Tradução de 'Epigramas' recupera humor do romano Marcial
Obra é antologia com 219 dos 1.561 epigramas que nos chegaram
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GUILHERME GONTIJO FLORES
EPIGRAMAS
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Preço R$ 82 (220 págs.)
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Autor Marco Valério Marcial
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Editora Ateliê Editorial
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Tradução Rodrigo Garcia Lopes
A poesia de Marco Valério Marcial (c. 38-104 d.C.), uma das figuras mais
importantes da literatura romana, vem recebendo bastante atenção. Quatro
tradutores acadêmicos têm realizado um trabalho híbrido de estudo acurado e
tradução poética anotada.
João Angelo Oliva Neto, Alexandre Agnolon, Robson Tadeu Cesila e Fábio
Paifer Cairolli são os latinistas que desenvolveram a maior parte desses
trabalhos nos últimos dez anos.
Apesar desses trabalhos excepcionais, a vivacidade da poesia de Marcial
demanda um duplo trabalho tradutório com abordagens complementares: por um
lado, o estudo que explique como funcionam suas piadas, alusões literárias,
construções poéticas etc.; por outro, a recriação poética mais livre desses
efeitos.
Uma obra que chegou há pouco às livrarias promete ser uma reinvenção de
Marcial na poesia brasileira. Trata-se de "Epigramas", com tradução do
poeta e romancista Rodrigo Garcia Lopes, numa antologia com 219 dos
1.561 epigramas que nos chegaram.
O novo trabalho, mesmo que inventivo, dá sequência ao projeto tradutório
de Décio Pignatari, em "31 Poetas, 214 Poemas".
Pignatari já havia traduzido 58 epigramas de Marcial com registro mais
popular, retomada de rimas e outros jogos formais que fazem o humor e a
concisão dos epigramas ganharem vida em roupagem mais próxima da poesia
marginal e do poema-minuto de Oswald de Andrade.
O resultado agora são poemas luminosos, como: "Você é um velho, é o
que Taís repete. / Ninguém é velho pra receber boquete." (Livro 4, 50).
Ou: "Sempre diz, Póstumo, vou viver amanhã. / Me diga: esse amanhã,
quando ele chega? / Por onde ele anda, Póstumo?, está muito longe? / Em Parta
ou na Armênia ele se esconde? / O amanhã já é mais velho que Nestor e Príamo. /
Quanto custa um amanhã?, me conte. / Vai viver amanhã, Póstumo? Hoje já era. /
Sábio daquele que viveu-o ontem." (Livro 5, 58)
Além da tradução, o volume tem notas e posfácio do próprio Garcia Lopes,
que auxiliam o leitor interessado.
Há algumas imprecisões técnicas, até na adaptação dos nomes romanos para
o português; mas são falhas menores e perdoáveis diante da importância da
tradução.
Belíssima é também a edição. A capa é solta em duas partes, de modo que
cada um dos 12 livros de Marcial pode ser lido como volume separado, que, ao
fim, é novamente reunido ao todo e preso com duas fitas elásticas.
Assim, mesmo na antologia, o leitor pode ter a experiência de dividir
temporalmente a produção do poeta em pequenos fascículos.
GUILHERME
GONTIJO FLORES é professor de língua e literatura latinas na Universidade Federal
do Paraná e tradutor de “Fragmentos Completos: Safo” (ed. 34).