sexta-feira, dezembro 19, 2008


A LUME SPENTO


Colhe com seus olhos a fumaça que insinua
ao penetrar — sendo incenso e silêncio —
sua mente em meio ao tráfego intenso
da manhã, relumbre em suas mãos nuas.

Daqui das margens desse sonho
ideogramas de formas obscuras
reescrevem seus gestos num bazar estranho
sem saber ao certo o que procura:

Se meus olhos, opacos, entre bijuterias
baratas que você arremessou
(como quem dedilha um sol menor ou
a linha acesa de minhas artérias)

Mas sem querer você abre, de leve,
as persianas e invade uma sutil
reminiscência do que nunca existiu
(Ou, como seu rosto, foi tão breve).


Rodrigo Garcia Lopes (Nômada, 2004)

Um comentário:

Adrianna Coelho disse...


rodrigo, esse poema tbm não posso deixar passar.

a começar pelo título, já foi um impacto para mim e estou aqui desde ontem, com a janela aberta, entre inúmeras leituras de conta perdida.

tenho essa vontade de entrar em cada verso do poema, ou deixá-lo eterno...

contradizendo tudo aquilo que é breve, sua poesia grava-se!