"Storm the Reality Studio, and retake the universe" ("Assaltem o Estúdio Realidade, e retomem o universo") WILLIAM S. BURROUGHS
quarta-feira, novembro 29, 2006
Dois poemas de PAUL AUSTER
PEDREIRA
Nada mais que a canção disto. Como se
só o canto tivesse nos trazido
até este lugar.
Temos estado aqui, e nunca estivemos aqui.
Estivemos a caminho até o lugar onde começamos,
e estivemos perdidos.
Não há fronteiras
na luz. E a terra
não nos deixa palavra alguma
pra cantar.
Pois o desmoronar da terra
sob os pés
é música em si, e caminhar entre estas pedras
é ouvir a gente mesmo
apenas.
Canto, logo, nada,
como se isso fosse o lugar
para onde não volto --
e se voltasse, descontava a minha vida
nessas pedras: esquecer
que um dia estive aqui. O mundo
me caminha
além do meu alcance.
QUARRY
No more than the song of it. As if
the singing alone
had led us back to this place.
We have been here, and we have never been here.
We have been on the way to where we began,
and we have been lost.
There are no boundaries
in the light. And the earth
leaves no word for us
to sing. For the crumbling of the earth
underfoot
is a music in itself, and to walk among these stones
is to hear nothing
but ourselves.
I sing, therefore, of nothing,
as if it were the place
I do not return to --
and if I should return, then count out my life
in these stones: forget
I was ever here. The world
that walks inside me
is a world beyond reach.
FRAGMENTO DE FRIO
Porque ficamos cegos
no dia que se apaga conosco,
e porque temos visto nosso hálito
nublar
o espelho do ar,
o olho do ar vai se abrir
em nada a não ser na palavra
que renunciamos: inverno
terá sido um lugar
de amadurecer.
Nós que viramos os mortos
de outra vida, não a nossa.
FRAGMENT FROM COLD
Because we go blind
in the day that goes out with us,
and because we have seen our breath
cloud
the mirror of air,
the eye of the air will open
on nothing but the word
we renounce: winter
will have been a place
of ripeness.
We who become the dead
of another life than ours.
Paul Auster (De Fragments from the Cold (1976-1977))
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
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