"Storm the Reality Studio, and retake the universe" ("Assaltem o Estúdio Realidade, e retomem o universo") WILLIAM S. BURROUGHS
segunda-feira, julho 21, 2008
sexta-feira, julho 11, 2008
MINHA VIDA NOS TUBOS DA SOBREVIVÊNCIA (poema de Roberto Bolaño em Coyote 17)
MINHA VIDA NOS TUBOS DA SOBREVIVÊNCIA
Como eu era pigmeu e amarelo e de feições agradáveis
E como eu era esperto e não estava a fim de ser torturado
Num campo de trabalho ou numa cela acolchoada
Me meteram no interior deste disco voador
E me disseram pra voar e encontrar o meu destino. Mas que
Destino iria eu encontrar? A maldita nave parecia
O holandês errante pelos céus do mundo, como se
Quisesse fugir de minha incompetência, de meu esqueleto
Singular: um cuspe na cara da Religião,
Uma facada de seda nas costas da Felicidade,
Apoio Moral e Ético, a fuga diante
De meus irmãos verdugos e meus irmãos desconhecidos.
Todos enfim humanos e curiosos, todos órfãos e
Jogadores cegos à beira do abismo. Mas tudo isso
Dentro do disco voador não podia me deixar indiferente.
Nem remoto. Ou secundário. A maior virtude de minha espécie traidora
É a coragem, talvez a única coisa que é real, palpável até nas lágrimas
E adeuses. E coragem era o que eu pedia fechado
No disco, assombrando lavradores e bêbados
jogados nos fossos. Invoquei com a coragem na maldita nave
Enquanto trilhava por guetos e parques que para um transeunte
Deviam parecer enormes, mas que para mim eram só tatuagens sem sentido,
Palavras magnéticas e indecifráveis, apenas um gesto
Insinuado debaixo do manto de nutrias do planeta.
Será que havia me convertido em Stefan Zweig e visto a aproximação
Do meu suicídio? Com respeito a isso a frieza da nave
Era incontrovertível, e às vezes sonhava
Com um país quente, um terraço e um amor fiel e desesperado.
As lágrimas que logo derramava permaneciam na superfície
Do disco durante dias, testemunho de minha dor, mas
De um tipo de poesia exaltada que cada vez mais a
Apertava meu peito, minhas têmporas e cintura. Um terraço,
Um país quente e um amor de grandes olhos fiéis
Se aproximando lentamente através do sonho, enquanto a nave
Deixava estrelas de fogo na ignorância de meus irmãos
E em sua inocência. E éramos uma bola de luz, o disco e eu,
Nas retinas dos pobres camponeses, uma imagem perecível
Que nunca descreveria adequadamente meu desejo
Ou o mistério que era o princípio e o fim
Daquele artefato incompreensível. Foi assim até o
Fim dos meus dias, submetido aos ventos arbitrários,
Sonhando às vezes que o disco se estatelava numa serra
Da América e meu cadáver quase sem um aranhão surgia
Para ser visto por velhos montanheses e historiadores:
Un ovo num ninho de ferros retorcidos. Sonhando
Que o disco e eu havíamos concluído nossa dança ridícula,
Ou nossa pobre crítica da Realidade, numa colisão indolor
E anônima em algum deserto do planeta. Morte
Que não me trouze paz nenhuma, pois depois que minha carne apodrecera
Eu continuava sonhando.
TRADUÇÃO: RODRIGO GARCIA LOPES
quarta-feira, julho 09, 2008
PARADOXOS DO TEMPO (canção do CD Polivox, 2001)
para Vitor Ramil
O futuro anda tão diferente.
O movimento está parado.
Nem parece que um dia
Pensou que era passado
E foi virar nostalgia
do tempo em que pensar
Era um tipo de meio-dia
E foi virar este vento
Relógio de ser ao relento
Que sopra do sul do meu peito
De um jeito que é melodia.
Nem me contem
Nem me lembrem
Que hoje
Já fazia tempo
E não fazia
um dia
Como ontem.
Rodrigo Garcia Lopes: violão e voz
Neuza Pinheiro: voz e vocais
Marco Scolari: acordeon
Ricardo Garcia: percuteria
Gravado e mixado por Maurício Grassmann (Estúdio Freqüência Rara)
terça-feira, julho 01, 2008
VERTIGEM (Um Corpo que Cai)
VERTIGEM
A escada em caracol
que sobre pro céu
E uma mulher em pânico
na torre
Quer se matar no mar do amor
Como Ismália
Não mora mais em sua memória
Nem em nenhum lugar
Mas ele a persegue
E a quer salvar
Mas a cada passo um zoom
O atordoa
Vertigem, vertigem, vertigem, vertigem
O filme volta atrás
em busca do seu corpo que cai
Tempos depois a encontrará
na carne de outra tarde
Mas o mistério da mulher
que o enlouqueceu de amor
ficou na torre a sonhar
enquanto bebia o mar da
vertigem, vertigem, vertigem
(Letra e música: Rodrigo Garcia Lopes)