sábado, setembro 22, 2007

Para mim, Roberto Piva é um gênio de um poeta. Muito pouco reconhecido, finalmente agora parece que há sinais. De Saturno. Se tivessemos no Brasil o reconhecimento que alguns raros artistas fundamentais conseguiram em vida, como um Allen Ginsberg, nos EUA, Piva seria o nosso Ginsberg. Nosso Pasolini e Rimbaud. Nosso Dante de Santa Cecília. E que poeta. Piva se traduz em alta voltagem lírica, xamânica. Turbulento, incômodo, essencial. E ele está fazendo setenta anos. Aqui vai minha homenagem ao nosso templário com um poema que escrevi, publicado no livro Nômada.



PAULICÉIA REVISITADA

para Roberto Piva


Esta chave abre brechas na realidade

É a tarde suicida atropelando os escombros da cidade sitiada

Eu ou meu outro acenando girassóis na multidão ensandecida

É a marcha das Imagens vazias presas aos ferros, levando pedradas,

Dor coroada como índios em brasa nas calçadas do ressentimento

E o bisturi que divide o sangue com bastões bíblicos sobre o pôr-do-sol gelado

E é a senha do falo, lugar de força & delírio

Falésia-edifício que despenca sem ruído e mergulha em sua poeira paranóica

Um delicado caos filtrado em preto-e-branco na escala progressiva da mente

Esta chave se transforma nisto, nervo exposto, numa realidade de palavras

Que exorcizam a saraivada de graça das igrejas capitalistas

É a extensão da alegria náufraga entre bruscas ondas negras

É o link de todas as conversas mantidas no mundo neste instante

São as marcas na pele dilatada com seu nome escrito a sangue

É meu amor moribundo no abismo, dedilhando o banzo de seu exílio atroz

É a noz de uma palavra que explode como um ácido espelha sua linguagem vermelha

É o trânsito franco-atirador e a muvuca das esquinas com fumadores de crack descendo ao inferno num teatro de guerra a céu aberto

É o silêncio depois do gozo das fábulas invertidas da verdade ambulante

Esta chave guarda o pólen que o enxame não seqüestrou, é carne translúcida,

É o exame minucioso da alma em seu recuo trêmulo sobre o elevado invisível flashback

Não é câmera digital, mas abraça o mundo em sua estranheza absoluta mesmo assim

Chave que abre a porta dos ecos e nomes secos sobre as heras eternas


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