sexta-feira, dezembro 05, 2008

SALDO (Arthur Rimbaud, trad. Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)




Vende-se o que os Judeus não venderam, o que nem a nobreza nem o crime
provaram, o que o amor maldito e a honestidade infernal das massas ignoram;
o que nem a ciência nem o tempo reconhecem;

As vozes restauradas, o despertar fraterno de todas as energias corais e

orquestrais e suas aplicações instantâneas; ocasião única de liberar nossos
sentidos!

Vende-se Corpos sem preço, de qualquer raça, de qualquer mundo, de

qualquer sexo, de qualquer descendência! Riquezas brotando a cada passo!
Saldo de diamantes sem controle!

Vende-se anarquia para as massas; satisfação irreprimível para amadores

superiores; morte atroz para os fiéis e os amantes!

Vende-se casas e migrações, esportes, magias e comfortos perfeitos, e o ruído,

o movimento e o futuro que eles fazem!

Vende-se aplicações de cálculo e saltos inauditos de harmonia. Achados e

termos sem suspeita, entrega imediata,
Impulso insensato e infinito aos esplendores invisíveis, às delícias insensíveis,
— e seus segredos enlouquecedores para cada vício — e uma alegria
assustadora para a multidão.

Vende-se Corpos, vozes, a inquestionável opulência imensa, que nunca será

vendida. Os vendedores têm muitos estoques para liquidar! Os viajantes não
precisam ter pressa para entregar as encomendas!




ARTHUR RIMBAUD
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça. (Em
Iluminuras: Gravuras Coloridas, Iluminuras 1994)

Um comentário:

anjobaldio disse...

recVenho sempre aqui.
O RIMBAUD é demais mesmo. Grande abraço.