"Storm the Reality Studio, and retake the universe" ("Assaltem o Estúdio Realidade, e retomem o universo") WILLIAM S. BURROUGHS
segunda-feira, setembro 29, 2008
ACORDAR, ÚNICO SUSTO,
e ver a chuva sobre o pântano
a primeira chuva do ano
dunas resistindo a todo custo.
Eliminar todo pensamento
De dor. Ficar um momento
Isopor, em silêncio, meditando
sobre as qualidades do branco.
Minha alma, mesmo fora
dessa chuva, se curva
às qualidades do agora;
Está lavada por dentro.
Rodrigo Garcia Lopes (em Visibilia, 1996)
GIGANTE BRAZIL (1952-2008)
domingo, setembro 28, 2008
NOMADISMO
sábado, setembro 27, 2008
Paul Newman (1925-2008)
sexta-feira, setembro 26, 2008
MINHA VIDA NOS TUBOS DE SOBREVIVÊNCIA (poema de Roberto Bolaño, traduzido por Rodrigo Garcia Lopes)
Como eu era pigmeu e amarelo e de feições agradáveis
E como eu era esperto e não estava a fim de ser torturado
Num campo de trabalho ou numa cela acolchoada
Me meteram no interior deste disco voador
E me disseram “voa e encontra o teu destino”. Mas que
Destino iria eu encontrar? A maldita nave parecia
O holandês voador pelos céus do mundo, como se
Quisesse fugir de minha menos-valia, de meu esqueleto
Singular: uma cusparada na cara da Religião,
Uma machadada de seda nas costas da Felicidade,
Apoio Moral e Ético, a fuga para a frente
De meus irmãos verdugos e meus irmãos desconhecidos.
Todos enfim humanos e curiosos, todos órfãos e
Jogadores cegos à beira do abismo. Mas tudo isso
Dentro do disco voador não podia deixar de ser indiferente para mim.
Ou distante. Ou secundário. A maior virtude de minha espécie traidora
É a coragem, talvez a única coisa que é real, palpável até nas lágrimas
E adeuses. E coragem era o que eu pedia, fechado
No disco, assombrando lavradores e bêbados
jogados nas valas. Invoquei a coragem na maldita nave
Enquanto trilhava por guetos e parques que para um transeunte
Deviam parecer enormes, mas que para mim eram só tatuagens sem sentido,
Palavras magnéticas e indecifráveis, apenas um gesto
Insinuado debaixo do manto de lontras do planeta.
Será que havia me transformado em Stefan Zweig e visto a aproximação
Do meu suicídio? Quanto a isso a frieza da nave
Era inquestionável, no entanto, sonhava
Com um país cálido, uma varanda e um amor fiel e desesperado.
As lágrimas que logo derramava permaneciam na superfície
Do disco durante dias, testemunho de minha dor, mas
De uma espécie de poesia exaltada que cada vez mais
Apertava meu peito, minhas têmporas e meus rins. Uma varanda,
Um país cálido e um amor de grandes olhos fiéis
Se aproximando lentamente através do sonho, enquanto a nave
Deixava estrelas de fogo na ignorância de meus irmãos
E em sua inocência. E éramos uma bola de luz, o disco e eu,
Nas retinas dos pobres camponeses, uma imagem perecível
Que nunca diria o bastante sobre o meu anseio
Ou o mistério que era o princípio e o fim
Daquele artefato incompreensível. Foi assim até o
Fim dos meus dias, submetido aos ventos do arbítrio,
Sonhando, às vezes, que o disco se estatelava numa serra
Da América e meu cadáver quase sem um arranhão surgia
Para oferecer-se aos olhos de velhos montanheses e historiadores:
Um ovo num ninho de ferros retorcidos. Sonhando
Que o disco e eu havíamos concluído nossa dança peripatética,
Ou nossa pobre crítica da Realidade, numa colisão indolor
E anônima em algum deserto do planeta. Morte
Que não me trouxe paz nenhuma, pois após corromper-se a minha carne
Ainda continuava sonhando.
Roberto Bolaño
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
quinta-feira, setembro 25, 2008
ARS POETICA
Como um celofane que se desa-
massa.
Não como certas músicas baratas
baladas que não dizem nada
fazendo companhia para o som do ar-
condicionado.
Ir na veia, sendo suas únicas velas, salvo a possessão.
Vogar fora da voga.
Seita excêntrica?
Post-mortem ismo?
Não é moda: não precisa de marketing
pra dizer a que veio.
Veio, e veio só, na cilada da noite.
Rodrigo Garcia Lopes, em Nômada, 2004)
quarta-feira, setembro 24, 2008
Blogues da Claudia Roquette-Pinto e da Andrea Ramos + Site do Eucanaã Ferraz
Vale a pena conhecer: Link aqui:
http://ouialinspiration.blogspot.com/
Minha amiga Andrea Ramos também estreou esses dias, onde ela posta seus desenhos e sua arte. É aqui:http://andreailustradora.blogspot.com/
terça-feira, setembro 23, 2008
Eles dirigiram o caminho todo até San Francisco desse jeito.
Dava pra ouví-los chegando a uns cinco quilômetros de distância.
O alarme não parecia de jeito algum incomodar a velhinha. Ela achava que estava até agradável. Perto de Chicago, ela disse pro marido, "Parecem abelhas distantes num dia de verão". E o marido disse, "O QUÊ?"
Laurie Anderson, em United States, 1984
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
NAKED CITY
segunda-feira, setembro 22, 2008
OS VISITANTES
Um dos visitantes era um artista conceitual cuja especialidade era teorias sobre informação e verdade. Ele decidiu testar uma de suas teorias no anfitrião.
Então o anfitrião perguntou, "É verdade que vocês têm robôs em suas casas?", e ele respondeu, "Ah, sim. Temos um montão de robôs. É verdade".
O anfitrião perguntou, "É verdade que os americanos vivem na Lua?" O artista respondeu, "Sim, é verdade. Muitos de nós vivem lá. Pra dizer a verdade, vamos pra lá o tempo todo".
Nesta província, no entanto, a palavra para Lua era a mesma palavra para Céu. Os anfitriões ficaram boquiabertos com o fato dos americanos viajarem para o Céu. E eles ficaram ainda mais boquiabertos por serem capazes de voltar de lá -- e que nós fôssemos o tempo todo para lá".
LAURIE ANDERSON, "The Visitors", em United States (1984)
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
Tradutores unidos em defesa da profissão
Eu apóio e aderi.
MAIS PRÊMIOS PRO "SATORI USO"
O curta londrinense SATORI USO (PR, fic, cor e p&b, 17 min, HDV>35mm, 2007), uma produção da KINOARTE com direção de Rodrigo Grota, conquistou no último sábado o Prêmio Especial do Júri de Melhor Roteiro no 6º Curta Santos. E ele recebeu também esta semana uma menção honrosa especial do júri no 14 Festival Internacional de Curtas de Drama, na Grécia. O filme, inspirado na obra de Rodrigo Garcia Lopes, foi escrito por Grota e pelo próprio poeta londrinense. Produzido em 2007 com patrocínio da Prefeitura de Londrina via Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), SATORI USO está disponível em DVD pela Programadora Brasil e pode ser visto no canal da KINOARTE no Youtube (http://www.youtube.com/
domingo, setembro 21, 2008
Perloff lê Wittgenstein
A Escada de Wittgenstein Marjorie Perloff / Edusp / 306 págs./ R$ 57
sábado, setembro 20, 2008
FESTIVAL LONDRIX - nesta terça
O LONDRIX 2008 – Festival Literário de Londrina reúne importantes nomes da literatura brasileira para discutir e pensar os rumos da literatura feita hoje no Brasil, seus impasses e peculiaridades em toda a sua diversidade de experiências. São seis dias de debates, palestras, leituras, shows e oficinas abordando assuntos pontuais e controversos. Nessa edição do Festival jovens escritores brasileiros falam sobre a opção pela literatura e relatam suas experiências com a escrita. Uma reflexão sobre as relações entre quadrinhos e formas literárias também será um dos temas das mesas. Outro tema proposto será o imaginário de cidade, particularmente Londrina, como inspiração poética. Entre os participantes estão nomes de destaque no cenário atual como João Gilberto Noll, Domingos Pellegrini, Miguel Sanches Neto, João Filho, Lourenço Mutarelli, Caco Galhardo, Fabrício Corsaletti, Mário Bortolotto, Fernando Koproski, Paulo Scott, Hélio Leites, Índigo, Ivan Justen Santana, Eloyr Pacheco, Mirian Paglia Costa, Maria Regina Fedri, Neuza Pinheiro, entre outros. Dezenas de lançamentos de livros, revistas e CDs, além de shows com artistas que integram a literatura em seu trabalho musical como Bonus Trash, Ceumar, Benditos Energúmenos, A Barca, A Lei, Décio Caetano, Mário Bortolotto & Fábio Brum, Rogéria Holtz e Renata Mattar. Nesta festa literária a Feira de Livros vai abrir espaço para editora de pequeno e médio porte. Além das performances diárias de Hélio Leites, as revistas independentes também marcam presença, com lançamentos do novo número da Coyote.
POESIA: A PAIXÃO DA LINGUAGEM SEGUNDO LEMINSKI
"A poesia seria cúmplice, desde o início, desse sentimento que se chama amor. Eu acho que é uma coisa perfeitamente lógica, natural, porque a poesia, se vocês olharem bem, ela é o amor entre os sons e os sentimentos. Ela já é na sua substância, intrinsecamente, ela já é amor, já é aproximação, no sentido que é amor entre os sons e os sentidos, num sentido que a prosa não é. É por isso que a poesia não morre. Por que essa coisa tão inútil que não consegue sequer se transformar decentemente em mercadoria num mundo mercatório, esse mundo em que vivemos? Qualquer editor principiante sabe: poesia não vende. Existe esse hiato, realmente poesia não vende, e é bom que não venda! Sabe aqueles que reclamam dizendo, é um absurdo, um país como o nosso, não sei o quê, tchê, tchê, pá, pá, e poesia não vende. Vamos nos rejubilar. Poesia não vende. Poesia é ato de amor entre o poeta e a linguagem. E esse é um território como se fosse assim uma reserva ecológica do mercado em que vivemos que resiste ao fato de se transformar em mercadoria. Não é uma infelicidade e nenhuma inferioridade da poesia escrita, falando da poesia escrita, da poesia, escrita, da poesia livro, a dificuldade dela em se transformar em mercadoria é uma grandeza. Quem não entender isso não entende a verdadeira natureza da poesia, ela é feita de uma substância que é, basicamente, rebelde à transformação em mercadoria. A gente pode criar um mundo assim, um império total da mercadoria, tudo pode ser vendido, coisas, sensações, as coisas mais incríveis, os momentos mais emocionantes. Uma coisa, porém, não pode ser transformada em mercadoria, que é o amor. Amor é dado de graça, alguém pode comprar amor? Pode-se comprar o sexo de outra pessoa, mas o amor a gente sabe que é o último reduto que resiste à transformação em mercadoria.”
Paulo Leminski
em “Poesia: a paixão da linguagem” em Os Sentidos da Paixão (Cia das Letras)