sexta-feira, maio 20, 2011

PROMONTÓRIO (poema de Arthur Rimbaud trad. Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)


PROMONTÓRIO



A aurora dourada e o pôr-do-sol arrepiante cruzam nosso brick ao largo dessa vila e de suas dependências que formam um promontório tão extenso quanto o Épiro e o Peloponeso, ou mesmo a enorme ilha do Japão, ou mesmo a Arábia! Templos iluminados pelo retorno das teorias, das vistas imensas da defesa dos modernos litorais; dunas ilustradas de flores quentes e de bacanais; dos grandes canais de Cartago e os Embankments de uma Veneza duvidosa; a erupção gelatinosa de Etnas e a fissura de flores e águas glaciais; lavatórios rodeados de álamos da Alemanha; declives de parques singulares pendendo das cabeças das Árvores do Japão; e as fachadas circulares dos “Royal” ou dos “Grand” de Scarbro’ e do Brooklyn; e seus railways flanqueiam, cruzam e pendem sobre as disposições deste Hotel, escolhidas na história das mais elegantes e mais colossais construções da Itália, América, Ásia, em cujas janelas e terraços, agora cheio de luzes, de bebidas e brisas chiques, estão abertos ao espírito dos viajantes e dos nobres — permitindo, durante o dia, a todos as tarantelas do litoral, — e até mesmo aos ritornellos dos vales ilustres da arte, decorar maravilhosamente as fachadas do Palácio-Promontório.  




ARTHUR RIMBAUD
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
Em ILUMINURAS (GRAVURAS COLORIDAS,  Editora Iluminuras, 1996.

Um comentário:

Anônimo disse...

Troço bonito da peste.