terça-feira, novembro 18, 2014

"Aurora", de Arthur RIMBAUD. Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça




AURORA

Eu abracei a aurora de verão.
Nada ainda se mexia na fachada dos palácios. A água estava morta. Acampamentos de sombras não deixavam a trilha do bosque. Eu marchava, despertando os hálitos vivos e cálidos, e as pedrarias espiavam, e as alas se levantavam sem um som.
A primeira missão foi, num atalho já cheio de centelhas frescas e pálidas, uma flor que me disse seu nome.
Sorri para a loira wasserfall que se descabelava através dos pinheiros; reconheci a deusa no cimo de prata.
Então, um a um, levantei os véus. Nas alamedas, agitando os braços. Pela planície, onde a denunciei ao galo. Na cidade grande ela fugia entre cúpulas e campanários, e correndo como um mendigo entre docas de mármore, eu a caçava.
No alto da trilha, perto de um bosque de louros, eu a envolvi com seus véus amontoados, e senti um pouco seu imenso corpo. A aurora e a criança caíram no fundo do bosque.
Ao acordar, meio-dia. 


ARTHUR RIMBAUD
Em Iluminuras (Gravuras Coloridas)  
Editora Iluminuras
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça


Nenhum comentário: