PAULICÉIA REVISITADA
para Roberto Piva
Esta chave abre brechas na realidade
É a tarde suicida atropelando os escombros da cidade sitiada
Eu ou meu outro acenando girassóis na multidão ensandecida
É a marcha das Imagens vazias presas aos ferros, levando pedradas,
Dor coroada como índios em brasa nas calçadas do ressentimento
E o bisturi que divide o sangue com bastões bíblicos sobre o pôr-do-sol gelado
E é a senha do falo, lugar de força & delírio
Falésia-edifício que despenca sem ruído e mergulha em sua poeira paranóica
Um delicado caos filtrado em preto-e-branco na escala progressiva da mente
Esta chave se transforma nisto, nervo exposto, numa realidade de palavras
Que exorcizam a saraivada de graça das igrejas capitalistas
É a extensão da alegria náufraga entre bruscas ondas negras
É o link de todas as conversas mantidas no mundo neste instante
São as marcas na pele dilatada com seu nome escrito a sangue
É meu amor moribundo no abismo, dedilhando o banzo de seu exílio atroz
É a noz de uma palavra que explode como um ácido espelha sua linguagem vermelha
É o trânsito franco-atirador e a muvuca das esquinas com fumadores de crack descendo ao inferno num teatro de guerra a céu aberto
É o silêncio depois do gozo das fábulas invertidas da verdade ambulante
Esta chave guarda o pólen que o enxame não seqüestrou, é carne translúcida,
É o exame minucioso da alma em seu recuo trêmulo sobre o elevado invisível flashback
Não é câmera digital, mas abraça o mundo em sua estranheza absoluta mesmo assim
Chave que abre a porta dos ecos e nomes secos sobre as heras eternas
Rodrigo Garcia Lopes
(Em Nômada, Lamparina, 2004)
(Em Nômada, Lamparina, 2004)
(Minha homenagem
ao grande poeta
ROBERTO PIVA)
3 comentários:
rodrigo, há tempos acompanho teu blog, coyotes, poemas & traduções. sou curitibano, moro atualmente no rio de janeiro, dando aulas & fazendo cadernos. montei uma editora experimental com um amigo; meu próprio livro virou cobaia & como gostei do que escreves, entro agora em contato. achei que talvez se interessasse, ao menos na mais pura amizade. espero trocar poemas e quem sabe um dia nos encontramos por aí - ou por aqui - para um bom bate-papo.
ah...tenho um bloguinho também, que infelizmente atualizo pouquíssimo: www.cozinhapoesia.blogspot.com
um abraço fraterno,
marcelo.
beleza de POESIA VIVA na ESTRUTURA HUMANA DE UM POETA QUE TEVE A CORAGEM E HONESTIDADE INTELECTUAL DE DIZER...
O CAPITALISMO INDUSTRIAL TERÁ O SEU FIM...com o escravismo feudalismo socialismo...e outros ismos...
a POESIA ZEN-BUDISTA-MARXISTA E MISTICA DESTE FLANNER PAULISTA FICARÁ PARA SEMPRE NA MEMORIA DOS LIVROS E NOS POETAS...NA LEITURA DA POESIA...
afinal de contas...a POESIA É PARA SER LIDA!!
parabéns amigo RODRIGO!
ontem teve uma celebração na Casa das Rosas - homenagem ao Piva,
estive por lá. foi muito massa!
Postar um comentário