Sangue na terra vermelha
Marcos
Losnak
Especial para Folha2
Especial para Folha2
"O Trovador", primeiro romance do poeta
londrinense Rodrigo Garcia Lopes, mergulha na história do nascimento da cidade
A trama desenvolvida por Rodrigo Garcia Lopes abrange desde
conspirações internacionais de grandes proporções até pequenos ressentimentos
masculinos provocados por mulheres fatais
Muito pó. Muita lama. Barulho de machados e árvores caindo.
Imigrantes de 33 etnias e de várias partes do Brasil. Som de martelos por todos
os lados. Uísque escocês rolando em todos os bares. Família e faroeste. Igreja
e bordel. Uma cidade sendo erguida por homens onde o bem e o mal se confundem.
Esse é o cenário escolhido pelo poeta londrinense Rodrigo Garcia Lopes para seu primeiro romance, "O Trovador", que acaba de ser lançado pela editora Record. A cidade de Londrina no ano de 1936, a frente de colonização criada pelos ingleses no sertão do norte do Paraná.
"O Trovador" é um genuíno romance policial histórico. Numa época em que a grande maioria dos ficcionistas do gênero aposta em novas formas e leituras, Rodrigo Garcia Lopes realiza o caminho inverso, volta à clássica forma dos romances ingleses de detetives da primeira metade do século 20.
Em suas páginas estão presente todas as ferramentas clássica do gênero: crimes misteriosos, pistas falsas, reviravoltas investigativas, homens durões, mulheres sedutoras, descrições metódica, mentes diabólicas, enigmas, segredos, estratégias e ambições. Elementos que se ajustam à época em que a história se desenrola.
Tudo começa quando, na Inglaterra de 1936, o inspetor Hugh Sinclair e o político Winston Churchill intimam o nobre lord Lovat a realizar uma viagem ao Brasil para saber o que está acontecendo em Londrina na Parana Plantations Limited (mas conhecida como Companhia de Terras Norte do Paraná), empresa de colonização britânica comandada por Lovat.
O fato é que um funcionário da empresa foi assassinado em Londrina e outros dois estão desaparecidos. E o episódio está ligado a uma correspondência misteriosa recebida pela majestade do trono britânico Eduardo VIII (o principal acionista da Parana Plantations): um poema provençal.
Assim Lovat segue para Londrina na companhia do jovem tradutor-intérprete Adam Blake. Percorrendo as ruas da cidade, os dois trombam com crimes cada vez mais enigmáticos e, a cada pista elucidada, um novo assassinato acontece.
A trama desenvolvida por Rodrigo Garcia Lopes abrange desde conspirações internacionais de grandes proporções até pequenos ressentimentos masculinos provocados por mulheres fatais. O cotidiano da cidade também aparece ao lado da arte da poesia, que no romance funciona como enigma a ser decifrado, uma arte que guarda a síntese de sentidos e acontecimentos.
"O Trovador" deixa transparecer que foi fruto de uma pesquisa histórica detalhada associada a uma boa dose de criatividade ficcional. As doses de ficção e fatos históricos dialogam entre si não apenas para desenhar a Londrina de 1936, mas também para oferecer uma visão mais diversificada da lenda do pioneiro bonzinho, honesto e trabalhador.
Tudo indica que haverá uma posterior continuação do romance. Mesmo com Blake elucidando assassinatos, tramoias e trambiques de grandes proporções, várias pontas ficam sem amarras, ficam abertas para novos fatos e consequências. "O Trovador" é um romance policial que sai do ambiente da terra vermelha para percorrer temas históricos universais.
SERVIÇO
"O Trovador"
Autor – Rodrigo Garcia Lopes
Editora – Record
Páginas – 406
Quanto – R$ 45
Esse é o cenário escolhido pelo poeta londrinense Rodrigo Garcia Lopes para seu primeiro romance, "O Trovador", que acaba de ser lançado pela editora Record. A cidade de Londrina no ano de 1936, a frente de colonização criada pelos ingleses no sertão do norte do Paraná.
"O Trovador" é um genuíno romance policial histórico. Numa época em que a grande maioria dos ficcionistas do gênero aposta em novas formas e leituras, Rodrigo Garcia Lopes realiza o caminho inverso, volta à clássica forma dos romances ingleses de detetives da primeira metade do século 20.
Em suas páginas estão presente todas as ferramentas clássica do gênero: crimes misteriosos, pistas falsas, reviravoltas investigativas, homens durões, mulheres sedutoras, descrições metódica, mentes diabólicas, enigmas, segredos, estratégias e ambições. Elementos que se ajustam à época em que a história se desenrola.
Tudo começa quando, na Inglaterra de 1936, o inspetor Hugh Sinclair e o político Winston Churchill intimam o nobre lord Lovat a realizar uma viagem ao Brasil para saber o que está acontecendo em Londrina na Parana Plantations Limited (mas conhecida como Companhia de Terras Norte do Paraná), empresa de colonização britânica comandada por Lovat.
O fato é que um funcionário da empresa foi assassinado em Londrina e outros dois estão desaparecidos. E o episódio está ligado a uma correspondência misteriosa recebida pela majestade do trono britânico Eduardo VIII (o principal acionista da Parana Plantations): um poema provençal.
Assim Lovat segue para Londrina na companhia do jovem tradutor-intérprete Adam Blake. Percorrendo as ruas da cidade, os dois trombam com crimes cada vez mais enigmáticos e, a cada pista elucidada, um novo assassinato acontece.
A trama desenvolvida por Rodrigo Garcia Lopes abrange desde conspirações internacionais de grandes proporções até pequenos ressentimentos masculinos provocados por mulheres fatais. O cotidiano da cidade também aparece ao lado da arte da poesia, que no romance funciona como enigma a ser decifrado, uma arte que guarda a síntese de sentidos e acontecimentos.
"O Trovador" deixa transparecer que foi fruto de uma pesquisa histórica detalhada associada a uma boa dose de criatividade ficcional. As doses de ficção e fatos históricos dialogam entre si não apenas para desenhar a Londrina de 1936, mas também para oferecer uma visão mais diversificada da lenda do pioneiro bonzinho, honesto e trabalhador.
Tudo indica que haverá uma posterior continuação do romance. Mesmo com Blake elucidando assassinatos, tramoias e trambiques de grandes proporções, várias pontas ficam sem amarras, ficam abertas para novos fatos e consequências. "O Trovador" é um romance policial que sai do ambiente da terra vermelha para percorrer temas históricos universais.
SERVIÇO
"O Trovador"
Autor – Rodrigo Garcia Lopes
Editora – Record
Páginas – 406
Quanto – R$ 45
- Companhia
de terras? – perguntou.
Blake fez que sim.
- Da Inglaterra?
Blake balançou de novo a cabeça.
- Bem vindo ao fim do mundo... Vai ver em que bela porcaria de cidade o senhor veio parar.
Blake riu.
- Não pretendo ficar muito tempo. Só vim resolver algumas coisas.
- É o que todos dizem. O jeito é se divertir. – A moça arrumou a mecha negra sobre os olhos e concluiu: - Bom, todo mundo é meio estrangeiro. A cidade é nova demais. O senhor fala português muito bem. O que faz da vida?
- Sou tradutor.
A moça continuou a sustentar o olhar em direção de Blake. Parecia não ter entendido.
- Traduzo o que as pessoas falam ou escrevem – explicou Blake.
Ela deu uma tragada, soprando a fumaça para o teto.
- Ah, então é alguém que vive da palavra dos outros?
Blake fez um olhar surpreso para a moça e deu de ombros.
- Digamos que eu facilito a comunicação entre as pessoas que não falam a mesma língua.
A moça fez que entendia com um gesto de cabeça, bebericou o gim, passando a língua sob os lábios superiores. – Então veio pra cá para nada. Vai logo aprender que em Londrina só se fala uma língua.
- E qual seria?
A prostituta sorriu:
- Dinheiro.
Blake fez que sim.
- Da Inglaterra?
Blake balançou de novo a cabeça.
- Bem vindo ao fim do mundo... Vai ver em que bela porcaria de cidade o senhor veio parar.
Blake riu.
- Não pretendo ficar muito tempo. Só vim resolver algumas coisas.
- É o que todos dizem. O jeito é se divertir. – A moça arrumou a mecha negra sobre os olhos e concluiu: - Bom, todo mundo é meio estrangeiro. A cidade é nova demais. O senhor fala português muito bem. O que faz da vida?
- Sou tradutor.
A moça continuou a sustentar o olhar em direção de Blake. Parecia não ter entendido.
- Traduzo o que as pessoas falam ou escrevem – explicou Blake.
Ela deu uma tragada, soprando a fumaça para o teto.
- Ah, então é alguém que vive da palavra dos outros?
Blake fez um olhar surpreso para a moça e deu de ombros.
- Digamos que eu facilito a comunicação entre as pessoas que não falam a mesma língua.
A moça fez que entendia com um gesto de cabeça, bebericou o gim, passando a língua sob os lábios superiores. – Então veio pra cá para nada. Vai logo aprender que em Londrina só se fala uma língua.
- E qual seria?
A prostituta sorriu:
- Dinheiro.
(Fragmento de "O Trovador", de Rodrigo Garcia Lopes)
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