terça-feira, fevereiro 12, 2008

6 MOVIMENTOS DE CÂMERA (poema de Nômada)

travelling



Os jardins do olho se propelem

à velocidade do tempo ele confere

o além de sua própria pele

entre tatuagens de fome. Se atreve

em insistir sentir dor, algum

odor de penhasco ou penumbra

no corpo em silêncio que se afasta

enquanto penetra sua própria face.




close



Num segundo a flor se fecha

como dedos

no vazio de seu segredo.




plano americano



Carregamos o corpo, frágil sopro em movimento.

Criança, dois traços verticais eram pessoas.

Imagens se abrem, vazias, como biombos.

O que estava escrito na grama dos eventos.

Chegamos aqui, no entanto estamos em movimento.




contraplongée



Rebatimento de luz, rouca

voz no espelho como ausência de silêncio

que não existe, bolhas na superfície

dessa face, água tão pouca.




plano fixo



Música da facelíngua dos dedosdesejo pelo que não existe mais.




zoom



A um passo de passado, paraíso:

O que se move é o percebido

(formiga na folha de capim

dedos roçando o corpo morno

bem-te-vi furando o silêncio da manhã

o vôo do pequeno falcão

o verde visível tremulando contra o azul

sua face inclinada olhando a parede)

As coisas existem agora porque estamos aqui.

Quando não estivermos mais, continuarão existindo,

Mas sem seu amante para lhe dar ainda mais sentido.

Os instantes, sem as coisas, não são nada.

Pássaros debandam, não sei como chamá-los.

A voz, admitindo fracasso, se afasta mas deixa seus rastros.




Um comentário:

Anônimo disse...

Poema envolvente e denso.
Gostei.