Para mim, Roberto Piva é um gênio de um poeta. Muito pouco reconhecido, finalmente agora parece que há sinais. De Saturno. Se tivessemos no Brasil o reconhecimento que alguns raros artistas fundamentais conseguiram em vida, como um Allen Ginsberg, nos EUA, Piva seria o nosso Ginsberg. Nosso Pasolini e Rimbaud. Nosso Dante de Santa Cecília. E que poeta. Piva se traduz em alta voltagem lírica, xamânica. Turbulento, incômodo, essencial. E ele está fazendo setenta anos. Aqui vai minha homenagem ao nosso templário com um poema que escrevi, publicado no livro Nômada.
PAULICÉIA REVISITADA
Esta chave abre brechas na realidade
É a tarde suicida atropelando os escombros da cidade sitiada
Eu ou meu outro acenando girassóis na multidão ensandecida
É a marcha das Imagens vazias presas aos ferros, levando pedradas,
Dor coroada como índios em brasa nas calçadas do ressentimento
E o bisturi que divide o sangue com bastões bíblicos sobre o pôr-do-sol gelado
E é a senha do falo, lugar de força & delírio
Falésia-edifício
Esta chave se transforma nisto, nervo exposto, numa realidade de palavras
Que exorcizam a saraivada de graça das igrejas capitalistas
É a extensão da alegria náufraga entre bruscas ondas negras
É o link de todas as conversas mantidas no mundo neste instante
É meu amor moribundo no abismo, dedilhando o banzo de seu exílio atroz
É a noz de uma palavra que explode como um ácido espelha sua linguagem vermelha
É o
É o silêncio depois do gozo das fábulas invertidas da verdade ambulante
Esta chave guarda o pólen que o enxame não seqüestrou, é carne translúcida,
É o exame minucioso da alma em seu recuo trêmulo sobre o elevado invisível flashback
Não é câmera digital, mas abraça o mundo em sua estranheza absoluta mesmo assim
Chave que abre a porta dos ecos e nomes secos sobre as heras eternas
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