domingo, outubro 08, 2006

Dois poemas de Laura Riding

O MUNDO E EU


Isto não é bem o que quero dizer, não,
Nada mais do que o sol é o sol.
Mas como significar mais corretamente
Se o sol brilha aproximadamente?
Que mundo mais desajeitado!
Que hostis implementos de sentido!
Talvez isto seja o sentido mais preciso
Que talvez fiquem bem o saber disso.
Ou então, acho que o mundo e eu, sim,
Devemos viver como estranhos até o fim –
Um amor azedo, ambos duvidando um pouco
Se um dia houve algo como amar o outro.
Não, melhor termos quase certeza
Cada um de nós onde é que exa‑
tamente eu e exatamenre o mundo falha
Em se cruzar por um segundo, e uma palavra.







NENHUMA TERRA AINDA


Mar demorado, como é fugaz,
De aguidéia a aguidéia
Tão rápida em sentir surpresa e vergonha.
Onde momentos não são tempo
Mas tempo são momentos.

Tanto nem sim nem não,
Tanto único amor, ter o amanhã
Por um fracasso inevitável de agora e já.

Deitados na água barcos e homens fortes,
Mestres em fraqueza, partem para algum lugar:
O mais poderoso dorminhoco em sua cama
É incapaz de conhecer lugares nobres assim.
Então a fé embarcou na terra do marinheiro
Em busca de absurdos em nome do céu –
Descobrimento, uma fonte sem fonte,
Lenda de neblina e paciência perdida.

O corpo nadando em si mesmo
É o querido da dissolução.
Com gotejante boca diz uma verdade
Que não pode mentir, em palavras ainda não nascidas
Da primeira imortalidade,
Onissábia impermanência.

E o olho empoeirado cujas agudezas
Tornam-se aguadas na mente
Onde ondas de probabilidade
Escrevem a visão com letra de maré
Que só o tempo pode ler.

E a terra seca ainda não,
Salvação e solidão absolutas –
Ostentando sua constância
Como uma ilha sem água ao redor
Numa água sem terra alguma.



(Em Mindscapes, Poemas de Laura Riding, Trad. RGL, Iluminuras, 2004)

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