[...]
Solitário à meia-noite no quintal, meus pensamentos partem de mim por muito tempo,
Andando pelas antigas colinas da Judéia ao lado do deus belo e gentil;
Acelerando pelo espaço . . . . acelerando pelo céu pelas estrelas,
Acelerando entre os sete satélites e o imenso anel e seu diâmetro de oitenta mil milhas,
Acelerando com o rabo dos meteoros . . . . lançando bolas de fogo com eles,
Levando a cria crescente que traz sua mãe cheia em seu ventre:
Se enfurecendo adorando tramando amando avisando,
Pra trás e pra frente, surgindo e sumindo,
Noite e dia cruzo esses caminhos.
Visito os pomares de Deus e contemplo seus esféricos produtos,
Considero os quintilhões já maduros e os quintilhões ainda verdes.
Meu vôo é o vôo de uma alma fluida e voraz,
Minha trajetória profunda além do alcance das sondas.
Vou me servindo do material e do imaterial,
Não há vigilância que me pegue, nem lei que me proíba,
Ancoro minha nave só por um segundo,
Meus mensageiros não param de partir ou trazer seus relatos pra mim.
Saio à caça de peles polares e focas . . . . salto abismos com uma vara afiada . . . . me
agarro nos picos quebradiços e azuis.
Subo no mastro da proa . . . . já noite alta me ajeito no cesto da gávea . . . . navegamos
pelo ártico . . . . tem luz o bastante,
Pela atmosfera transparente me espreguiço na beleza maravilhosa,
Massas imensas de gelo passam por mim e eu por elas . . . . o cenário é claro em todas as direções,
Montanhas com seus picos brancos apontam na distância, lanço minhas fantasias até elas;
Chegamos a um grande campo de batalha onde logo entraremos em ação,
Passamos pelos postos avançados colossais dos acampamentos . . . . passamos com pés silenciosos e cautela,
Ou entramos nos subúrbios de uma imensa cidade arruinada . . . . [...]
Trecho de "Song of Myself, de Walt Whitman
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
Em Folhas de Relva (Iluminuras 2005)
Um comentário:
cara, não tem como não lembrar do pessoa/álvaro de campos.
abrações
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