quinta-feira, abril 29, 2010

VALENTINO, LUAR DE OUTONO






a gueixa

agora quer

agarrar

uma guria



a garrafa

de saquê

está vazia








Rodrigo Garcia Lopes, 1984

ALBA (Rodrigo Garcia Lopes)

Alba em Mount Rogers, Virginia, 2008.



Onde você escreve toda a noite,

Onde a letra, de neve, esteve

No que a madruga se deteve

Entre trevos de fel e treva.


Ler o que essa treva revela,

Revelar o que essa era oculta.

Sinais de luta, além da tela.

Reler o que, ao se escrever, releva,

E sua pena atenua e libera.




Rodrigo Garcia Lopes

Em Nômada, Lamparina, 2004)

terça-feira, abril 27, 2010

O Assinalado (Cruz e Souza / Rodrigo Garcia Lopes)

EXPEDIÇÃO A MOUNT ROGERS, VIRGINIA, 2008





HIKMA*




A casa foi sendo progressivamente esvaziada, até que na manhã de domingo só restou ele. E o falcão.






* na poesia pré-islâmica, o dito espirituoso, máxima.

Em Nômada (Rodrigo Garcia Lopes, 2001)

domingo, abril 25, 2010

M (poema de Rodrigo Garcia Lopes)





1


Improvisação pessoal.
Essa noite sou um jazzman
com dentes de ouro & swing
pra raiar o dia.
Troco a mobília de dentro, só,
pra ver como ficamos.
Táxis negros dão rasantes
sobre suicidas.
Sou apenas um fantasma clandestino
procurando o que beber
nessa noite fria.
Amo a lua, submisso,
embrulhado num lençol chinês.
Spyder-man tecendo
essa novela de personagens
tão confusas.
Desarrumo tudo.
Paciente,
espero os ilustres convidados que, eu sei,
não vão chegar.



2


Descendo pelas escadas de emergência
do maior edifício do mundo.
Escuro.
A idiota que eu amo está lá em cima,
dormindo, suando frio,
morrendo um pouco. Pego o fone.
O silêncio com seu cínico sorriso.
Não importa: minhas mãos
negras, negras,
tremem como coelhos.
Digo: “
É mesmo impossível sentir frio
com esses cobertores alemães
”.
Kris quebrou a perna,
o indiano da quitanda teve um filho
o resto são arrependimentos
terríveis de serem contados.
(Mas me amarro nos mastros
de alguém que é um naufrágio.
Destroços de ondas que a corrente leva,
Orgulhosa.)



3


Misteriosas vozes escapam
do esgoto.
Bêbados brigam por uísque.
Ratos fogem, nojo.
Um rádio toca Vivaldi.
O casal ao lado espanca-se,
em silêncio.

Tomado pelo pânico
tropeço em gatos amarelos
perdido em minha própria obsessão.



4


Ouço passos apressados
a mil degraus.
Vem subindo alguém,
Como uma febre, alguém que se quer muito.
A Loucura arromba a porta.
Revira os olhos. Vasculha a sala.
Vidraças, aos gritos, se atiram lá de cima.

Com um canivete enterrado nas costas
Ainda disco o último número.






Rodrigo Garcia Lopes
(Poema do livro Solarium. São Paulo: Iluminuras, 1994).

Escrito em Londres, na rua 79 Westwick Gardens, em 1984.

sexta-feira, abril 23, 2010

EM PORTUGAL


A boa nova é que vai sair uma antologia de minha poesia em Portugal, pela editora COSMORAMA, capitaneada pelo José Rui Teixeira e Jorge Melícias.

Será dentro da coleção de poesia dirigida pelo Luis Serguilha, poeta e crítico português que tem feito uma boa ponte entre os poetas brasileiros e patrícios.

O livro trará poemas selecionados de meus quatro livros anteriores: Solarium (1994), visibilia (1996), Polivox (2001) e Nômada (2004).

Quem quiser o ótimo trabalho desenvolvido pela Cosmorama, acesse

domingo, abril 18, 2010

MISTERIOSO




apagar as velas

ao voltar

vê-las acesas








haikai de Satori Uso
(Em Polivox, de Rodrigo Garcia Lopes, Azougue, 2001)

sábado, abril 17, 2010

RIMBAUD NA VARANDA DO HOTEL UNIVERSO


Detalhe de foto inédita do poeta Arthur Rimbaud, apresentada esta semana, tirada em Aden, Abissínia. O poeta tinha 26 anos e já havia abandonado a poesia.


"Dois livreiros parisienses descobriram uma foto de Arthur Rimbaud em idade adulta, imagem esta que dá um novo rosto ao poeta francês, que parou de escrever aos 20 anos para viver aventuras em terras distantes. A foto, que data do início dos anos 1880, é a única com boa qualidade de Rimbaud adulto. Ela mostra o autor de "Bateau ivre" (O Barco Ébrio) e "Illuminations" (Iluminuras) sentado em meio a um grupo de sete pessoas no terraço do Hotel Universo de Áden, no Iêmen. Faz parte de uma coleção com trinta outras, feitas também em Áden, e que foram descobertas durante uma feira, há dois anos, pelos livreiros, Jacques Desse e Alban Caussé. Para autenticar a fotografia, apresentada nesta quinta-feira, dia 15, no Salão de Livros Antigos em Paris, foi convocado o especialista em Rimbaud e autor do livro "Sur Arthur Rimbaud, Correspondance Posthume 1891-1900" (Sobre Arthur Rimbaud, Correspondência Póstuma 1891 - 1900, em tradução livre), Jean-Jacques Lefrère. O processo de autentificação incluiu inúmeras pesquisas sobre a paisagem da foto e a vida de Rimbaud no Iêmen e na Etiópia, onde ele chegou em 1880 e trabalhou como comerciante de marfim, café, peles e ouro".

segunda-feira, abril 12, 2010

A nova revista COYOTE (número 20) já está por aí. Veja no link ao lado os distribuidores da revista no Brasil. Tem sido uma aventura e tanto editar esta revista, ao lado de meus amigos Marcos Losnak e Ademir Assunção.
Um brinde, então, à Coyote.

sábado, abril 03, 2010

VINTE VEZES COYOTE





Dossiê com o poeta e artista plástico Rodrigo de Haro, poemas do dramaturgo Mário Bortolotto, conto do poeta norte-americano Delmore Schwart, fotografias de Egberto Nogueira e relatos oníricos da portuguesa Anna Hatherly são destaques do novo número da revista COYOTE, lançada com duas capas diferentes

"A linguagem da poesia será fatalmente constituída por sucessivo espanto, ou não será nada". É o que afirma em entrevista o poeta e artista plástico catarinense Rodrigo de Haro (1939), no dossiê dedicado à sua obra poética no novo número da revista de literatura e arte Coyote. Editada em Londrina (PR), traz também dois textos inéditos do livro Um Bom Lugar Pra Morrer, de Mário Bortolotto e quatro fragmentos de Exercícios de Estilo, obra do francês Raymond Queneau, um dos autores mais experimentais da literatura francesa do século 20. Maurício Arruda Mendonça apresenta e traduz (do japonês) os haikais da nipo-londrinense Mityio Sugimoto. A revista apresenta ainda o conto "Nos Sonhos Começam as Responsabilidades", do poeta norte-americano Delmore Schwartz (1913-1966), e, pela primeira vez no Brasil, poemas do beat Bob Kauffman (1925-1986).

Seguindo em seu compromisso em revelar novos talentos, a Coyote 20 apresenta também poemas de Samantha Abreu, Luiz Felipe Leprevost e Ponti Pontedura. Outra novidade da edição são as duas capas diferentes com fotos de Egberto Nogueira.

Em seus oito anos de atividade, Coyote prossegue abrindo espaço para novos autores, resgatando e apresentando nomes importantes das letras e das artes, de épocas e lugares diferentes, instigando a reflexão e a criação literária. A revista é patrocinada pelo PROMIC (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) da cidade de Londrina.

COYOTE é editada pelos poetas Ademir Assunção, Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes. Projeto gráfico de Marcos Losnak. Distribuição nacional (em livrarias) pela Editora Iluminuras.

COYOTE 20 // 52 páginas // R$ 10,00

Uma publicação da Kan Editora. Vendas em livrarias de todo o país pela Editora Iluminuras – fone (11) 3031-6161 (site: www.iluminuras.com.br). Pode ser adquirida também na internet pelo Sebo do Bac: www.sebodobac.com

Contatos: losnak@onda.com.br / rgarcialopes@gmail.com / zonabranca@uol.com.br

Fone: (43) 3334-3299 / (11) 3731-3281

PATROCÍNIO: PROMIC - PROGRAMA MUNICIPAL DE INCENTIVO A CULTURA – SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DE LONDRINA (PR)

LANÇAMENTO DA NOVA COYOTE EM FLORIPA

OS SINGULAR, RODRIGO DE HARO E LANÇAMENTO DA COYOTE

Ryana Gabech, Dennis Radünz, Cristiano Moreira e Rubens da Cunha falarão poemas DOS SINGULAR, no dia 4/4, às 19h no bar e espaço cultura Coisas de Maria e João. Na ocasião será dito dois poemas de cada um dos dez SINGULAR. Rodrigo de Haro lerá alguns poemas junto ao lançamento da revista de arte e cultura COYOTE, do Paraná, que traz nesta edição um dossiê sobre de Haro. O dossiê é assinado por Marco Vasques e Rodrigo Garcia Lopes. Coisas de Maria e João fica na geral do Sambaqui, 1172. Apareçam. Confiram OS SINGULAR em www.poetasnosingular.com.br e www.poetasnosingular.blogspot.com