"O
que gostava nesses livros era o seu sentido de plenitude e economia. No
bom livro de mistério, nada é desperdiçado, nem uma frase, nenhuma
palavra que não seja significativa. E ainda que não seja significativa,
ela tem o potencial para isso -- o que no final dá no mesmo. O mundo do
romance se torna vivo, ferve de possibilidades, com segredos e
contradições. Uma vez que tudo o que é visto ou falado, mesmo a coisa
mais ligeira e trivial, pode guardar alguma relação com o desfecho da
história, nada deve ser negligenciado. Tudo se torna essência; o centro
do livro se desloca a cada acontecimento que impele a história para
frente. O centro, portanto, está em toda parte e nenhuma circunferência
pode ser traçada antes que o livro chegue ao fim.
O
detetive é quem olha, quem ouve, quem se movimenta nesse atoleiro de
objetos e fatos, em busca do pensamento, da idéia que fará todas essas
coisas se encaixarem e ganharem sentido. Com efeito, o leitor e o
detetive são permutáveis. O leitor vê o mundo através dos olhos do
detetive, experimentando a proliferação dos detalhes desse mundo como se
o visse pela primeira vez".
Do personagem Quinn, autor de romances de detetive.
PAUL AUSTER, em Cidade de Vidro (tradução: Rubens Figueiredo")
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