigo (voz e violão) também tocará canções de seu primeiro CD, Polivox, firmando um diálogo entre a canção brasileira e experimentos sonoros e ritmos como blues, jazz e funk, que tem sido a marca de seu trabalho.

O show traz também uma variedade de estilos musicais como o flamenco ("Paradoxos do Tempo",) reggae (“Ruído do Vidro”), e funk em (“Clique, Plugue, Ligue”), rap ("New York"), comprovando a capacidade absortiva e antropofágica da música brasileira contemporânea. Como escreveu o cantor e compositor Vitor Ramil, um dos maiores artistas da música brasileira contemporânea,: "Rodrigo Garcia Lopes, autor de Polivox, é mesmo um cara de muitas vozes. Vozes dele, vozes de outros. Não é toda a hora que se encontra gente múltipla assim, que escreve poesia e ensaios, faz entrevistas, toca violão, compõe, canta. Tudo bem feito, claro. Para o público em geral, ávido de cultura, uma personalidade criativa e livre dessas por perto, nesta época de especializações, de nichos de mercado, de repetições e limitações, é motivo para comemorar".


Conheça algumas músicas do show no Myspace: http://www.myspace.com/ogirdor2009


Canções do Estúdio Realidade

Rodrigo Garcia Lopes (voz, violão)

Eduardo Batistella (bateria)

Marco Scolari (teclados, acordeon e efeitos eletrônicos).


Dia 13 de dezembro

22 horas

Vila Cultural Cemitério de Automóveis

R. João Pessoa, 103, Londrina (PR)

Ingressos: R$ 10,00

sexta-feira, dezembro 11, 2009

ENQUANTO ISSO

Está rolando o Cabarezinho, organizado pelo Bernardo Pellegrini e Viqui Gil, e ontem foi a abertura com shows muito bons. Hoje às 19 tem a exibição do Satori Uso, filme que co-roterizei com Rodrigo Grota, baseado no poeta nipo-londrinense que inventei e dei vida em 1985. A programação completa tá aí embaixo no blog.

Domingo é a vez do Canções do Estúdio Realidade.

Vamos nelson!

quinta-feira, dezembro 10, 2009

"LONDRINENSES" POR MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA

Meu amigo Maurício Arruda Mendonça fala sobre seu livro Londrinenses, (a ser lançado este mês), às 10 horas da manhã, no Cabarezinho. Aqui, em clic de Yuri Sampaio (se não me engano, esta foto deve ter sido tirada em 1991).

E A BOA DO DIA

Mario Bortolotto já respira sem a ajuda de aparelhos.



Mais um flash da noite em homenagem ao Marião: Maurício Arruda Mendonça atacando uma trilha de blues, eu lendo "Do lado de cá da cidade", poema de Mario, num revival do Poesia in Concert, de 1991, quando fizemos duas noites de performance com o Mario e o Silvio Demetrio, no Bar Valentino.


Aqui eu acompanho o Maurício lendo um trecho de "Gravidade Zero".

CABAREZINHO ANO 10

Começa hoje, na vila cultural Cemitério de Automóveis, (Rua João Pessoa, 103), em Londrina. Ingressos: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia)

Shows:

Quinta, dia 10:
A partir das 22hs
É show - performance do baterista Eduardo Batistella, que depois junta-se à Mizão (guitarra) e Filipe Barthem (baixo), no Bat-Trio;
É isso que vai acontecer - show com Bernando Pelegrini e o Bando do Cão sem Dono;
Tributo a Gigante Brasil - show com o grupo Band'ou em homenagem ao baterista Gigante Brasil (falecido neste ano) e que será substituído por Eduardo Batistella.

Sexta, dia 11:
a partir das 22hs
É isso que vai acontecer - show com Bernando Pelegrini e o Bando do Cão sem Dono;
Fruttilinas do Éden - banda londrinense num cult cover de Rita Lee. Terá participação de Rubens e Betto Nardo, remanescente do Tutti-Frutti;
Gigante Band'ou - grupo Band'ou em performance do repertório do baterista Gigante Brasil.

Sábado, dia 12:
a partir das 22hs
Gigante Band'ou - grupo Band'ou em performance do repertório do baterista Gigante Brasil;
Marquinhos Diet - músico se apresenta com composições próprias;
É isso que vai acontecer - show com Bernando Pelegrini e o Bando do Cão sem Dono.

Domingo, dia 13:
a partir das 22hs
Estúdio Realidade - show do poeta e compositor Rodrigo Garcia Lopes, acompanhado de Marco Scolari e Eduardo Batistella;
Gigante Band'ou - grupo Band'ou em performance do repertório do baterista Gigante Brasil;
É isso que vai acontecer - show com Bernando Pelegrini e o Bando do Cão sem Dono;
Gisele Almeida e Banda - há três anos sem se apresentar em Londrina, cantora trará clássicos do seu repertório, com músicas de Steve Wonder e Janis Joplin.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

ONTEM

Foi muito bonita e emocionante a homenagem que fizemos ontem ao Mario Bortolotto, com direito à minha imitação dos trejeitos do Marião lendo seus próprios poemas. Desde 1992, quando fizemos o Poesia in Concert em duas noites de Valentino lotado, eu queria imitar o jeitão do Marião ler seus poemas com seu falso sotaque carioca do Jardim do Sol, e ontem consegui, apesar de não ter tido a aprovação de todos. Já que o homem não tava lá, eu incorporei o bicho. Foi divertido.

Christine Vianna, Beatriz Bajo, Samantha Abreu, Maurício Arruda Mendonça, Áurea Palhano, Celia Musilli, Alexandre Horner, Herman Schmitz, Valéria, Valquir Fedri e eu lemos poemas da lavra bortolottiana. Maurício leu trechos de peças do Mario. Bernardo Pellegrini tocou sua parceria com o Mário, "A Lua é Minha". Eu toquei a novíssima "Quaderna" e fui mestre de cerimônias. Gegê Félix fez umas camas sonoras muito malucas no violão. Carlos Bozelli e o grande Marcos Losnak foram os organizadores do lance.

Foi uma noite especial ali na Vila Cultural Cemitério de Automóveis. Que recebe o Cabarezinho a partir de amanhã.

E Marião prossegue melhorando. É isso o que a gente quer.

Meu bróder Maurício Arruda Mendonça lendo trechos de peças do Bortolotto

Valquir Fedri lendo "Do lado de cá da cidade"

Samantha Abreu em "O vira-lata"

FOTOS: CARLOS BOZELLI

MATÉRIA SOBRE TRADUTORES PARANAENSES NA GAZETA DO POVO

LITERATURA

Outras palavras

Tradutores paranaenses conquistam espaço no mercado editorial, concentrado em São Paulo e Rio de Janeiro

Publicado em 07/12/2009 | MÁRCIO RENATO DOS SANTOS

Curitiba, já faz tempo, é apontada como uma cidade literária. Mais que isso: o Paraná é um estado com tradição e presença no mapa da literatura brasileira. Escritores como Dalton Trevisan, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Do mingos Pellegrini e Miguel San ches Neto têm os seus livros publicados por editoras de repercussão nacional.

Mas os paranaenses também se fazem presentes no circuito literário nacional devido a uma outra atividade: a tradução.

Caetano Waldrigues Galindo é um tradutor que, em anos recentes, passou a ser solicitado por editoras paulistanas. Para a Companhia das Letras, uma das mais importantes casas editoriais brasileiras, ele traduziu (este ano) Hotel Mundo, de Ali Smith. A pedido da Companhia, traduz, neste momento, Vício Inerente, de Thomas Pynchon e, em parceria com o curitibano Christian Schwartz, realiza a tradução de letras de Lou Reed para um futuro livro.

Galindo, Schwartz e outros tradutores paranaenses (ou radicados no Paraná) vertem ao português textos de ficção que estão, a cada dois meses, na revista Arte & Letra: Estórias, publicação curitibana apontada como uma vitrine para tradutores (além disso, a revista também publica originais, inclusive de autores brasileiros).

Existiria um movimento ou grupo de tradutores em Curitiba, no Paraná? Galindo responde, e a resposta é compartilhada por outros tradutores consultados pela Gazeta do Povo: “Na boa, isso é meio que um negócio solitário mesmo. Eu e o Christian, agora, trabalhando juntos (no projeto do Lou Reed), andamos trocando umas ideias. Mas em geral acho que a empresa (a tradução) é isolada.”

Um exemplo poético

A trajetória do londrinense Rodrigo Garcia Lopes exemplifica uma possibilidade para quem pretende ser tradutor no Brasil. Hoje com 44 anos, ele começou a traduzir no mesmo momento em que começou a escrever poesia, em 1982, com 17 anos. Nas páginas do extinto suplemento Leitura, da Folha de Londrina, ele (em parceria com Maurício de Arruda Mendonça) assinou uma tradução para fragmentos de Uivo, de Allen Ginsberg.

Desde então, traduziu mais de 200 poemas, de 200 autores, o que daria um livro (projeto que ele não descarta de vir a ser realizado). Lopes, seguindo uma su gestão do poeta Ezra Pound, optou pela tradução como uma maneira de aprender a escrever poesia. Já publicou seis livros, dois deles muito badalados: Fo lhas de Relva, de Walt Whitman, e Ariel, de Sylvia Plath (em parceria com Maria Cristina Lenz de Macedo).

Ele acredita que um tradutor tem de ser, simultaneamente, um leitor e um escritor, opinião compartilhada por outros profissionais. “Afinal, o tradutor tem de conhecer, e entender, os dois idiomas, de onde ‘saiu’ e para ‘onde’ irá o texto”, diz. O poeta e tradutor acrescenta que o tradutor não pode impor a sua própria voz, mas também não deve se esconder demais. “Na tradução, não se deve ‘trair’ de mais, nem de menos”, afirma.

Uma arte refinada

Roberto Mugiatti, curitibano ra dicado no Rio de Janeiro, cita uma frase de Paulo Henriques Britto (renomado tradutor) a respeito do ofício: “A gente só lê bem um livro se está fazendo a tradução.” A afirmação aponta para uma questão importante: o tradutor precisa ler atentamente a obra que está traduzindo, leitura essa que inclui contextualização histórica do período em que o texto original foi escrito (para evitar, por exemplo, equívocos a respeito de expressões coloquiais). Muggiati já traduziu mais de 60 livros, entre os quais alguns de John Fante, como Per gunte ao Pó, que anteriormente havia sido traduzido por outro curitibano, o poeta Paulo Leminski.

Leminski é considerado um tradutor ousado. Ele traduziu livros de John Lennon e Samuel Beckett, e costumava praticar a transcriação (uma espécie de recriação do texto original). Cae tano Galindo acredita que a tradução, de maneira geral, é um jogo que envolve a criatividade. “Ler uma tradução é ouvir uma história contada pela segunda vez, por outra pessoa. É ler o mesmo livro, escrito de novo, por outro escritor (o tradutor)”, afirma.

Natural

A tradutora Márcia de Carvalho Saliba observa que a boa tradução é aquela que soa natural, que não deixa o eco do idioma original. “A tradução ruim, ao contrário, me lembra a cada linha, a cada palavra, que o texto não foi escrito em português”, argumenta. Sandra Stroparo, que acaba de traduzir Viagem Em Volta do Meu Quarto, de Xavier de Maistre, projeto encomendado por uma empresa curitibana, mas viabilizado pela Hedra (SP), diz algo que é vital para os tradutores: “É o mercado, a demanda das editoras, que define (a atividade de um tradutor)”.