sábado, fevereiro 28, 2009

ENTREVISTA PARA O PROGRAMA ONDAS LITERÁRIAS

ondas de rádio


A Andrea Catropa está com um projeto muito bacana na Rádio Cultura Brasil, de São Paulo: Ondas Literárias, uma série de 24 episódios que focaliza a poesia brasileira contemporânea. Tem uma pá de poetas e escritores falando se seu ofício. Meu depoimento também está lá. Confira:



http://www.radioculturabrasil.com.br/ondemand/ondasliterarias/index.htm

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

NA PASSAGEM DOS CÉUS





NA PASSAGEM DOS CÉUS QUE FOGEM DE NÓS
Na imagem das coisas que retornam sem nós,
Na miragem dessa solidão, você aqui:

Na repetição das antigas sensações
Na fala a provocar o pensamento
Parecendo um passado que se dobra
Sobre esta polpa de presente:

Se a linguagem é nossa realidade
E coisas forem apenas palavras
Então nos restará apenas a veracidade -
Esse vácuo que nos acua ao avançar.




Rodrigo Garcia Lopes (em Nômada, Lamparina, 2004)

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

CODA


CODA

passos sem pressa a mancha d’água
pegadas
ser que ainda não se foi
e as eras respondendo eram essas
mensagens na areia molhada
da claridade muda de tudo,
atravessando mares
(que regressam)

sombras regressando para outros mares
possessas
nesse nada que é da cor do céu
da cor do seu
enquanto olha para trás
pegadas
na praia brava exata deste instante.
Você.
Verde arena, mente.
Clic.
Tigre na folhagem de damasco.

Viver deve ser algo, talvez, que se faz enquanto
escutamos uma concha
imaginária num deserto
(teatro de gregos
agoras segundos)
no mundo que dura enquanto
escapa
sob nossos pés:
e a boca
que pára e olha de perto a onda
verso contra verso
(flor de silêncio)
ou só essa música que cessa —
apenas pra recomeçar.
lembrando-nos das horas em abismo
(flor de silício)
perdidas ou ganhas
admirando o mar
(o mesmo que retorna em sonhos ancestrais)
enquanto a linguagem, essa promessa,
um outro milênio começa.



Rodrigo Garcia Lopes

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

LANÇAMENTO DO DICIONÁRIO DA ILHA EM SAMPA


Meu amigo Fernando Alexandre volta à Sampa depois de 17 anos. E lança, amanhhã, terça, dois livros: seu best-seller Dicionário da Ilha (mais de 11 mil exemplares vendidos), um delicioso reservatório de termos usados pelos habitantes de Floripa, os manezinhos. Você vai ficar sabendo o significado de "desconfiado" e "avião de rosca" e também de expressões do imaginário e do popular açoriano-brasileiro. Ele também lança o Dicionário do Surfe. Os dois ilustrados pela amiga Andrea Ramos.
Além de jornalista e poeta, pra quem não conhece a peça, o
Fernandão foi um dos mentores do famoso e pioneiro LIRA PAULISTANA, e está na cidade para gravar seu depoimento para o filme que está sendo feito sobre a centro cultural-gravadora-jornal aglutinou e lançou boa parte da vanguarda paulistana nos anos 80. Confira.

sábado, fevereiro 07, 2009

ELDORADO (poema de Edgar Allan Poe)


Tinha traduzido este poema, "Eldorado", no ano passado. Agora coincidentemente vi outra tradução no blog do
Ivan Justen, e fiquei sabendo que Edgar Allan Poe no dia 19 de janeiro passado fez 200 anos! Confira também a tradução de Ivan Justen Santana, no blog dele, aqui:http://ossurtado.blogspot.com/

Segue uma primeira versão minha da tradução (ainda in progress):


ELDORADO


Alegre e elegante,
Um cavaleiro galante,
Sob brilho de sol e sombra
Viajara um montão
Cantando uma canção
Em busca do Eldorado.

Logo ele ficou idoso
O cavaleiro corajoso
E caiu no peito uma sombra
Quando ele não achou
Nenhum pedaço de chão
Parecido com o Eldorado.

E, enquanto seu poder
Já o deixava à mercê
Cruzou uma peregrina sombra.
"Sombra", disse primeiro,
"Qual será o paradeiro
Dessa terra do Eldorado?"

"Sobre as Montanhas
Da Lua,
Pelo Vale da Sombra,
"Cavalgue, cavalgue, sem medo"
Respondeu a sombra em segredo
"Se você busca o Eldorado!"



Edgar Allan Poe
(*Boston, 19/01/1809 – †Baltimore, 07/10/1849)
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

AS PONTES (de Rimbaud)




Céus de cristal gris. Bizarro desenho de pontes, estas retas, aquelas em arco, outras descendo em ângulos oblíquos sobre as primeiras, e essas figuras se renovam nos outros circuitos iluminados do canal, mas todas tão longas e leves que as margens, cheias de cúpulas, afundam e encolhem. Algumas dessas pontes ainda estão cheias de barracas, outras sustentam mastros, sinais, frágeis parapeitos. Acordes menores se cruzam, e somem, as cordas escalam os barrancos. Distingue-se uma roupa vermelha, talvez outros trajes e instrumentos musicais. São árias populares, trechos de concertos senhoriais, restos de hinos públicos? A água é gris e azul, larga como um braço de mar.
— E um raio branco, desabando do alto do céu, aniquila esta comédia.

ARTHUR RIMBAUD
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça

(Em Iluminuras - Gravuras Coloridas, Editora Iluminuras, 1994)

terça-feira, fevereiro 03, 2009

DEPOIS DO DILÚVIO (de Arthur Rimbaud)




DEPOIS DO DILÚVIO

Assim que a idéia do Dilúvio sossegou,
Uma lebre se deteve entre trevos e campânulas cambiantes, e fez sua prece ao arco-íris, através da teia de aranha.
Oh! as pedras preciosas que se escondiam, — e as flores que já olhavam.
Na grande rua suja açougues se abriram, e barcos foram lançados nos degraus do mar lá no alto como nas gravuras.
O sangue correu, no Barba-Azul, — nos matadouros, — nos circos, onde o selo de Deus empalidecia as janelas. O sangue e o leite correram.
Castores construíram. “Mazagrans” enfumaçaram os botecos.
Na imensa mansão de vidros ainda gotejantes, meninos de luto admiram
imagens maravilhosas.

Uma porta bateu, — e sobre a praça da vila, o menino girou os braços,
compreendidos os cata-ventos e galos dos campanários de toda parte, sob um temporal cintilante.
Madame *** instalou um piano nos Alpes. A missa e as primeiras comunhões foram celebradas nos cem mil altares da catedral.
As caravanas partiram. E o Splendide-Hotel foi erguido no caos de gelo e da noite polar.
Desde então, a Lua ouviu o uivo dos chacais nos desertos de timo, — e écoglas de tamancos grunhindo no pomar. Depois, na floresta violeta, florescente, Êucaris me disse que era a primavera.
— Lago, salte, — Espuma, role sobre aponte e por cima desses bosques; — panos negros e órgãos, — trovão e raio, — subam e rolem; — águas e tristeza, subam e renovem esses Dilúvios.
Pois desde que dissiparam, — Oh as pedras preciosas se enterrando, e as
flores se abrindo! — tudo é um tédio! E a Rainha, a Feiticeira que acende sua brasa num pote de barro, não vai querer jamais nos contar tudo o que sabe, e que nós ignoramos.



ARTHUR RIMBAUD
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
Em Iluminuras – Gravuras Coloridas (Editora Iluminuras, 1996)