terça-feira, abril 23, 2013

Resenha de Canções do Estúdio Realidade, por Ranulfo Pedreiro



0Ranulfo Pedreiro/JL


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O novo CD de Rodrigo Garcia Lopes abre e fecha ressaltando seu lado beat,
o da poesia falada em happenings musicais cheios de suingue. Mas é no miolo
que Canções do estúdio realidade esconde suas complexidades. A primeira delas
 é a palavra, mergulhada em melodia. As letras já não parecem poemas
musicados. A segunda é a direção musical de André Siqueira, dando tal qualidade
aos arranjos que eles, muitas vezes, roubam a cena.
Dizer que o CD, com distribuição da Tratore e patrocínio do Promic, mistura MPB
e jazz é pouco. Há algo sinfônico no sentido com que as vozes se cruzam. A bateria
de Rodrigo Serra, por exemplo, está longe de se restringir ao ritmo. O piano
econômico de Mateus Gonsales fala pouco e toca muito, sempre em acordes
abertos. Gabriel Zara divide o baixo com o próprio André, que empunha o inconfundível
 fretless construído por Renato Alves e faz um belo solo em Alba – canção praieira
que disfarça uma ciranda.
Há momentos cinematográficos na tensão de Vertigem e uma delicadeza à
Modern Jazz Quartet em Cerejas, talvez pelo vibrafone límpido de Marcello
Casagrande. O suingue volta em Adeus, parceria visceral com Paulo Leminski.
E é leminskiano o clima de haikai que pousa sobre Iluminações, parceria com
Bernardo Pellegrini. É uma melodia que segue a fala, mas com direito a curvas
 fechadas no caminho. Com Neuza Pinheiro, Rodrigo assina a folk Butterfly,
 única em inglês.
Não é disco para se ouvir distraído. Ele clama por atenção, que revela tessituras
 imperceptíveis à primeira audição. Evite, portanto, aquelas caixinhas de
computador. Canções... é para se abrir com volume e amplitude.
Seus detalhes, caminhos, pontos e cruzamentos é que são elas. Dão o clima,
porque se trata de CD com arquitetura, ambiente. Há poesia, mas ela não é
exatamente a ponta de lança. Cantador, Rodrigo Garcia Lopes especula
sentimentos que assombram nossa condição humana. Com palavras ou sem.

domingo, abril 21, 2013

Gravação do clipe NEW YORK, de Rodrigo Garcia Lopes, com direção de Anderson Craveiro

Hoje é o terceiro e último dia de gravação do clipe da minha música NEW YORK, com direção de Anderson Craveiro. Conheça a faixa do Canções do Estúdio Realidade aqui:

sábado, abril 13, 2013

Canções do Estúdio Realidade: crítica de Jotabê Medeiros


Jotabê Medeiros, hoje, no Caderno 2 de O Estado de S. Paulo:

Canções do Estúdio Realidade
Rodrigo Garcia Lopes
Independente
++++ Ótimo

O SAFÁRI DO POETA PELO TERRITÓRIO DO POP

por JOTABÊ MEDEIROS

Refinar o pop a partir da experiência literária não é um sonho novo. Leonard Cohen, Leminski: muitos burilaram essa fronteira. Rodrigo Garcia Lopes, poeta, tradutor, cantor e compositor, faz percurso curioso em seu segundo disco, Canções do Estúdio Realidade. Aqui se dá o inverso: é a leveza do pop que impulsiona uma trama poética sutil. Quaderna, balé numerológico que abre o álbum, é um funk de baixo marcado, que parece vir com um Djavan embutido. Em Alba, sob uma flauta acariocada, Edu Lobo e Cazuza parecem se encontrar por um instante. "Vida breve, curto o dia", diz a letra. Há uma tessitura deliberadamente old fashion, que pode até evocar Chico Buarque e Tom Jobim (como no piano e melodia em "Vertigem"). O afeto à memória é tratado a pão de ló no disco de Rodrigo. Ele encarou verter para o português a canção Nobody does it Better, tema antigo de 007 (de Carole Bayer Sager e Marvin Hamlish). Fugaz tem sabor de jazz fusion à mineira. Uma natural familiaridade costura as harmonias do poeta, que nos leva, pelo som, a um território novo e antigo ao mesmo tempo. 

sexta-feira, abril 12, 2013

Pensata do dia



"O propósito da poesia é nos lembrar / como é difícil permanecer uma pessoa só, / pois nossa casa está aberta, não há chaves nas portas, / e convidados invisíveis entram e saem à vontade."


– Czeslaw Milosz, “Ars Poetica”

quarta-feira, abril 10, 2013

terça-feira, abril 09, 2013

Canções do estúdio Realidade: entrevista para Linaldo Guedes, do Repórter PB (João Pessoa)

Rodrigo Garcia Lopes lança CD



Por Linaldo Guedes

Poeta. Tradutor. Músico. Rodrigo Garcia Lopes se divide em várias funções artísticas e, sempre com talento e critério, vem inserindo seu nome na cena cultural contemporânea brasileira. Natural de Londrina, no Paraná, Rodrigo viajou o mundo, lançando livros, traduzindo outros e construindo canções que agradam aos que buscam algo diferente para ouvir, além do convencional que toca nas emissoras de rádio. Sua mais nova obra é o disco “Canção de Estúdio Realidade”, com músicas de pegadas jazzísticas, funkeiras e também influências da boa e velha MPB. O disco traz canções poéticas, com arranjos delicados, mas harmoniosos e provocantes, como na canção “Vertigem”, com claras referências à poesia de Alphonsus de Guimarães e ao cinema de Hitchcock. Não é o primeiro disco de Rodrigo. Antes, ele já havia lançado “Polyvox”, mas este é mais canção, embora não seja menos poético. Não é um disco de poesia musicada. “São canções, uma combinação única de melodia, ritmo, letra e harmonia. Uma interrelação entre música, voz e poesia”. Aliás, a velha discussão do que é letra de música ou poesia em canções nacionais é encerrada por Rodrigo com os seguintes argumentos: “Se uma canção se sustentar no papel, é um poema. Se o poema não se sustentar cantado, não é canção”.

“Canção de Estúdio Realidade” traz, no encarte, depoimento de Arrigo Barnabé e Rodrigo não disfarça as influências da vanguarda paulista em seu trabalho, influências essas que datam de suas primeiras composições. A versão de “Nobody does it better”, de Marvin Hamlisch e Carole Bayer Sager, sucesso na voz de Carly Simon, já está disponível no site do artista. O disco traz parcerias com Paulo Leminski, Neuza Pinheiro e Bernardo Pellegrini. Rodrigo já está caindo na estrada para divulgar o CD, que pode ser adquirido via internet, e não descarta vir tocar na Paraíba, basta que apareça convite. Ele reconhece as dificuldades na divulgação para um trabalho tão criterioso como este. “Aqui mesmo na minha cidade natal, Londrina: existem 250 duplas de sertanejo universitário na cidade. O pessoal não vai a shows que não sejam de “balada”. É uma tristeza”, desabafa, acrescentando que a nova MPB também não lhe anima: “Falta referência, conteúdo, com exceções, é claro”.

 
REPORTERPB - “Canção do Estúdio Realidade” tem uma pegada jazzística muito forte, em algumas canções, mas também tem funk e MPB. A que referências musicais você recorreu para fazer este belo trabalho?
Rodrigo Garcia Lopes
- Além da MPB, o jazz sem dúvida é uma influência. Um de meus ícones sempre foi Miles Davis, o Picasso da música. Eu ouvia muito Bill Evans, Coltrane, Monk, o incrível Duke Ellington, Chick Corea, Gary Burton, Ralph Towner e Marcus Muller. E então o jazz mais europeu, como o de Jan Gabarek, e no Brasil, Gismonti. Sou fã do funk clássico (não o carioca). É um estilo que faz minha cabeça. O jazz foi importante inclusive para minha formação poética, como alimento espiritual, nutrimento de impulso, inclusive na maneira de compor no violão, que já prepara a cama para o arranjo com outros instrumentos. O disco ficou com uma sonoridade que tem tudo a ver com meus gostos musicais. Na verdade, há um diálogo com toda uma tradição, ou várias tradições: da trovadoresca à MPB. O André Siqueira (diretor musical do disco junto comigo e autor de 10 dos 12 arranjos) foi muito feliz ao captar isso. Seus arranjos são primorosos. Vale ressaltar a mixagem, feita por André Siqueira, Luciano Galbiatti e eu, e a masterização, feita com um papa do assunto, Homero Lotito.

Você surgiu como poeta, tradutor... O músico veio depois, ou ele apenas aflorou no momento em que você acreditava ser certo?
Eu toco violão desde os 11 anos. Tive aulas com professores na adolescência. Toquei na rua. Participei de festivais de música em Londrina. Me apresentei num pá de lugares. Pouca coisa que compus antes dos anos 90 eu aproveitei. Creio que fiquei mais tocando coisas dos outros, sobretudo Itamar Assumpção, a certa altura dos anos 80, do que propriamente compondo. O processo de compor recomeçou, de forma mais madura, nos anos 90. Com a convivência com poetas e músicos de minha geração como Maurício Arruda Mendonça, Bernardo Pellegrini. Em 2001 lancei Polivox, que tinha uma proposta diferente deste disco: Polivox trazia poemas que foram musicados e transformados em outra coisa, canções, poemas sob a forma de poetrilhas ou salas sonoras (aguçando uma viagem sonora com o texto), ou poemas lidos no seco, onde eu queria explorar o som da linguagem em si. O Canções do Estúdio Realidade aprofunda e adensa as experiências musicais iniciadas no primeiro disco enquanto explora, em doze faixas, formas possíveis de compor canções hoje em dia. Achei que não cabia no contexto experiências com poesia sonora ou poetrilhas, quem sabe no próximo. Hoje, penso nas canções em termos de campos de possibilidades poético-musicais.

É um disco de canções ou de poesia musicada, já que você é poeta?
São canções, uma combinação única de melodia, ritmo, letra e harmonia. Uma interrelação entre música, voz e poesia. Pelo menos foi o que pretendi, e não “poesia musicada”.

Aliás, como você vê a discussão que sempre existe sobre o que é letra de música ou é poesia nas canções nacionais?
Se uma canção se sustentar no papel, é um poema. Se o poema não se sustentar cantado, não é canção. Acho que isso resume o que penso.

O disco não deixa de ter enes referências literárias, como em “Vertigem”, com alusão ao poema “Ismália”, de Alphonsus de Guimarães, embora a inspiração maior parece ter sido mesmo o filme de Hitchcock.  O arranjo da canção, inclusive, leva o ouvinte a ter a sensação de vertigem mesmo. Fale um pouco como foi essa junção entre cinema e literatura nesta canção.
Interessante você dizer isso. O Luiz Tatit chamou o disco de lírico e cinematográfico, e acho que ele captou bem isso. Quando bolei a sequência das faixas, que me deu um grande trabalho, pensei em termos de doze cenas ou capítulos de um livro que é este estúdio realidade em que vivemos. Pensei nesta canção como uma mini-narrativa, como é de tradição na nossa MPB, de Noel a Chico. As letras tem bastante carga imagética, além de eu ser um apaixonado pelo cinema. O trabalho gráfico do Marcos Losnak e as fotos de Elisabete Ghisleni, no encarte, acentuam isso.

Como surgiu a idéia de traduzir “Nobody does it better”, de Marvin Hamlisch e Carole Bayer Sager, sucesso na voz de Carly Simon?
Não sei o motivo, mas é daquelas músicas que me marcaram muito nos anos 70. Esta versão tem uma pequena história: eu havia quebrado o braço em 2010, e um grande amigo, o poeta Maurício Arruda Mendonça, sugeriu, enquanto me recuperava, que eu fizesse uma versão. Nem sei bem direito o porquê, o que me lembro é que acabei me envolvendo por dois dias no desafio de botar letra e traduzir uma canção bastante conhecida. Como apaixonado tradutor de poesia, tentei ser fiel também - e à medida da cantabilidade em português - à letra original de Carole Bager, além da bela melodia de Marvin Hamlisch (que ouviu e aprovou minha versão, em março de 2012). Influenciado por um romance policial que estava escrevendo, tentei acrescentar mais clima e atmosfera de mistério e do filme ao contexto da letra, acentuados pelo arranjo de André Siqueira. “Volta sempre pra enfeitiçar” é, claro, citação-homenagem a “Retrato em Branco e Preto”, de Chico Buarque e Tom Jobim.

Não são raros poetas que se aventuram no mundo da música. Neste disco, você tem parceria com Paulo Leminski na canção “Adeus”. Como foi musicar este poema de Leminski?
Como diz o José Miguel Wisnik, alguns poetas brasileiros sofrem da “tentação da canção”. É algo entranhado na nossa vida cultural. Musiquei este poema do curitibano Leminski nos anos 90, numa saudosa república de amigos em Londrina, nas tardes vadias de um inverno muito frio, entre fumaças de fogueira, vinhos e risos tintos. Isso foi mais ou menos na mesma época em que escrevi o poema que se tornou a canção “Iluminações. Enfatizado pelo violão percussivo, de levada funk, o poema da “besta dos pinheirais” recebe um tratamento jazzístico.

Há também outras parcerias no disco, com Neuza Pinheiro e Bernardo Pellegrini. Fale sobre elas.
Neuza Pinheiro e Bernardo Pellegrini são dois nomes importantes da cultura e da música londrinense. A parceria com Bernardo chama-se “Iluminações”.  É uma canção que eu adoro. Ela originou-se do poema sem título que abria meu primeiro livro, Solarium (1994). Desde então tem sido uma de minhas preferidas no extenso e rico repertório do Bernardo. Um instantâneo de uma época, de um tempo. Já a Neuza transformou meu poema composto na viagem de 1984 num suave folk, uma pérola de delicadeza.

Há algumas canções que foram feitas quando você estava no exterior, como “New York”, da última faixa do disco. Como foi o processo de composição dela?
Eu escrevera “New York” na minha passagem por lá, dez anos antes do 11 de setembro de 2001. Eu havia entrevistado o músico e poeta John Cage para meu livro de entrevistas e voltava de sua casa pela Sexta Avenida, um pouco confuso, pensando sobre o silêncio, que havia sido um ponto central da conversa e tão fundamental em sua obra, e no caos sonoro das ruas de Nova York, entre músicos batendo lata e fazendo som e uma babel de idiomas. Sons, imagens e ritmos foram naturalmente se acumulando em minha mente. Parei na rua e escrevi o primeiro esboço do poema. Já naquele momento sabia que seria um rap com tratamento harmônico jazzístico e foi da maneira como faço nesta faixa que passei a declamá-lo/cantá-lo em performances. Dois anos depois, em Londrina, preparando-se para apresentar este poema com Mario Bortolotto, Maurício Arruda Mendonça e Silvio Demétrio numa série batizada de “Poesia in Concert”, fui compondo no violão uma harmonia que dialogasse com a sequência imagética e a dinâmica do poema, acomodando riffs e frases e compondo com a letra e suas progressões, num processo bastante caótico, todas precisamente captadas no arranjo da Banda Cinemática. Assim nasceu “New York”.

Como está sendo feita a divulgação do trabalho? Onde e como o público pode adquirir o disco?
Da mesma forma de sempre: na raça. A diferença é que quando lancei Polivox não tínhamos ainda todas as possibilidades abertas para a música independente com a internet, sites de música brasileira independente e com plataformas como soundcloud, Myspace, Reverbnation. Estou me valendo muito dela para isso. O disco está à venda pelo e-mail estudiorealidade@gmail.com e pela distribuidora Tratore www.tratore.com.br Estou usando bastante a internet, e criei um site, desenhado pela poeta Ana Peluso, www.rgarcialopes.wix.com/site, que foi lançado ao mesmo tempo que o disco. Ele traz muita coisa, inclusive o disco anterior livre para download. Além disso, enviei cerca de 350 discos para rádios, críticos, jornalistas, revistas e sites de música. É um trabalho duro, pois, como me lembrou uma amiga música de Curitiba, vivemos hoje uma “saturação de produção”.

Sua música não é alternativa, é bem contemporânea. Talvez seja alternativa à muita coisa de ruim que vem sendo produzido hoje em dia no país. Como você avalia o mercado para trabalhos criteriosos como o de “Canção do Estúdio Realidade”?
Muito difícil responder. Vou dar um exemplo aqui mesmo na minha cidade natal, Londrina: existem 250 duplas de sertanejo universitário na cidade. O pessoal não vai a shows que não sejam de “balada”. É uma tristeza. A chamada nova MPB também não me anima, confesso, e olha que tenho acompanhado bastante o que está rolando. Falta referência, conteúdo, com exceções, é claro.

Fale um pouco do depoimento do Arrigo Barnabé, inserido no encarte do CD. Como você vê a musicalidade das vanguardas de São Paulo e como eles se encaixaram em seu CD?
Pra mim foi uma alegria, um presente, o texto do meu conterrâneo Arrigo, porque ele é também uma de minhas grandes referências na MPB. Clara Crocodilo, depois suas canções, foram importantes na minha formação. Eu acompanhei bastante, nos anos 80, o trabalho daquela chamada “vanguarda paulistana” que tinha boa parte dos pés encravadas em Londrina, com o Itamar, Arrigo, Neuza Pinheiro...

E a repercussão deste trabalho junto à crítica, como tem sido?
Ainda está devagar, mas artistas que respeito, como Vitor Ramil, Luiz Tatit e Antonio Cicero, gostaram do disco. Por parte da crítica, as resenhas estão saindo, aos poucos.

Você vai pegar a estrada para divulgação do CD? Há possibilidade de uma vinda à Paraíba?
Com certeza. Tenho show de lançamento de estreia em São Paulo, no SESC Belenzinho, e preparo shows em Londrina, Florianópolis, Porto Alegre e Rio de janeiro. Se conseguirmos alguém que leve meu show a João Pessoa, embarco amanhã!

E o poeta Rodrigo Garcia Lopes? Algum novo livro em vista?
Em maio sai Estúdio Realidade, pela 7Letras do Rio, meu primeiro livro de poemas desde Nômada (2004). Ela traz apresentação de Antonio Cicero. A poesia andou mais lenta nos últimos anos porque estava enfiado num romance policial, que me custou seis anos de trabalho e pesquisa.
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terça-feira, abril 02, 2013

SOBRE CANÇÕES DO ESTÚDIO REALIDADE, POR LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA (CADERNO G-GAZETA DO POVO)


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Da coluna Acordes Locais, publicada às quartas-feiras, na Gazeta do Povo:

Elisabete Ghislen/Divulgação
Elisabete Ghislen/Divulgação / Rodrigo Garcia Lopes: ano de colheita artísticaRodrigo Garcia Lopes: ano de colheita artística
Abrir o disco “Canções do Estúdio Realidade”, de Rodrigo Garcia Lopes, é empreender uma viagem a um bom tempo da música. Um tempo que resiste na memória e no coração de uma bela canção. Entrar no Estúdio Realidade é como entrar em um livro, um bom livro.
Pela proximidade que tem com a literatura, o compositor, que também é escritor e tradutor, sabe da importância e do fetiche que tem o objeto livro. Manuseá-lo, o virar de páginas, mesmo o cheiro, o toque suave para sentir as ranhuras, as marcas deixadas pela impressão. Assim é o disco, no som, nas palavras, na melodia, na voz de Lopes. Uma mistura perfeita de sons e imagens - imagens literárias, inclusive.
É um trabalho que se traduz na palavra “álbum”. Eu sou dos que preservam o fetiche de ter um objeto cultural nas mãos. Acho isso bem melhor do que tê-lo só na nuvem. Gosto de respirar o pó de sebos, sentir a poeira na ponta dos dedos, mas também de sentir o cheiro de uma nova impressão e admirar o cuidado com a confecção de um projeto que se transformou em um objeto de arte.
“Canções do Estúdio Realidade” me deu o prazer da leitura, inclusive da leitura tátil, quase um braile, do virar de páginas para ler as letras de canções que se derramam em melodias finas feito um assobio, um canto de canário. Parabéns ao projeto gráfico de Marcos Losnak, sobre fotografias de Elisabete Ghisleni.
Folhear o disco e por os olhos nas canções nos envolve em um mundo paralelo. Como diz a frase de William S. Burroughs de onde o compositor retirou o nome do disco, “Assaltem o Estúdio Realidade ... e retomem o universo” (ele também mantém um blog chamado Estúdio Realidade). Um mergulho em um outro ambiente. O mistério e o fascínio da arte nos raptam.
Canção é palavra. Ou como diz Dante Alighieri, também citado no início do disco, “Canção: palavras postas em música”. Mas o mistério da arte se faz presente em cada folhear em cada assobiar de canção, nos ritmos e nas rimas, mas principalmente nas melodias que embalam palavras.
Ah, querido Chico Buarque, a canção não morreu. Ela passeia por aí alegre. Um tanto avoada, fora da realidade. Adolescente depois do primeiro beijo. Poesias assobiáveis. Palavra e poesia inseparáveis. Completam bodas de diamantes já no primeiro encontro.
Como desvendar as intenções do autor? A pergunta é de Arrigo Barnabé, na apresentação dos disco. A resposta elegante de Arrigo, deixo para quem comprar o disco.
Sem tentar desvendar intenções, aqui eu divido emoções e intuições. Neste álbum, Rodrigo faz o fundo musical para dançar com a poesia e com o cinema. Ou, com a palavra e com o olhar. Um olhar de poeta, que se assemelha ao olhar de criança ou ao olhar de um cineasta -- com algumas diferenças, enquanto o poeta busca significâncias, o cineasta se concentra nas imagens. Rodrigo junta significâncias, com imagem e canções. Literatura, cinema e música. Compre um, leve três.
Nas 12 canções há poucos parceiros. Paulo Leminski no poema musicado “Adeus”, Bernardo Pellegrini, em “Iluminações”, e Neuza Pinheiro, em “Butterfly”. E há ainda a excelente e, para mim, quase improvável versão de “Nobody Does It Better” (Marvin Hamlisch/ Carole Bayer Sager), que da voz cortante de Carli Simon a embalar saltos de mulheres desnudas na abertura do filme “O espião que me amava”, da série de James Bond, é reinterpretada com a voz de veludo, redonda, de Lopes, sem mexer na melodia.
“Canções do Estúdio Realidade” nos põe tanto na varanda da casa, pegando o ar que acalma a tarde inflamável de Londrina, quanto próxima de uma lareira de um apartamento que nos acolhe da atropelada e gélida correria de Nova York. Resgata-nos da realidade envolvendo-nos em canções e arte.

segunda-feira, abril 01, 2013

Da minha série FAMOSOS, Rodrigo Garcia Lopes

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Da minha série FAMOSOS:

 

Paul Verlaine fica noivo de Arthur Rimbaud. Veja aliança.

Saiba como Jane Austen perdeu peso após a gravidez.

Lou Salomé: preferia o paredão a ficar com Nietzsche no BBB.

“Bunda foi importante”, mas não sou só isso, diz Emily Dickinson. Confira ensaio.

Preço da fama: Charles Baudelaire não consegue lidar com assédio da imprensa e de fãs.

Assessoria nega que Samuel Beckett vá parar.

Vitor Hugo posa com Stephane Mallarmé em rede social.

Superdecotada, Sylvia Plath é flagrada em shopping e posa para fotógrafos.

Declaração de Salinger no Facebook reacende polêmica sobre celebridade.

“Pode parecer superficial, mas gosto de ser alta”, diz Virginia Woolf pelo twitter.

“Meu cabelo está ligado a minha cabeça e a de mais ninguém”, diz Antonin Artaud, sobre as críticas que recebeu sobre o corte de cabelo.

Jorge Luis Borges diz que não se incomoda com alfinetadas de Henry Muller.

Marshall McLuhan é alvo de inveja na Globo.

“Porque eu tenho uma relação péssima com a balança. É um horror”, diz Oscar Wilde .

DJ Marcel Duchamp curte balada em Jurerê Internacional.

Jack London: beijar Stálin foi asqueroso.

De biquíni em Cannes, Gertrude Stein revela estar acima do peso.

Protagonista de Crime e Castigo, Raskolnikov está cansado de piadas sobre seu pênis.

Nunca fiz plástica, nunca usei botox, diz Marianne Moore.

Lilya Brik e Maiakovsky assumem namoro. Veja quem já ficou com quem.

MC Cruz e Souza leva seus filhos para brincar na orla do Leblon.

“Eu ia dar muito”, diz Anna Akhmatova, sobre o que faria se não fosse famosa.

Após testar prótese capilar, Sigmund Freud assume de vez a calvície.

A barriga não me atrapalha em nada, diz Oswald de Andrade em megaevento.

"Claro que já peguei famosos", diz Rimbaud em seu retiro africano.

Ex-BBB, Yukio Mishima prepara talk-show sobre artes marciais.

“Se o porteiro do prédio também pode ir assistir aos musicais da Broadway, então qual a graça?”, diz Karl Marx em rede social.

Modelo diz que Claude Debussy tentou chantageá-la durante show.

Allen Ginsberg sobre nova parceria com Jack Kerouac. “Temos sintonia”.

Filho de Ludwig Wittgenstein se encanta com cachorro durante passeio em Ipanema.

“Não caiu a ficha”, diz Walt Whitman, depois do primeiro lugar em A Fazenda.

(mais em breve...)