sexta-feira, fevereiro 06, 2009

AS PONTES (de Rimbaud)




Céus de cristal gris. Bizarro desenho de pontes, estas retas, aquelas em arco, outras descendo em ângulos oblíquos sobre as primeiras, e essas figuras se renovam nos outros circuitos iluminados do canal, mas todas tão longas e leves que as margens, cheias de cúpulas, afundam e encolhem. Algumas dessas pontes ainda estão cheias de barracas, outras sustentam mastros, sinais, frágeis parapeitos. Acordes menores se cruzam, e somem, as cordas escalam os barrancos. Distingue-se uma roupa vermelha, talvez outros trajes e instrumentos musicais. São árias populares, trechos de concertos senhoriais, restos de hinos públicos? A água é gris e azul, larga como um braço de mar.
— E um raio branco, desabando do alto do céu, aniquila esta comédia.

ARTHUR RIMBAUD
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça

(Em Iluminuras - Gravuras Coloridas, Editora Iluminuras, 1994)

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