“Rimbaud convida o tradutor a capturar a música de suas palavras”, diz Lopes
Tradutor e escritor
londrinense Rodrigo Garcia Lopes, um dos tradutores de “Iluminuras”,
conta sua relação artística com o poeta francês
25/11/2014 | 15:30 | Daniel Zanella, especial para a Gazeta do Povo
A
tradução de “Iluminuras”, de Arthur Rimbaud, as colagens-testamento
escritas em 1886, é um marco na literatura brasileira da década de 1990.
Relançado em comemoração aos vinte anos da primeira edição no Brasil, a
obra permanece como um relato pós-moderno de um poeta radicalmente
voltado a expandir os limites da palavra. O tradutor londrinense Rodrigo
Garcia Lopes fala à Gazeta do Povo sobre os processos e caminhos
pessoais que o levaram ao poeta francês.
Como surgiu o interesse pela obra de Rimbaud e, mais especificamente, “Iluminuras”?
Descobri Rimbaud muito cedo, por volta dos 14, 15 anos. E custou a entendê-lo. A tradução que conhecia era a do Ledo Ivo, não era bilíngue, e ela de alguma forma não me satisfazia. Parecia travada. Não parecia que quem tinha escrito aqueles poemas vertiginosos era um jovem. Quando começamos a traduzir em parceria, eu e Maurício Arruda Mendonça, o Rimbaud foi um dos primeiros que pegamos. Daí acalentamos a ideia de um dia traduzir as “Illuminations”, que era para nós o mais radical e louco de Rimbaud, o momento culminante de sua escrita. O livro, bilíngue, tinha um ensaio alentado que a gente curtiu muito ter escrito. O livro foi publicado em 1994, há exatos 20 anos.
Quais foram as dificuldades de traduzir uma prosa-poética de contornos e linguagem quase para o delirante?
A alta carga de ambiguidade e indeterminância. Rimbaud parece querer transformar o poema em prosa em um enigma, um desafio à nossa imaginação. Nas composições caleidoscópicas de “Illuminations”, Rimbaud quer levar ao limite a exploração do impacto da mente poética sobre a realidade exterior, fazendo com que o poema, muitas vezes, apareça na forma de um enigma. Temos que pensar e derivar junto com ele. Afinal, foi ele quem formulou “Eu é um outro”.
O que foi mudado da primeira edição, de 1994, para a atual?
Eu e Maurício revisamos as traduções, amadurecemos algumas soluções, reforçamos as notas, refizemos a cronologia. Fomos mais precisos em algumas passagens. Rimbaud é curioso porque às vezes o melhor é não florear nem interpretar e traduzi-lo literalmente. Em outras, ele como que convida o tradutor a pirar também no idioma de chegada e capturar a música de suas palavras. Na primeira versão privilegiamos a inventividade de Rimbaud, e agora focalizamos a precisão de sua linguagem. De forma que chegamos a um equilíbrio entre a criação verbal e a precisão das ideias imagéticas do poeta francês.
Descobri Rimbaud muito cedo, por volta dos 14, 15 anos. E custou a entendê-lo. A tradução que conhecia era a do Ledo Ivo, não era bilíngue, e ela de alguma forma não me satisfazia. Parecia travada. Não parecia que quem tinha escrito aqueles poemas vertiginosos era um jovem. Quando começamos a traduzir em parceria, eu e Maurício Arruda Mendonça, o Rimbaud foi um dos primeiros que pegamos. Daí acalentamos a ideia de um dia traduzir as “Illuminations”, que era para nós o mais radical e louco de Rimbaud, o momento culminante de sua escrita. O livro, bilíngue, tinha um ensaio alentado que a gente curtiu muito ter escrito. O livro foi publicado em 1994, há exatos 20 anos.
Quais foram as dificuldades de traduzir uma prosa-poética de contornos e linguagem quase para o delirante?
A alta carga de ambiguidade e indeterminância. Rimbaud parece querer transformar o poema em prosa em um enigma, um desafio à nossa imaginação. Nas composições caleidoscópicas de “Illuminations”, Rimbaud quer levar ao limite a exploração do impacto da mente poética sobre a realidade exterior, fazendo com que o poema, muitas vezes, apareça na forma de um enigma. Temos que pensar e derivar junto com ele. Afinal, foi ele quem formulou “Eu é um outro”.
O que foi mudado da primeira edição, de 1994, para a atual?
Eu e Maurício revisamos as traduções, amadurecemos algumas soluções, reforçamos as notas, refizemos a cronologia. Fomos mais precisos em algumas passagens. Rimbaud é curioso porque às vezes o melhor é não florear nem interpretar e traduzi-lo literalmente. Em outras, ele como que convida o tradutor a pirar também no idioma de chegada e capturar a música de suas palavras. Na primeira versão privilegiamos a inventividade de Rimbaud, e agora focalizamos a precisão de sua linguagem. De forma que chegamos a um equilíbrio entre a criação verbal e a precisão das ideias imagéticas do poeta francês.