"Storm the Reality Studio, and retake the universe" ("Assaltem o Estúdio Realidade, e retomem o universo") WILLIAM S. BURROUGHS
quarta-feira, janeiro 16, 2019
Entrevista sobre "Roteiro Literário - Paulo Leminski" na Folha de Londrina
Entrevista para Marcos Losnak sobre "Roteiro Literário - Paulo Leminski", na Folha de Londrina de hoje, no link:
https://www.folhadelondrina.com.br/folha-2/leminski-o-habitante-da-linguagem-1024495.html
Mais informações: (41) 3223-4951 ou bbppgeral@bpp.prgov.br
terça-feira, janeiro 15, 2019
Lançamento: "Roteiro Literário - Paulo Leminski", de Rodrigo Garcia Lopes
A Biblioteca Pública do Paraná acaba de publicar o Roteiro Literário — Paulo Leminski, de Rodrigo Garcia Lopes. Editado pelo selo Biblioteca Paraná, o livro traz um ensaio, dividido em três partes, em que Rodrigo Garcia Lopes analisa a trajetória pessoal e artística de Paulo Leminski (1944-1989), curitibano que se dedicou, entre outras atividades culturais, à tradução, prosa literária, ensaio, canção popular e, sobretudo, à poesia.
Fotos de
Eduardo Macarios e Dico Kremer ilustram a relação de Leminski com a cidade de
Curitiba. Com 180 páginas, o título está no acervo da Biblioteca, vai ser
encaminhado para bibliotecas e entidades culturais e já está disponível para
aquisição na BPP. Mais informações: (41) 3221-4994.
No texto
de apresentação, Luci Collin destaca que Rodrigo Garcia Lopes conta como
Leminski viveu e reproduziu a “agoridade” absoluta do mundo atual, além de
analisar a poética leminskiana, “marcada pelo rigor e delírio da escrita”. Luci
não deixa de observar que Lopes também investiga de que maneira Leminski
absorveu Curitiba em sua obra, “e como Curitiba foi absorvendo a obra de seu
poeta maior”.
Rodrigo
Garcia Lopes é doutor em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Traduziu textos de Rimbaud, Marcial, Sylvia Plath e Walt Whitman. É
autor, entre outros títulos, do romance O Trovador (2014) e do livro de poemas
Experiências Extraordinárias (2015).
A COLEÇÃO
O diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, explica que o
projeto Roteiro Literário tem a finalidade de divulgar, para públicos variados,
incluindo as gerações recentes, a literatura paranaense contemporânea. “Há um
número expressivo de vozes literárias no Paraná, muitas vezes com ressonância
apenas entre escritores, estudiosos e amigos do autor. Para ampliar a difusão
de nossa literatura, decidimos fazer esse projeto, que, além de analisar vida e
obra, também apresenta os locais frequentados pelo homenageado”, diz Pereira.
Na coleção
Roteiro Literário, um autor escreve um ensaio sobre a vida e a obra de um
escritor paranaense já falecido. A obra também traz um ensaio fotográfico com
endereços e espaços frequentados pelo homenageado.
O primeiro
título da coleção, publicado em 2017, foi sobre Jamil Snege (1939-2003),
escrito por Miguel Sanches Neto. Já o segundo volume, lançado em novembro deste
ano, é uma obra sobre Helena Kolody (1912-2004), de autoria de Luísa Cristina
dos Santos Fontes. Este Roteiro sobre Leminski, de Rodrigo Garcia Lopes, é o
terceiro título da série.
MAIS INFORMAÇÕES:
bppgeral@bpp.pr.gov.br
e
e
41 3221-4951
SERVIÇO:
Roteiro Literário — Paulo Leminski, de Rodrigo Garcia Lopes.
180
páginas, publicado pelo Selo Biblioteca Paraná.
R$ 20
NOVA ANTOLOGIA, "POEMAS" RESGATA MÚSICA DA LINGUAGEM DE T.S. ELIOT, por Rodrigo Garcia Lopes
Minha matéria na "Ilustrada" da Folha de S.
Paulo, sobre o livro "Poemas", de T.S. ELIOT, na tradução de Caetano
Galindo.
NOVA ANTOLOGIA, "POEMAS" RESGATA MÚSICA DA
LINGUAGEM DE T.S. ELIOT
Tradução de Caetano Galindo mostra cuidado com efeitos
sonoros do original
RODRIGO GARCIA LOPES
T. S. Eliot (1888-1965) dominou a cena poética de
língua inglesa e se firmou como um dos grandes poetas do século 20. Foi
crítico, dramaturgo e editor de influência, autor de um poema longo que é um
marco literário: “A Terra Devastada” (1922).
A Europa ainda recolhia os cacos e os mortos da
Primeira Guerra quando apareceu o poema desnorteante de Eliot. Nada mais
natural, para captar o espírito dos tempos, que seu poema também fosse
despedaçado, apocalíptico.
Neste que é talvez o mais célebre poema do século
passado ele rompia com as convenções do verso e oferecia ao leitor uma colagem
dramática, descontínua. Deslocando o “eu lírico” de sua centralidade, o poema
vinha saturado de citações, alusões literárias, históricas, mitológicas,
esboços de cenas e personagens, referências ao cotidiano londrino e à cultura
popular.
A obra-prima da maturidade, “Quatro Quartetos” (1943),
é um belíssimo poema meditativo sobre o tempo e a consciência, com as ideias
sendo desenvolvidas ao modo da música.
Eliot já teve sua poesia completa bem traduzida no
Brasil, por Ivan Junqueira (em 1981 e 2004). Uma nova e ótima tradução acaba de
sair: “Poemas”, por Caetano Galindo. Em edição bilíngue, traz toda a obra
poética eliotiana publicada em livro.
Autores da estatura do Prêmio Nobel de Literatura de
1948 precisam ser revisitados, afirma Galindo. “Eliot é relevante porque disse
coisas importantes demais (o diagnóstico daquele desespero do entre-guerras, a
poderosíssima síntese de espiritualidade ocidental e oriental). E disse de
maneiras mais do que interessantes, com uma poesia sonora, vigorosa e
encantadora demais”, defende.
O paranaense encarou “Ulysses”, de James Joyce, a
poesia de Paul Auster e Bob Dylan, a prosa de David Foster Wallace, mas
considera esta a tradução mais difícil que realizou.
Ele demorou um ano e meio na tarefa: “A dificuldade
veio das especificidades dos versos e, também, do peso da responsabilidade. Eu
travei. Passei meses procrastinando, porque no fundo estava morrendo de medo de
entregar uma tradução que, eu sabia, pode estar sendo esmiuçada daqui a
décadas. Poesia é literatura endovenosa. As pessoas vão (espero) se apropriar
visceralmente desses versos. E eu queria fazer bem, ajudar o nosso amigo Eliot
com esses novos leitores. E o peso da tarefa me assustou um pouco”, admite.
Valeu a pena. Eliot surge menos empolado, sisudo e
mais conciso do que na versão de Junqueira. Quase sempre as decisões do
tradutor são acertadas e criativas. Mostra cuidado não só com o aspecto
semântico, mas com os efeitos sonoros do original (rimas, ritmos, aliterações,
assonâncias etc.), escassos em outras traduções. É na recuperação da música da
poesia de Eliot que reside o maior mérito do livro. Em revelar que o mestre do
verso livre era capaz de uma grande variedade de ritmos e registros: do erudito
ao coloquial, do solene ao conversacional, do meditativo ao bem-humorado (como
nos versos travessos de “O Livro dos Gatos Sensatos do Velho Gambá”).
“A grande chave do verso livre de Eliot”, para
Galindo, “é essa tensão com um metro ´fantasma´. Ele vive borboleteando à roda
de um padrão, de que se desvia das maneiras mais variadas. Tensionando a
(ir)regularidade. É como certa música atonal não dodecafônica (para usar um
exemplo mais ou menos contemporâneo, pensar em Bartók, que ele admirava),
definida pela luta com um padrão que nunca se impõe de verdade. E tende a ser
igual com a rima. Ele quase-rima, ele aproxima, ele rima de fato, tudo ao mesmo
tempo”.
A nova tradução mostra que seu autor ouviu atentamente
o conselho de Eliot: “Nenhum verso é livre para quem quer fazer um bom
trabalho”.
POEMAS
Preço R$ 89,90 (448 págs.)
Autor T. S. Eliot
Editora Companhia das Letras
Tradução Caetano W. Galindo
Preço R$ 89,90 (448 págs.)
Autor T. S. Eliot
Editora Companhia das Letras
Tradução Caetano W. Galindo
Um tradutor no centro de “O trovador”, de Rodrigo Garcia Lopes
Um tradutor no centro de “O trovador”, de Rodrigo
Garcia Lopes
Jornal Rascunho, dezembro de 2018
Em O
trovador, de Rodrigo Garcia Lopes, vemos um tradutor no papel de
protagonista. Já escrevi em outras ocasiões, neste mesmo espaço, sobre
tradutores como protagonistas em romances. Lembro-me dos livros A
tradutora, de Cristovão Tezza, e Travesuras de la niña mala, de
Mario Vargas Llosa.
O
trovador não é uma obra sobre
tradução, claro. Tampouco há grandes reflexões sobre o ofício tradutório. Ainda
assim, a tradução permeia o romance de fora a fora.
No
livro de Garcia Lopes, o tradutor é o escocês Adam Blake, funcionário da
companhia britânica de colonização de terras Paraná Plantations. A tradução que
nos interessa é a de uma antiga trova escrita em provençal.
Blake
vê na velha trova a chave do mistério que tenta decifrar — uma série de
assassinatos na Londrina da década de 1930. Blake revira o texto do avesso.
Pesquisa. Visita bibliotecas. Consulta especialistas. Demora-se na reflexão, em
meio às desventuras do romance. Busca o “sentido misterioso” dos versos provençais.
O
protagonista, como todo tradutor, enfrenta os obstáculos clássicos que qualquer
texto impõe àquele que quer decifrá-lo, incluindo, entre outros, a distância
temporal e a ausência do autor. Em entrevista com o padre Helmut Braun, um dos
especialistas, Blake manifesta sua aflição — sentimento talvez comum a todo
tradutor: “Há algumas palavras que não entendo. Preciso saber mais sobre a vida
desse trovador. Queria mergulhar no universo e no tempo dele, para ser fiel a
seu espírito e melhor traduzi-lo”.
É
a busca da fidelidade por meio do estudo não apenas do texto, mas do autor e de
sua circunstância. Blake fazia um trabalho louvável, digno dos melhores da
raça.
O
padre, por sua vez, confessa ter suas próprias teorias sobre tradução:
“acredito que não há nada que não seja traduzível. Esse é meu credo. Minha
primeira paixão foi a filologia, os meandros e caminhos que percorrem os
sentidos de uma palavra, a história de sua existência através dos tempos”.
Nota-se
a complementação entre o esforço de Blake no sentido de compreender o trovador
e seu tempo, de um lado; e, de outro, o conselho do padre sobre como enfrentar
as palavras, o texto e seus sentidos esquivos.
A
tradução tem seus mistérios. Também tem seus meandros e suas exigências em
termos de denodo e tarimba, entre outras qualidades.
Adam
Blake era obstinado. A trova era difícil. Nela havia uma palavra de sentido
especialmente obscuro, naquele contexto: noigandres —
“palavra considerada o locus classicus para a
intradutibilidade da canção dos trovadores”. Não apenas seu sentido era
obscuro. Sua grafia cambiante lhe enevoava a própria forma: “a palavra aparece
em pelo menos sete variantes diferentes”.
Blake
trabalha duro. Monta e desmonta a palavra. Sonda seu sentido mais profundo:
“anagramas mais perfeitos são aqueles que funcionam como tradução, comentário
ou reflexão sobre a palavra escolhida. É um jogo em que a palavra faz gerar
cópias dela mesma, mas em novas combinações e sentidos”.
São
muitas as combinações possíveis. E cada uma delas gera nova profusão de
sentidos. Vicissitudes da tradução, empecilhos para todo tradutor. O texto nem
sempre é feito para ser fácil.
A
pesquisa é longa, mas frutífera. Blake encontra enfim uma boa pista. Acha a
chave. Bastaram olhos e cérebro para ler e traduzir. ler e traduzir.
EDUARDO FERREIRA
É tradutor, diplomata e jornalista. Vive em Brasília (DF).
Assinar:
Postagens (Atom)