A nova edição da revista Cult (152) traz um artigo meu sobre Allen Ginsberg.
O uivo vivo de Allen Ginsberg
Acesse a matéria aqui:
Como na edição o espaçamento original acabou ficando sacrificado, republico o começo de "Howl", em minha tradução, aqui:
De "Uivo"
para Carl Solomon
Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura,
famintos histéricos nus,
se arrastando na aurora pelas ruas do bairro negro[1] na fissura de um pico,
hipsters[2] de cabeça feita anjos[3] ardendo por uma conexão celestial e ancestral com o dínamo estrelado na maquinaria da noite,
que pobreza e farrapos[4] e olhos ocos e loucos sentaram fumando na escuridão sobrenatural dos apartamentos sem calefação flutuando pelos tetos das cidades contemplando jazz,
que despiram seus cérebros ao Céu sob o El[5] e viram anjos muçulmanos cambaleando sobre telhados e iluminados[6],
que passaram por universidades com olhos serenos e radiantes alucinando Arkansas e tragédias de luz-Blake[7] entre os mestres de guerra,
que foram expulsos de universidades por pirarem & publicarem odes obscenas nas vidraças do crânio,
que se encolheram em quartos barbudos e de cuecas, queimando dinheiro em cestos de lixo e escutando o Terror pela parede,
que levaram uma geral nos pentelhos voltando via Laredo[8] com um cinturão de maconha rumo a Nova Iorque,
que engoliram fogo em hotéis de quinta[9] ou beberam terebentina no Beco do Paraíso[10], morte, ou purgatoriando seus torsos noite a noite
com sonhos, com drogas, com pesadelos despertos, álcool e caralho e escrotos e fodas infinitas[11] [...]
que passaram por universidades com olhos serenos e radiantes alucinando Arkansas e tragédias de luz-Blake[7] entre os mestres de guerra,
que foram expulsos de universidades por pirarem & publicarem odes obscenas nas vidraças do crânio,
que se encolheram em quartos barbudos e de cuecas, queimando dinheiro em cestos de lixo e escutando o Terror pela parede,
que levaram uma geral nos pentelhos voltando via Laredo[8] com um cinturão de maconha rumo a Nova Iorque,
que engoliram fogo em hotéis de quinta[9] ou beberam terebentina no Beco do Paraíso[10], morte, ou purgatoriando seus torsos noite a noite
com sonhos, com drogas, com pesadelos despertos, álcool e caralho e escrotos e fodas infinitas[11] [...]
Trecho inicial de "Howl"
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
[1] referência aos bairros onde morava a população negra e pobre.
[2] hipster, gíria dos anos 40 para drogado e marginal.
[3] angel head, cabeça de anjo, palavra derivada de pothead, viciado em maconha. Preferi "hipsters de cabeça feita anjos" para preservar a ambiguidade da imagem.
[4] who poverty and tatters (Ginsberg usa substantivos, tornando a sintaxe menos lógica.)
[5] El, ou "Elevated Train", no original, refere-se ao elevado para o trem do metrô que existe em algumas cidades americanas. El também é o nome hebraico para Deus.
[6] O poema se refere aqui a uma visão ou aventura espiritual vivida pelo poeta beat Phillip Lamantia depois de ler o Alcorão.
[7] Referência ao poeta e visionário inglês William Blake, e com o qual Ginsberg teria tido uma alucinação em 1948.
[8] Cidade texana que faz fronteira com o México.
[9] Paint hotels, em referência a hotéis baratos novaiorquinos que precisavam ser pintados por ordem da prefeitura para diminuir a aparência de espelunca.
[10] Paradise Alley, Viela ou Beco do Paraíso, em Nova Iorque. Referência ao lugar onde morava a prostituta Mardou Fox, do romance Subterraneans, de Jack Kerouac.
[11] balls aqui tem várias acepções (saco, escroto), mas também farra e orgias)
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