sábado, agosto 27, 2011

SOBRE VERTIGEM (na Folha de Hoje)

ENTREVISTA - Rodrigo Garcia Lopes

O público em geral pode consultar a agenda de shows de fim de semana e pensar: ''deve ser um cantor de MPB''. Como você definiria ou descreveria o espetáculo para quem não conhece o seu trabalho?

Rodrigo Garcia Lopes: Definiria-me como um ''cantautor'', um compositor que interpreta e canta suas próprias canções. Claro que ao longo dos anos a gente vai melhorando na interpretação, na execução do instrumento, e vai ganhando mais cancha. Mas longe de mim me apresentar como ''um cantor de MPB''. Também não faço covers. ''Ninguém Melhor que Ela'', a versão ''Nobody Does it Better'', sucesso na voz da Carly Simon em 77, que apresento no show, é de autoria de Marvin Hamlisch, que autorizou na semana passada que eu gravasse minha versão para o português. É o mesmo caso de ''Betty Blue'', da trilha sonora do filme homônimo e que virou um afoxé meio bossa-nova na minha versão.

Qual a importância da letra em suas canções?

Total, sempre em harmonia e simbiose com a harmonia, com a melodia. E eu também gosto de transitar num território bastante interessante da canção, que é essa interrelação entre palavra, música e voz. Creio que o fato de ser poeta faz com que minhas letras tenham carga poética que não costuma se ver muito na chamada música pra tocar no rádio. É minha responsabilidade como poeta aumentar a carga poética das canções, que é pelo menos o que procuro fazer nas minhas.

Vai mostrar músicas inéditas no show?

O repertório traz canções recentes que estarão em meu segundo disco, como a balada ''Vertigem'' (inspirada no filme homônimo de Alfred Hitchcock e no poema ''Ismália''), o blues ''Cerejas'' e a jazzística ''Quaderna''. Também fazem parte do show parcerias com o compositor londrinense Bernardo Pellegrini (''Caramujo''), com Paulo Leminski (''Adeus''), Gabriel Yared (''Betty Blue''), Vitor Ramil (''Espaço''), além de uma versão para ''Nobody Does it Better'', de Marvin Hamlisch e Carol Bager (''Ninguém Melhor que Ela'', trilha sonora do filme ''007- O Espião que Me Amava'' (1977).

Você já começou a gravar o novo CD?

Ele foi aprovado, depois de duas tentativas, pela Comissão Independente do Promic, para ser gravado ainda este ano. É um disco quase 100 por cento de canções minhas, inéditas, além das parcerias citadas e outras com Mauricio Arruda Mendonça e Neuza Pinheiro. Também contará com a participação de outros artistas da cidade, como o próprio André Siqueira.

quinta-feira, agosto 25, 2011

VERTIGEM NO VALENTINO

VERTIGEM (Um Corpo que Cai)   (Rodrigo Garcia Lopes)


A escada em caracol que sobe pro céu
E uma mulher em pânico na torre

Quer se matar no mar do amor
Como Ismália
Não mora mais em sua memória
Nem em nenhum lugar

Mas ele a persegue
E a quer salvar
Mas a cada passo um zoom
O atordoa
Vertigem...

O filme volta atrás em busca do seu corpo que cai
Tempos depois a encontrará
na carne de outra tarde

Mas o mistério da mulher
que o enlouqueceu de amor
ficou na torre a sonhar
enquanto bebia o mar da

Vertigem...


VERTIGEM


VERTIGO. 1520, do latim vertigo, "sensação de desequilíbrio”, “tontura”, originalmente "um movimento girante ou espiralante", oriunda da palavra verter "virar" (ver verso). Online Etymology Dictionary

O poeta, compositor e tradutor Rodrigo Garcia Lopes e o multi-instrumentista André Siqueira apresentam o show Vertigem, dia 28, no Valentino


        Neste show Rodrigo Garcia Lopes apresenta canções de seu primeiro CD, Polivox (2001), e músicas inéditas que farão parte do seu segundo disco, Canções do Estúdio Realidade. No repertório, canções recentes compostas por ele, como a balada “Vertigem” (inspirada no filme homônimo de Alfred Hitchcock e no poema “Ismália”), o blues “Cerejas” e a jazzística “Quaderna”. Também fazem parte do show parcerias com o compositor londrinense Bernardo Pellegrini (“Caramujo”), com Paulo Leminski (“Adeus”), Gabriel Yared (“Betty Blue”), além de uma versão para “Nobody Does it Better”, de Marvin Hamlisch / Carol Bager (“Ninguém Melhor que Ela”, trilha sonora do filme 007-O Espião que Me Amava (1977). Baseado no violão vigoroso de Rodrigo e no diálogo com o talento de André Siqueira, o espetáculo firma um diálogo entre a música e a poesia, a canção brasileira e experimentos sonoros diversos. Vertigem traz, num mesmo contexto, a diversidade sonora e riqueza poética, ao explorar a relação entre som e sentido, a interrelação entre palavra, música e voz, abrigando linguagens e universos que vão do afoxé (“Betty Blue”) ao blues, da música trovadoresca (“Sobre um Ditado Antigo”) ao jazz (“Fugaz”, “Mulher da Multidão”), do reggae (“Ruído do Vidro”) ao funk (“New York”, “Clique, Plugue, Ligue”).

       Rodrigo Garcia Lopes (voz, violão), sobe ao palco do Bar Valentino acompanhado por André Siqueira (violão, baixo e guitarra).

Nome do show: Vertigem
Com: Rodrigo Garcia Lopes (voz, violão) e André Siqueira (violão, baixo, guitarra)
Data: 28  agosto de 2011
Horário: a partir das 21:30 horas
Local: Bar Valentino (Casinha)
Duração: 60 minutos

SOBRE OS ARTISTAS
RODRIGO GARCIA LOPES é poeta, compositor, cantor e violonista. O londrinense é um dos editores da revista Coyote e autor de 12 livros (poesia, entrevistas, traduções). Seu primeiro CD foi Polivox (independente). Em 2001 teve seu poema "Stanzas in Meditation" incluído na antologia Os Cem Melhores Poemas do Século Vinte (Objetiva). É parceiro de músicos como Bernardo Pellegrini, Maurício Arruda Mendonça, Paulo Leminski, Neuza Pinheiro e Madan, e vem se apresentando em recitais de poesia e shows de música por várias cidades brasileiras.
 Página no Myspace: www.myspace.com/ogirdor2009
2º Prêmio Syngenta de música instrumental de Viola, etapa de Belo Hori em My Photos por
Músico, compositor, arranjador, produtor e multi-instrumentista (flautas, guitarra elétrica, violões, viola caipira, contrabaixo e guitarra portuguesa), a trajetória de ANDRÉ SIQUEIRA é composta por experiências diversas em cultura popular e por pesquisas em música contemporânea. Atuou como produtor, diretor musical e arranjador nos trabalhos de Déa Trancoso, Luca Bernar, Pereira da Viola, Rodrigo Delage, Rubinho do Vale, Titane, Wilson Dias e Zeca Collares, além de seu próprio trabalho como compositor e instrumentista, no qual música brasileira e improvisação surgem como elementos principais. Recentemente foi selecionado pelo programa Rumos Itaú Cultural / Música, na categoria Coletivo, no biênio 2010-2012. Já dividiu o palco com Almir Sater, Paulo Freire, entre outros. Em 2003 lançou o CD Lithos (instrumental, 2003) e atualmente prepara seu segundo disco. Página no Myspace: www.myspace.com/andresiqueiraquarteto

terça-feira, agosto 23, 2011

ISMÁLIA (da série "clássicos são sempre clássicos")

Nossa versão brazuca simbolista e premonitória do filme "Vertigo",
de Alfred Hitchcock.


ISMÁLIA


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


 

Alphonsus de Guimaraens


segunda-feira, agosto 22, 2011

NOTÍCIAS DO MUNDO (poema inédito de Rodrigo Garcia Lopes)


NOTÍCIAS DO MUNDO


Águas muezins no vale das sombras
África agoniza
Iraque se debate
Índia se indigna
Impérios definham
Morro em guerra fratricida
Irã se ira
Um terrorista que se aterroriza
Palestinos palestram
Arábia se ouriça
Europa se gripa.
Mentiras, mentiras.
O mundo é um parque de mentiras.
Diplomacia
Na mão de ignorantes
Nada vale, vale nada.
Barbárie é o nome
Dessas notícias.
Mundo implodindo
Rumo à extinção
Não atenção ao ser, mas atentados ao ser,
Mundo confluindo
Para uma desaparição
Onde, quem ficar, se der, vai ver.
E, no entanto, eu aqui
à sombra de um pensamento
de um amor que seja um lugar,
um lugar como um pensamento.
Mas isto é ir muito longe:
Isto é acordar.





Rodrigo Garcia Lopes
(poema inédito do livro Estúdio Realidade)

terça-feira, agosto 09, 2011

A PÉ (poema inédito do livro Estúdio Realidade)


A PÉ



Um ritmo caminhava em minha direção
Nele o nylon das ondas como testemunhas
Uma verdade qualquer se traduzindo em som
Quantas vezes nos perdemos no carinho
Não o amor que um dia foi estranho sonho        
Mas essa onda volutas linha sobre linha
Eco de luz que havia sido prometida

E a vida é mais cedo que se supunha—
O que nos apressa na voragem
É essa lentidão, não esta alegria.
Mas latimos pra lua sem culpa nenhuma,
Descascamos a pele da paisagem
Com nossas próprias unhas.







Rodrigo Garcia Lopes

Poema inédito do livro Estúdio Realidade

segunda-feira, agosto 08, 2011

CÂNDIDO

Para ler o primeiro número do CÂNDIDO, novo jornal da Biblioteca Pública do Paraná, clique aqui:

sábado, agosto 06, 2011

Biblioteca Pública lança jornal mensal Cândido

 Na Gazeta do Povo de Hoje

Reprodução/Rafael Sica
Reprodução/Rafael Sica / O cartunista Rafael Sica foi o responsável pelo retrato do poeta Paulo Leminski, que ilustra a capa da primeira edição O

Biblioteca Pública lança jornal mensal Cândido

Publicação, que terá distribuição a partir de amanhã, faz homenagem ao poeta Paulo Leminski em seu primeiro número
Antes de tornar-se mito e um dos mais respeitados escritores brasileiros, Dalton Trevisan editou, de 1946 a 1948 a revista paranaense Joaquim, que questionava o domínio dos artistas que se revezavam no “poder da cultura” do Paraná e agitou os humores na área. Cinco décadas depois, o escritor Wilson Bueno (1949-2010) lançava Nicolau, também dedicado à literatura e às artes. Amanhã, um novo produto que segue a tradição desses míticos periódicos começa a circular gratuitamente na cidade, Cândido, novo jornal literário da Biblioteca Pública do Paraná (BPP).
Com coordenação editorial do diretor da BPP, Rogério Pereira, e do jornalista e chefe da Divisão de Difusão Cultural, Luiz Rebinski Junior, o jornal, de 32 páginas e com tiragem inicial de 5 mil e­­­xemplares trará mensalmente, além de informações sobre os projetos da biblioteca (publicando a entrevista com o escritor do mês e contos de oficineiros), re­­portagens sobre o mercado editorial, entrevistas, contos, poemas, crônicas inéditas e trechos de ro­­mances. Na edição inaugural, a capa de Cândido (cujo nome é uma homenagem ao endereço da BPP, a rua Cândido Lopes) é dedicada ao poeta Paulo Leminski (1944-1989), que completaria 67 anos neste mês.

Reprodução/Pedro Franz
Reprodução/Pedro Franz / Cândido terá sessão dedicada a desenhos de artistas. Neste mês, Pedro Franz ilustrou o escritor Ernest Hemingway 
Cândido terá sessão dedicada a desenhos de artistas. Neste mês, Pedro Franz ilustrou o escritor Ernest Hemingway
Além de um texto do autor da biografia de Leminski (O Bandido Que Sabia Latim, Ed. Record), Toninho Vaz, que tinha uma intensa relação de amizade com o poeta, a edição dá espaço ao escritor gaúcho Ricardo Silvestrin, que escreve sobre o legado po­­­­ético de Leminski. “Ele redescobriu o verso poético, trazendo elementos da contracultura e tornando a poesia comunicativa e contemporânea”, ressalta Silvestrin, que foi fortemente in­­fluenciado pelo “poeta do Pilarzinho”. “Descobri a poesia pela primeira vez com Manuel Bandeira e depois com Leminski, quando vi que havia uma linguagem mais próxima da minha geração”. Contos inéditos de Amilcar Bettega e Paulo Venturelli, dois poemas de Rodrigo Garcia Lopes e uma entrevista com Miguel Sanches Neto são outros destaques do primeiro número do jornal.
Serviço
Cândido, jornal da Biblioteca Pública do Paraná. Distribuição gratuita nos espaços da Fundação Cultural de Curitiba, Secretaria de Estado da Cultura e na BPP (R. Cândido Lopes, 133 – Centro), (41) 3221-4900, a partir de amanhã.

DEMORÔ, REDE GLOBO.

Bela matéria sobre ITAMAR ASSUMPÇÃO. Se bem que podia ter vindo em vida, não?
AQUI:
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2011/08/documentario-mostra-o-talento-do-musico-itamar-assumpcao.html

sexta-feira, agosto 05, 2011

5 paranaenses marcam presença em antologia dos anos 90



Roteiro da Poesia Brasileira Anos 90

     
      Acaba de ser lançada a antologia Roteiro da Poesia Brasileira dos anos 90. Editada pela Global Editora, organizada e prefaciada pelo poeta Paulo Ferraz, traz 45 autores (nascidos entre 1944 e 1979). Cada autor participa com quatro poemas. Do Paraná, participam cinco poetas: Josely Vianna Baptista (Curitiba), Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça (Londrina), Lucinda Person (Arapongas) e Miguel Sanches Neto (Bela Vista do Paraíso). O organizador Paulo Ferraz destaca, em seu prefácio, “a heterogeneidade de vozes e faixas etárias, que implica convivência de estilos, não se reverte necessariamente numa calmaria, ao contrário, há muito atrito, dissonância e ruído, que devidamente investigado podem se mostrar um profícuo confronto de obras e opiniões”. 
      A coleção, dirigida por Edla van Steen, o já lançou 15 volumes e pretende fazer um rastreamento da poesia brasileira desde suas origens até os anos 2000. Outros nomes relevantes também participam, como Carlito Azevedo, Claudia Roquette-Pinto, Ademir Assunção e Antonio Cicero.

Roteiro da Poesia Brasileira dos anos 90
Editora Global
226 páginas
R$ 38,00
Mais informações:



GOOGLE EARTH (poema inédito de Rodrigo Garcia Lopes)


GOOGLE EARTH


Essa dor é muito antiga.
Um Colosso de Rodes, visto de cima,
O Museu Britânico, o Taj Mahal,
O Pão de Açúcar, o Atacama, um parque em Lima.

Antes ela sabia de cor o Bhagavad-Gita,
A oração do meio-dia,
A Torá, o Necronomicon,
Os inscritos na tumba de Ikhnáton.

Na areia sofria um Graal.
Sentia o remorso do mar.

Parece com Quéfrem, vista assim
de frente, e de lado com ninguém.
Ontem parecia mais antiga. Hoje, nem
mágoa: não se parece com nada.





Rodrigo Garcia Lopes
Poema inédito do livro Estúdio Realidade

terça-feira, agosto 02, 2011

OS CÃES DETETIVES (poema inédito do livro Estúdio Realidade)




OS CÃES DETETIVES



Os cães detetives
em seus capotes negros
nunca desistem —
farejam dunas, em dupla,
pegam a praia de surpresa
siris telepatas

os cães detetives
mordem a neblina da maresia
investigam
gaivotas suicidas
pesqueiros sinistros
matas que meditam
o mar e seu mantra
o estrondo das ondas
sempre outras

elucidam minhas
pegadas na areia
ondas terroristas
surfistas suspeitos
outros cães
por toda a tarde
em busca de pistas

os cães detetives espreitam
o bege sílex das dunas
a queda kamikaze, vertical
dos mergulhões
e nunca se deixam enganar
são cães detetives caiçaras
soltam pistas que as ondas ocultam
quando explodem

cães sem dono, detetives,
dão seu batente na praia
e sabem ser sacanas também
latindo seus enigmas
pressionando vítimas
ocultos pela restinga
ou disfarçados de humanos

os cães detetives se colocam
na pele de sua presa
e não desistem dos siris
acham seus álibis
nos lábios das ondas
única evidência
a praia e seu colar de pérolas
o mar é testemunha

também se divertem
com o vento sul
orelhas
entre as patas
olhos cerrados de espera
quando do dia retraçam as pegadas
os cães negros detectam
a verdade, peixe podre,
se levantam e seguem
até que a tarde se entregue.





Rodrigo Garcia Lopes 
Poema inédito
Do livro Estúdio Realidade