Editora lança no país 1ª antologia de poeta sueco que
venceu o Nobel
Volume destaca fase de
haikus de Tomas Tranströmer, que favorece imagens precisas e metáforas
RODRIGO GARCIA LOPES
Após um
longo inverno, finalmente o poeta sueco Tomas Tranströmer (1931-2015) tem pela
primeira vez um livro publicado no Brasil.
Não será
desta vez que o leitor brasileiro terá acesso à poesia completa do Prêmio Nobel
de Literatura de 2011, densa, mas relativamente modesta em termos de
quantidade.
Traduzido
para mais de 60 línguas, é um poeta de poetas, tendo influenciado a obra de
outros ganhadores do Nobel como Seamus Heaney, Joseph Brodsky e Derek Walcott.
Não é uma
antologia ampla, como anuncia a editora, que promete ainda publicar toda a sua
obra. Com exceção de "Prelúdio", que abre o livro de estreia (em
1954), a seleção passa ao largo dos seis livros de poesia exuberantes que
Tranströmer escreveu nos anos 1950, 60 e parte dos 70.
Depois de
uma prosa curta inédita, vem "Mares do Leste" (1974). É seu épico
pessoal. Longo poema narrativo, é tecido por fragmentos do diário de bordo do
avô piloto de barco, memórias familiares, paisagens do "maravilhoso
labirinto de ilhas e água" do Mar Báltico, cuja presença é marcante em sua
poesia.
"Quando
tinha neblina densa: velocidade reduzida, vista quase cega. Do invisível surgia
a ponta, um único passo e tudo era proximidade. / Estrondo de um sinal a cada
dois minutos. Os olhos liam direto o invisível. / (Ele tinha o labirinto na
cabeça?)"
A seleção
dá preferência ao último Tranströmer, aos dois volumes que publicou depois de
um AVC em 1990, que paralisou o lado direito do corpo e afetou severamente sua
capacidade de falar, escrever e ler.
É quando o
sueco volta a escrever haikus. Para quem gosta do gênero, um prato cheio: há 64
deles no livro. Um desafio para a tradutora foi respeitar a divisão silábica
(três versos de 5-7-5), o que sacrificou um pouco a clareza e entendimento de
algumas peças. Mas há bons achados: "O fogo, azul / levanta do
asfalto / como mendigo". Ou ainda: "Fugiu – foi preso / e tinha
bolsos cheios / de cogumelos".
Sua poesia segue os preceitos do imagismo, favorecendo
metáforas e símiles surpreendentes. "Como uma borboleta rajada fica
invisível no chão / o demônio se mistura com o jornal aberto". O poeta,
que trabalhou anos como psicólogo, reelabora de modo muito particular o
surrealismo.
Muitos poemas borram as fronteiras entre consciente e
inconsciente, ser humano e natureza, sonho e realidade. Tema recorrente em sua
obra e que aparece já nos versos iniciais de "Prelúdio":
"Acordar é saltar de sonhos com paraquedas. / Livre do turbilhão
opressivo, o viajante / naufraga na zona verde da manhã".
Para Tranströmer, poemas são "exercícios de
meditação ativa", como declarou certa vez. "Eles querem nos acordar,
não nos pôr para dormir." Introspectiva e enigmática, sua poesia atinge
este objetivo, numa espécie particular de realismo mágico.
RODRIGO GARCIA LOPES ESCRITOR, É AUTOR DE ‘O TROVADOR’, ALÉM DE
TRADUTOR E COMPOSITOR
MARES DO
LESTE E OUTROS POEMAS
Preço R$
49 (232 págs.)
Autor
Tomas Tranströmer
Editora
Âyiné
Tradução
Marcia Sá Cavalcante Schuback