quarta-feira, fevereiro 21, 2018

Rodrigo Garcia Lopes e Eduardo Batistella no SESC São José do Rio Preto (SP)



O show da noite fica a cargo do poeta, cantor, violonista e compositor de Londrina (PR) Rodrigo Garcia Lopes. Ele se apresenta acompanhado do baterista Eduardo Batistella, com o show “Canções do Estúdio Realidade”. O repertório é baseado em seus dois álbuns, “Polivox” e “Canções do Estúdio Realidade”. Em um show vigoroso e inspirado, que afirma sua singularidade musical e potência sonoro-poética, Garcia Lopes traz canções de sua autoria compostas nos últimos anos (como Quaderna, Alba, Cerejas, Fugaz, Álibis, Vertigem, Rito e New York) e algumas inéditas (Trilha Sonora, Tango e Noturno).
Rodrigo Garcia Lopes
Poeta, compositor, violonista e tradutor. Com 16 livros publicados, em 2001 foi incluído no best-seller Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século 20. Produziu e gravou dois CDs autorais, base do presente show.
Eduardo Batistella
Baterista profissional desde os 16 anos, o londrinense realizou trabalhos inovadores ao lado de Paulinho Barnabé e sua lendária Patife Band, Arrigo Barnabé e o citarista Gegê.
Local
Comedoria.
https://www.sescsp.org.br/programacao/146703_RODRIGO+GARCIA+LOPES

sábado, fevereiro 10, 2018

"Epigramas", de Marcial, no Estadão


Tuítes da Roma antiga, epigramas de Marcial ganham edição no País
Textos do escritor e habitante do Império Romano no século 1.º d.C., considerado o mestre do gênero, foram traduzidos por Rodrigo Garcia Lopes

Guilherme Sobota, O Estado de S. Paulo
     

      O epigrama não foi criado por Marcos Valério Marcial (escritor e habitante do Império Romano no século 1.º d.C.), mas ele é considerado o mestre do gênero especialmente na língua latina. Uma nova edição, da Ateliê, com tradução direta do escritor Rodrigo Garcia Lopes, chega às lojas com boa parte da produção mais célebre do autor.
      A edição bilíngue, com cadernos independentes e projeto gráfico de Gustavo Piqueira, tem 12 seções e 219 poemas dos anos de 86 a 103 d.C., quando Marcial já era amplamente conhecido no Império Romano.
      A tradução transporta para o português contemporâneo toda a obscenidade, a incisiva agudeza e, em algumas ocasiões, as ideias que hoje parecem empoeiradas dos escritos que fizeram de seu autor uma estrela. O grande destaque, porém, é a forma – como o autor consegue comprimir em poucas linhas pensamentos mais amplos.
       “Solta um barro, Basso, num vaso de ouro, / mas bebe num vidro: cagar lhe é mais caro”, diz um deles. “Uns bons, uns mais ou menos, outros um lixo: / Assim se faz um livro de poemas, Avito”, diz outro. Mais à frente: “Enterrou no campo, Fíleros, suas sete mulheres. / Isso é o que chamo de terra produtiva”.
      “Se poesia é ‘a forma mais condensada de expressão verbal’, como escreveu Pound, os epigramas greco-romanos são, ao lado dos haicais japoneses, os campeões na matéria”, escreve o tradutor no detalhado posfácio da edição. “Quase 2000 anos depois, em tempos de Twitter, WhatsApp e comunicação instantânea (e muitas vezes irrelevante), Marcial tem muito a nos dizer. Arguto, ele continua sendo o mestre da agudeza ou wit: a capacidade de unir palavras e ideias com inteligência, humor e perícia.”
       É no posfácio que Garcia Lopes ressalta a necessidade de abordar os textos (mesmo a figura de Marcial, descrito como bajulador, pedante e conservador) com distância dos padrões éticos contemporâneos.
      Ele cita a estudiosa Kathleen M. Coleman: “A ideologia que permeia os Epigramas é tão estranha à nossa maneira moderna de pensar que temos de ser particularmente cuidadosos sobre como importar os nossos próprios padrões éticos em uma interpretação do que Marcial está fazendo”.
“Seria algo como acusarmos o poeta, atualmente, de ser ‘politicamente incorreto’”, escreve.
       Mas o tradutor ressalta que são poucas as informações biográficas sobre Marcial. “Sem dúvida ele deve ter sido uma figura e tanto, mas não podemos afirmar se ele era assim (contraditório, complexo, cruel, impiedoso) ou o quanto não era parte de sua ‘persona poética’ (ele mesmo transformado em personagem)”, diz, por e-mail.
     “O que tem interessado os estudiosos de Marcial nas últimas décadas é que, ao mesmo tempo em que é um poeta de seu tempo (arguto observador de Roma), pelas características de sua escrita ele antecipa questões que ainda fazem parte do nosso tempo.”
      Por exemplo, Marcial inicia um epigrama assim: “Por que a fama é negada aos vivos / e raros leitores amam os contemporâneos? / Isso, Régulo, é bem típico da inveja, / Desprezar os modernos, preferir os antigos”.
     Outro vai assim: “Pobre hoje, Emiliano, amanhã também. / A riqueza só é dada a quem já tem”. Assuntos de hoje, pois.
     “Vários aspectos de sua obra se inserem no contexto atual”, diz Garcia Lopes, “de intolerância e censura, liberdade de expressão, conservadorismo, redes sociais, etc. A aproximação entre epigrama e o twitter é um entre vários aspectos”.
      E como ele acredita que a obra será recebida no Brasil de 2018? “Acho que nesses tempos de corrupção e escárnio político, golpes descarados (esses sim obscenos), descalabros jurídicos, manipulação de informação, ‘fake news’, redes sociais, censura, cultura de celebridades, etc. a poesia de Marcial ainda continua atual, permanece urgente e necessária. Será que ele seria censurado ou tomaria processo se escrevesse hoje, no Brasil?”


EPIGRAMAS
Autor: Marco Valério Marcial
Tradutor: Rodrigo Garcia Lopes
Editora: Ateliê (220 págs., R$ 82)

quarta-feira, fevereiro 07, 2018

Epigramas, de Marcial, na Zero Hora

BOCA MALDITA
Tradução verte para o português a sátira sacana do poeta romano Marcial
Carlos André MoreiraEpigramas de autor romano do primeiro século ganham versão assinada pelo poeta e tradutor paranaense Rodrigo Garcia Lopes
CARLOS ANDRÉ MOREIRA
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Jacqueline Sasano / DivulgaçãoTradutor Rodrigo Garcia Lopes fez versão para epigramas de Marco Valério MarcialJacqueline Sasano / Divulgação

Ao contrário do que podem achar algumas sensibilidades conservadoras dispostas a fechar exposições "obscenas" por aí, a relação entre arte e sacanagem é tão antiga quanto frutífera. Um bom exemplo disso pode ser encontrado na recente edição em português dos Epigramas, composições breves do poeta Marco Valério Marcial (40 – 104), que viveu na Roma do primeiro século da Era Cristã e fez de seus versos navalhas certeiras dirigidas ao que considerava os vícios e hipocrisias do mundo em que vivia.
Epigramas foram uma forma de poesia breve muito difundida na antiguidade. Seu espírito direto e por vezes cortante servia tanto para breves elegias ou epitáfios quanto para ataques a desafetos e ditos humorísticos que poderiam muito bem ser enquadrados, hoje em dia, como "piadas bagaceiras" – Marcial e seu precursor Catulo (87?a.C. –57?a.C.) foram mestres tanto num caso como no outro.

Nascido em Bílbilis, no território em que hoje se localiza a região espanhola de Zaragoza, Marcial mudou-se, pouco depois de seus 20 anos, para Roma, o centro do Império, onde viveu por décadas, como era comum em sua época, apadrinhado por nobres ricos ou por figuras ligadas ao poder imperial.
Seus poemas curtos, antecipadores de muitos “tuítes” de hoje em dia, atacavam o que considerava defeitos de seus contemporâneos, como o oportunismo, a desfaçatez dos jogos de interesses e até a cara de pau de outros poetas que roubavam a autoria de seus versos e passavam a lê-los nos saraus públicos como se de autoria própria. Ele também compôs tiradas maliciosas ou abertamente obscenas sobre os costumes sexuais de seu tempo (a seleção no quadro ao lado reúne alguns poucos mordazes mas ainda publicáveis).
– Marcial é impiedoso em seus versos. Em muitos instantes ele poderia ser considerado politicamente incorreto, mas é impossível aplicar à obra dele um contexto do século 21 que não existia em seu tempo. Os únicos que ele poupava eram seus patronos, porque aí ele adulava e puxava o saco mesmo – explica o tradutor paranaense Rodrigo Garcia Lopes.
Epigramas reúne 219 poemas de Marcial publicados ao longo de toda sua vida. A versão em português vem acompanhada do original latino, e a edição tem o formato de um arquivo de capa dura em que 12 cadernos podem ser destacados e separados, e cada um deles corresponde a um dos 12 livros que o poeta de fato publicou em vida.
– Marcial costumava chamar cada livro que publicava de "libellus", ou seja, "livrinho", uma maneira ao mesmo tempo irônica, carinhosa e autodepreciativa de se referir ao próprio trabalho. Foi a partir dessa ideia que Gustavo Piqueira (designer responsável pelo projeto gráfico) teve a ideia de publicar a obra em forma de livros menores. Claro que também isso foi uma licença poética, já que, na época de Marcial, os livros eram em rolos – diz Lopes.
Jornalista, escritor, poeta e tradutor, Rodrigo Garcia Lopes tem uma história de três décadas com Marcial. Descobriu a poesia do romano enquanto fazia mestrado sobre William Burroughs no Arizona, em 1990, e foi traduzindo aos poucos os epigramas que chamavam a sua atenção.
– Em 2014, eu já tinha uns cem epigramas traduzidos e me dei conta de que precisava me dedicar àquilo. Mergulhei no conjunto e traduzi mais da metade do livro em uma imersão de dois anos. Selecionei um conjunto que apresentasse uma versão por inteiro de seu trabalho, porque ele podia, como poeta, ser terno, ser comovente, ser elegíaco e em outros momentos ser impiedoso. Mesmo proibido durante a Idade Média, ele é retomado por outros mais adiante como Bocage ou Quevedo. 

POEMAS DE MARCIAL:
Carlos André Moreira
XLVII
Diaulo, o coveiro, até ontem era doutor:
o que fazia antes, agora faz melhor.
LXXXIII
Seu totó lambe sua boca, sua língua. Como gosta!
Não me admiro, Maneia. Cães adoram bosta.
CX
Você diz, Veloz, que meus poemas são longos.
Você não escreve nada: isto é concisão.
XLIX
Você bebe o melhor vinho, nos oferece o pior:
prefiro cheirar seu copo que beber do meu.
LXXXIII
Me persegue, fujo; foge, te persigo. Percebe?
Quero que me recuse, não que me deseje.
XLVIII
Quando a turma da toga grita “Bravo!”, Pompônio,
Não é pro seu discurso, e sim pro seu jantar.
LI
Dá jantares e nunca me convida, Luperco.
Descobri um jeito de te ferir: ficar puto,
e ai de você se ousar me convidar.
“O que você vai fazer?” Eu? Ir.