quinta-feira, agosto 30, 2007

SOBRE O FILME "SATORI USO" (Estadão de Hoje)

Uma aula de cinema em apenas 17 minutos


LUIZ CARLOS MERTEN


POEMA FILMADO: Melhor curta do recente Festival de Gramado, Satori Uso ganhou prêmios da crítica e o de aquisição do Canal Brasil, mas foi contemplado pelo júri oficial só com o prêmio de fotografia.

Não que a fotografia de Carlos Ebert não seja fundamental no conceito do filme (além de ser muito bem resolvida, do ponto de vista técnico e artístico). É que Satori Uso merecia mais - o Kikito de melhor filme, que o júri outorgou a Alphaville 2007. No mínimo, o prêmio de direção.

Para falar sobre Satori Uso, talvez seja interessante recorrer a autores que certamente estão no centro das referências de cinéfilo do jovem diretor paranaense Rodrigo Grota. Ele viu, sem sombra de dúvida, Zelig, de Woody Allen, e Verdades e Mentiras, de Orson Welles (e François Reichenbach). O segundo, em especial, baseado na obra do falsificador Elmyr de Hory, tinha tudo a ver com a falsificação de Satori Uso.

O filme sobre um poeta que nunca existiu é assinado por um documentarista imaginário, Jim Kleist. Nenhum dos dois existe, mas Rodrigo Grota, com base nas investigações descritas na reportagem acima, criou o correspondente cinematográfico do poeta, este cineasta para o qual inventou uma filmografia e um estilo.

Jim Kleist nunca concluiu um filme. Satori Uso visava a sombra e o silêncio. Como contar a história de um homem que não quer aparecer? Satori é revelado por meio de Kleist e de Satine, sua musa, cujo nome é a uma homenagem a Nicole Kidman de Moulin Rouge, de Baz Luhrmann.

Esplendidamente escrito, filmado, fotografado e dirigido, Satori Uso concentra toda uma aula de cinema (e arte e vida) em 17 minutos. Este grau de sofisticação não é muito freqüente no cinema brasileiro de qualquer formato.



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