quinta-feira, dezembro 15, 2011

UM POEMA PARA O DESERTO


UM POEMA PARA O DESERTO



com seus rios secos desde o começo

com sua sede sonora

com o sal que não pergunta

do sentido

deste paraíso perfeito

templo sem vozes

do sol que se deita

olho de um sábio egípcio

um oásis

onde o céu

se amplia e revela

uma íris, ou quase,

e a metade da lua

magnifica

uma lágrima minha

fixando

o som misterioso dessas rochas e pessoas

automóveis deslocando seus vazios

sob o fog azul da luz no sul

o trânsito pesado e veloz

o stress das consoantes

o desdobrar da seda

o cheiro do fumo e de café africano

sensação imprecisa, pedra preciosa

que celebra

a tarde que dura, suprema,

em sua dimensão paralela

o mar invisível que se quebra

manso

aqui

onde não há água.

Não há margens, nem miragens.

mas cedo ou tarde descobrimos

o que este outono

tem para nos dizer:

— cores, peles, percepções —

tempo de silêncio

flutuando agora no ar

fazendo

bolhas na superfície

de um céu que é mais além





                                                  RODRIGO GARCIA LOPES
                                                Arizona, 1991

                                              (Em Solarium, Iluminuras, 1994)

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