em cena do curta Satori Uso
Satori Uso, meu heteronômio criado em 1985 e que virou curta-metragem em 35 mm, escrito por mim e o diretor Rodrigo Grota, dirigido por ele, venceu ontem três prêmios no importante Festival de Cinema de Gramado: Prêmio de Melhor Fotografia, para Carlos Ebert, e Prêmio da Crítica, para Rodrigo Grota.
Jamais imaginaria que quando criei o poeta japonês Satori Uso e sua biografia fake, em 1985, na página Leitura (e mesmo quando Flavio Lanaro publicou matéria de um ano da morte, em 1986), nem mesmo quando publiquei os poemas dele numa seção específica no livro Polivox, de 2000, que minha criação voasse tão longe e que um dia fosse ganhar as telas.
O filme também ganhou um prêmio do Canal Brasil (onde será exibido em 2009) e já foi convidado para participar de festivais de cinema na Espanha e França.
Parabéns ao diretor Rodrigo Grota e a toda a equipe do filme.
Longa vida a Satori Uso!
E o crítico de cinema de O Estado de S. Paulo, Luiz Carlos Merten, rasga seda para Satori Uso em matéria da última sexta:
Seleção de curtas leva vantagem sobre os longas
Além de mais interessantes, as produções de curta-metragem ganham com a troca de horário de exibição na mostra gaúcha
Luiz Carlos Merten
E no quinto dia veio o frio, satisfazendo a expectativa de críticos e convidados que suportam bem uma seleção fraca no Festival de Gramado, mas simplesmente não toleram altas temperaturas na cidade serrana do Rio Grande do Sul. Gramado, no imaginário do público, é sinônimo de inverno, de frio, e ele veio ontem, com previsão de ficar (a meteorologia anuncia neve para o fim de semana). A temperatura baixa, os debates esquentam. Algo está se passando neste 35° festival, e é em geral à tarde. A seleção de curtas anda bem mais interessante do que a de longas. Os curtas-metragistas, que se queixam da mudança de horário, sentindo-se desprestigiados pela organização do festival, deveriam dar graças a Deus. A competição de curtas, à tarde, desvinculada do tititi que a de longas geralmente provoca, tem ganhado muito.
O melhor filme exibido até agora em Gramado, neste ano, é um curta que passou na quarta-feira à tarde. Reze para que ele esteja na seleção do Festival Internacional de Curtas de Zita Carvalhosa, que começa na semana que vem. Satori Uso, do londrinense Rodrigo Grota, é uma jóia com duração de 17 minutos. O risco de se falar sobre Satori Uso é quebrar, antecipadamente, o encanto que o filme oferece para platéias de cinéfilos. No catálogo do festival, a sinopse é a seguinte - 'Um poeta das sombras, um cineasta sem filmes e uma musa enigmática. Um documentário sobre um poeta que nunca existiu, apresentado por um cineasta imaginário.' Está desvendado o segredo de Satori Uso, o filme.
Como em Verdades e Mentiras (F for Fake), de Orson Welles, Rodrigo Grota fez um falso documentário sobre um falso poeta. O filme dentro do filme é assinado por Jim Kleist, cineasta americano que, ao longo de uma carreira de 40 anos, nunca concluiu uma obra sequer. Filmado em impecável preto-e-branco e falado em inglês, o filme, informa o letreiro, foi gentilmente cedido pela família do cineasta para a realização de Satori Uso. Logo no começo, Jim Kleist manifesta seu desejo de fazer um filme sobre um homem que prefere as sombras e o silêncio. Para contar a história de um personagem com essas características, ele precisa de um fator externo (e trágico). Rodrigo Grota, sem querer, fez a melhor crítica do filme argentino Nacido y Criado, de Pablo Trapero, exibido na noite anterior - e que é, até agora, disparado, o melhor longa estrangeiro (latino) da competição.
O que é verdade, o que é mentira no cinema, essa mídia que parece tão realista que o espectador toma como verdadeiras coisas que, na realidade, são encenadas diante da câmera? O próprio documentário flerta cada vez mais com a ficção. Verdades, mentiras. O ciclo fecha-se com o nome que Rodrigo Grota dá à musa de Satori. Ela se chama Satine, como a estrela do cabaré de Baz Luhrmann em Moulin Rouge, e o próprio diretor informa que não se trata de mera coincidência. O festival começou a esquentar. O curta de Eduardo Kishimoto na terça-feira (A Psicose de Valter), outro curta, o de Paulinho Caruso, também na quarta (Alphaville 2007 d.C.), que dialoga com o cult de Jean-Luc Godard para expor na tela, por meio da oposição entre um executivo e um caubói, o apartheid social brasileiro. Curiosamente, o filme de Caruso é narrado em francês, como o de Rodrigo Grota é em inglês. Que País é este?
Gramado começa a acontecer.
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