"Storm the Reality Studio, and retake the universe" ("Assaltem o Estúdio Realidade, e retomem o universo") WILLIAM S. BURROUGHS
terça-feira, dezembro 30, 2008
sexta-feira, dezembro 19, 2008
A LUME SPENTO
Colhe com seus olhos a fumaça que insinua
ao penetrar — sendo incenso e silêncio —
sua mente em meio ao tráfego intenso
da manhã, relumbre em suas mãos nuas.
Daqui das margens desse sonho
ideogramas de formas obscuras
reescrevem seus gestos num bazar estranho
sem saber ao certo o que procura:
Se meus olhos, opacos, entre bijuterias
baratas que você arremessou
(como quem dedilha um sol menor ou
a linha acesa de minhas artérias)
Mas sem querer você abre, de leve,
as persianas e invade uma sutil
reminiscência do que nunca existiu
(Ou, como seu rosto, foi tão breve).
Rodrigo Garcia Lopes (Nômada, 2004)
terça-feira, dezembro 16, 2008
PEDRA DE TOQUE (poesia brasileira - entrevistas)
Nos meses de setembro, outubro e novembro, o Ademir Assunção entrevistou 15 poetas para uma série do Itau Cultural chamada Pedra de Toque. Os entrevistados são André Vallias, Armando Freitas Filho, Claudia Roquete Pinto, Paulo Henriques Britto, Paulo Scott, Alice Ruiz, Horácio Costa, Ronald Polito, Carlos Ávila, Afonso Ávila, Sebastião Nunes, Geraldo Carneiro, Glauco Mattoso, Arnaldo Antunes e Micheliny Verunschk. E vem mais por aí. Os depoimentos, na própria voz dos poetas, já estão no site do Itaú Cultural. Podem ser ouvidos no seguinte link: http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2752&categoria=34629
domingo, dezembro 14, 2008
CIDADES (de Arthur Rimbaud: tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)
CIDADES
Que cidades! É um povo para o qual foram montados Apalaches e Líbanos de sonho! Chalés de cristal e madeira deslizam sobre trilhos e polias invisíveis. Crateras ancestrais circundadas de colossos e palmeiras de cobre rugem melodiosamente dentro dos fogos. As festas do amor badalam nos canais suspensos atrás dos chalés. Matilhas de sinos gritam nas gargantas. Associações de cantores gigantes chegam em trajes e adereços cintilantes como a luz nos cimos. Sobre as plataformas, em meio a precipícios, os Rolands buzinam sua bravura. Sobre as passarelas do abismo e os tetos dos albergues, o arder do céu hasteia os mastros. O colapso das apoteoses concentra os campos das alturas onde centaurinas seráficas evoluem entre as avalanches. Acima do nível das mais altas cristas, um mar atormentado pelo eterno nascimento de Vênus, repleto de frotas orfeônicas e do murmúrio de pérolas e conchas preciosas, — às vezes o mar se escurece com brilhos mortais. Nas encostas, safras de flores imensas bramem como nossas armas e taças. Cortejo de Mabs em robes russos, opalinas, trepam nas ravinas. E lá em cima, as patas nas sarças e cascatas, cervos sugam os seios de Diana. bacantes de subúrbio soluçam e a lua queima e uiva. Vênus penetra nas cavernas de ferreiros e eremitas. Torres de sinos cantam as idéias das pessoas. A música desconhecida escapa dos castelos de osso. Todas as lendas evoluem e élans invadem os burgos. O paraíso de tempestades despedaça. Selvagens dançam sem cessar a festa da noite.
E, uma hora, desci na agitação de um bulevar em Bagdá onde companhias cantaram a alegria do trabalho novo, sob uma brisa espessa, circulando sem poder iludir os fantasmas fabulosos dos montes, onde se devia reencontrar.
Que braços bons, que hora adorável vão me devolver essa religião de onde vêm meus sonos e meus movimentos mais sutis?
ARTHUR RIMBAUD
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
Em Illuminations (Editora Iluminuras, 1994)
sexta-feira, dezembro 12, 2008
OLHA
Meu amigo e irmão Maurício Arruda Mendonça (com quem traduzi Sylvia Plath e Rimbaud), é o autor dessa pérola de poema. Ele é um de meus poetas favoritos, embora escreva pouco (poesia) e infelizmente não seja mais conhecido. Este poema virou uma musica de arrepiar nas mãos do Bernardo Pellegrini.
OLHA
olha : eu ando louco à procura
de um olhar que como o seu
me acalme um pouco
e eu possa chamar poema
salto de cervo
lua de outono
olha : a parede se descasca
poeira em tudo o que fica
pense um pouco
cinza de cigarro
tubo de caneta
não foi assim
que eu te ensinei a mentir
tenho febre
algum tipo de dor
mas ainda que eu erre
olha : velocidade é uma fissura
da juventude
solidão é um método maluco de saber
quem está dentro de você
quando a cidade inteira
te odeia mas
entre almas de jeans
você segue
olha : nada na neblina
além de borboletas transando
estátuas se mexendo
pessoas que se esqueceram de sorrir
e você vai se matando
de tanto dizer sim
mas
olha : a chuva fina no asfalto
:
a sua pele sobre o meu corpo
pra sempre
MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA
Em Eu Caminhava Assim Tão Distraído (Setteletras)
Poema musicado por Bernado Pellegrini no CD Dinamite Pura.
quinta-feira, dezembro 11, 2008
CIDADE (Arthur Rimbaud: trad: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)
CIDADE
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística maluca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — as novas Erínias, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua.
ARTHUR RIMBAUD
(Em Illuminations)
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística maluca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — as novas Erínias, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua.
ARTHUR RIMBAUD
(Em Illuminations)
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)
quarta-feira, dezembro 10, 2008
PENSAMENTO DO DIA (LEONARD COHEN)
"Poetry is just the evidence of life. If your life is burning well, poetry is just the ash.”
LEONARD COHEN
LUCIFER POETICS GROUP EM THE FANZINE
O amigo e poeta BRIAN HOWE fez uma ótima antologia da poesia do Lucifer Poetics Group, o grupo do qual participo aqui na Carolina, para a a revista THE FANZINE. Para quem quiser saber o que os poetas da Carolina do Norte andam escrevendo: poemas de Chris Vitiello, David Need, Dianne Timblin, Joseph Donahue, kathryn i. pringle, Ken Rumble, Magdalena Zurawski, Patrick Herron, Rodrigo Garcia Lopes, Tanya Olson, Tessa Joseph Nicholas, and Tony Tost.
Os poemas c:/polivox.doc e América # 3 aparecem aqui na brilhante tradução de Chris Daniels.
AQUI:
http://thefanzine.com/articles/poetry/295/lucifer_poetics-_the_state_of_nc_part_2/9
Os poemas c:/polivox.doc e América # 3 aparecem aqui na brilhante tradução de Chris Daniels.
AQUI:
segunda-feira, dezembro 08, 2008
A MUSA CHAPADA
Meu amigo Pinduca (mais conhecido como Ademir Assunção) está lançando hoje um novo livro de poemas, em parceria com o Antonio Pietroforte e desenhos do Carlos Carah. Ainda não vi o livro, mas pelo que li deve ter ficado muito bom. Tem abertura de uma exposição de desenhos do Carah e show da banda de outro amigo, o Marião Botolotto, a Saco de Ratos.Pra quem tiver em Sampa.
sexta-feira, dezembro 05, 2008
SALDO (Arthur Rimbaud, trad. Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)
Vende-se o que os Judeus não venderam, o que nem a nobreza nem o crime
provaram, o que o amor maldito e a honestidade infernal das massas ignoram;
o que nem a ciência nem o tempo reconhecem;
As vozes restauradas, o despertar fraterno de todas as energias corais e
orquestrais e suas aplicações instantâneas; ocasião única de liberar nossos
sentidos!
Vende-se Corpos sem preço, de qualquer raça, de qualquer mundo, de
qualquer sexo, de qualquer descendência! Riquezas brotando a cada passo!
Saldo de diamantes sem controle!
Vende-se anarquia para as massas; satisfação irreprimível para amadores
superiores; morte atroz para os fiéis e os amantes!
Vende-se casas e migrações, esportes, magias e comfortos perfeitos, e o ruído,
o movimento e o futuro que eles fazem!
Vende-se aplicações de cálculo e saltos inauditos de harmonia. Achados e
termos sem suspeita, entrega imediata,
Impulso insensato e infinito aos esplendores invisíveis, às delícias insensíveis,
— e seus segredos enlouquecedores para cada vício — e uma alegria
assustadora para a multidão.
Vende-se Corpos, vozes, a inquestionável opulência imensa, que nunca será
vendida. Os vendedores têm muitos estoques para liquidar! Os viajantes não
precisam ter pressa para entregar as encomendas!
ARTHUR RIMBAUD
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça. (Em Iluminuras: Gravuras Coloridas, Iluminuras 1994)
quinta-feira, dezembro 04, 2008
terça-feira, dezembro 02, 2008
Dickinsoncampos
INTERLÚDIO
Interrupções são bem-vindas, dizia Cage.
Bem, desde que o sentido, já ruína, deixe
Estabelecer seu ruído como um feixe
Que cruze o ar como um reflexo e beije
A mente à deriva, cansada de viagem.
Ele foi e voltou, nunca viu nem sabe
Da lua nova rangendo seus dentes de sabre,
Do silêncio que, cuidadoso, se abre
Para que a nata do vácuo nos consagre.
Interrupções são bem-vindas, dizia Cage.
Bem, desde que o sentido, já ruína, deixe
Estabelecer seu ruído como um feixe
Que cruze o ar como um reflexo e beije
A mente à deriva, cansada de viagem.
Ele foi e voltou, nunca viu nem sabe
Da lua nova rangendo seus dentes de sabre,
Do silêncio que, cuidadoso, se abre
Para que a nata do vácuo nos consagre.
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