sábado, julho 03, 2010

BYE BYE, BLACKBIRD











PAULICÉIA REVISITADA

                 para Roberto Piva




Esta chave abre brechas na realidade

É a tarde suicida atropelando os escombros da cidade sitiada

Eu ou meu outro acenando girassóis na multidão ensandecida

É a marcha das Imagens vazias presas aos ferros, levando pedradas,

Dor coroada como índios em brasa nas calçadas do ressentimento

E o bisturi que divide o sangue com bastões bíblicos sobre o pôr-do-sol gelado

E é a senha do falo, lugar de força & delírio

Falésia-edifício que despenca sem ruído e mergulha em sua poeira paranóica

Um delicado caos filtrado em preto-e-branco na escala progressiva da mente

Esta chave se transforma nisto, nervo exposto, numa realidade de palavras

Que exorcizam a saraivada de graça das igrejas capitalistas

É a extensão da alegria náufraga entre bruscas ondas negras

É o link de todas as conversas mantidas no mundo neste instante

São as marcas na pele dilatada com seu nome escrito a sangue

É meu amor moribundo no abismo, dedilhando o banzo de seu exílio atroz

É a noz de uma palavra que explode como um ácido espelha sua linguagem vermelha

É o trânsito franco-atirador e a muvuca das esquinas com fumadores de crack descendo ao inferno num teatro de guerra a céu aberto

É o silêncio depois do gozo das fábulas invertidas da verdade ambulante

Esta chave guarda o pólen que o enxame não seqüestrou, é carne translúcida,

É o exame minucioso da alma em seu recuo trêmulo sobre o elevado invisível flashback

Não é câmera digital, mas abraça o mundo em sua estranheza absoluta mesmo assim

Chave que abre a porta dos ecos e nomes secos sobre as heras eternas







Rodrigo Garcia Lopes
(Em Nômada, Lamparina, 2004)

(Minha homenagem 

ao grande poeta 

ROBERTO PIVA)

3 comentários:

m.r.mello disse...

rodrigo, há tempos acompanho teu blog, coyotes, poemas & traduções. sou curitibano, moro atualmente no rio de janeiro, dando aulas & fazendo cadernos. montei uma editora experimental com um amigo; meu próprio livro virou cobaia & como gostei do que escreves, entro agora em contato. achei que talvez se interessasse, ao menos na mais pura amizade. espero trocar poemas e quem sabe um dia nos encontramos por aí - ou por aqui - para um bom bate-papo.

ah...tenho um bloguinho também, que infelizmente atualizo pouquíssimo: www.cozinhapoesia.blogspot.com

um abraço fraterno,

marcelo.

Pedrinho RENZI disse...

beleza de POESIA VIVA na ESTRUTURA HUMANA DE UM POETA QUE TEVE A CORAGEM E HONESTIDADE INTELECTUAL DE DIZER...
O CAPITALISMO INDUSTRIAL TERÁ O SEU FIM...com o escravismo feudalismo socialismo...e outros ismos...
a POESIA ZEN-BUDISTA-MARXISTA E MISTICA DESTE FLANNER PAULISTA FICARÁ PARA SEMPRE NA MEMORIA DOS LIVROS E NOS POETAS...NA LEITURA DA POESIA...
afinal de contas...a POESIA É PARA SER LIDA!!
parabéns amigo RODRIGO!

Ivone fs disse...

ontem teve uma celebração na Casa das Rosas - homenagem ao Piva,
estive por lá. foi muito massa!