e
e
o
comemora
a
"Storm the Reality Studio, and retake the universe" ("Assaltem o Estúdio Realidade, e retomem o universo") WILLIAM S. BURROUGHS
e
e
o
comemora
a
Estase no escuro.
E um fluir azul sem substância
De rochedos e distâncias.
Leoa de Deus,
Como nos unimos,
Eixo de calcanhares e joelhos !
O sulco
Reparte e passa, irmão do
Arco castanho
Do pescoço que não posso pegar,
Olhinegras
Bagas lançam escuros
Ganchos —
Goles de sangue negro e doce,
Sombras.
Algo mais
Me arrasta pelos ares —
Coxas, pêlos;
Escamas de meus calcanhares.
Godiva
Branca, me descasco —
Mãos mortas, mortas asperezas.
E agora
Espumo com o trigo, um brilho de mares.
O choro da criança
Dissolve-se no muro.
E eu
Sou a flecha,
Orvalho que voa
Suicida, e de uma vez avança
Contra o olho
Vermelho, caldeirão da manhã.
TRADUÇÃO RODRIGO GARCIA LOPES E MARIA CRISTINA LENZ DE MACEDO
EM ARIEL, (VERUS EDITORA, 2007)
Poema escrito em 1 de outubro de 1962. Na peça A Tempestade, de Shakespeare, Ariel é o o nome do espírito do ar. “Leão de Deus”, em hebraico. Nome do cavalo que a poeta costumava cavalgar quando morava em Devon. A nobre Lady Godiva, personagem da história anglo-saxã, teria desfilado nua sobre um cavalo pelas ruas de Coventry, cumprindo a promessa do marido de que ele abaixaria, a seu pedido, os impostos da população. A única pessoa que teria ousado olhá-la teria ficado cega, conforme a lenda.
Lembrem
e contra-palavra
de
de
na
O
é a
pra
o
se esqueçam
de
os
E selem a
de
Foi ali
que sonhei
CLANDESTINE
Remember with
and counter-word
of witness: the tactile dawn, emerging
from my clenched hand: sun´s
ciliary grasp: the stretch of darkness
I wrote
on the table of sleep.
Now
is the
All you have come
to take from
away from
forget
to forget. Fill
your pockets with earth,
and seal up the mouth
of my
It was there
I dreamed my life
into a dream
of fire.
De Fragments from the Cold (1976-1977)
à
de
Nas
será
e vai se
E
de
.
Noite negra e fria pelas sequóias
carros parados lá fora na sombra
atrás do portão, estrelas tênues sobre
o barranco, uma fogueira ardendo perto da
varanda e
em jaquetas de couro negro. Na imensa
casa de madeira, um candelabro amarelo
às 3 da manhã o estouro dos alto-falantes
hi-fi Rolling Stones Ray Charles Beatles
Jumping Joe Jackson e vinte jovens
dançando na vibração pelo chão da sala,
erva rolando no banheiro, garotas de malhas
vermelhas, um homem sarado e suave
suando e dançando por horas, latas de cerveja
em pilhas no quintal, a figura de um enforcado
balançando num galho alto sobre o riacho,
crianças dormindo sossegadas nos beliches.
E 4 carros de polícia estacionados no portão
recém-pintado, luzes vermelhas revistam as folhas.
First Party At Ken Kesey's With Hell's Angels
Cool black night thru redwoods
cars parked outside in shade
behind the gate, stars dim above
the ravine, a fire burning by the side
porch and a few tired souls hunched over
in black leather jackets. In the huge
wooden house, a yellow chandelier
at 3 A.M. the blast of loudspeakers
hi-fi Rolling Stones Ray Charles Beatles
Jumping Joe Jackson and twenty youths
dancing to the vibration thru the floor,
a little weed in the bathroom, girls in scarlet
tights, one muscular smooth skinned man
sweating dancing for hours, beer cans
bent littering the yard, a hanged man
sculpture dangling from a high creek branch,
children sleeping softly in their bedroom bunks.
And 4 police cars parked outside the painted
gate, red lights revolving in the leaves.
December 1965
Um gato preto cruzando seu caminho é sinal de que o bichano está indo a algum lugar.
*
Antes de falar, eu tenho alguma coisa importante para dizer.
*
Ou ele morreu ou meu relógio parou.
*
Do momento em que peguei seu livro até o momento em que o larguei, tive convulsões de riso. Um dia ainda quero lê-lo.
*
Ficar velho não é problema. É só viver tempo o bastante.
*
Suma daqui, e nunca mais suje minhas toalhas.
*
O humor é a razão que enlouqueceu.
*
Acho a televisão muito educativa. Cada vez que alguém liga a TV vou para outra sala e leio um bom livro.
*
Pretendo viver para sempre, ou morrer tentando.
*
Devo confessar, quando nasci eu era jovem demais.
*
Eu nunca esqueço de uma cara, mas no seu caso vou abrir uma exceção.
*
Me recuso a fazer parte de um clube que me aceite como sócio.
*
Vou embora porque o tempo está bonito demais. Odeio Londres quando não está chovendo.
*
Em Hollywood, as noivas ficam com o buquê e jogam fora o noivo.
*
Não é preciso ter parentes em Kansas City para ser infeliz.
*
Inteligência militar é uma contradição de termos.
*
Meu poema favorito é aquele que começa com “Trinta dias tem setembro” porque de fato ele diz alguma coisa.
*
Na próxima vez que eu te ver, me lembre de não lhe dirigir a palavra.
*
Nenhum homem está à frente de seu tempo – a menos que o patrão tenha ido embora mais cedo.
*
Fora o cachorro, um livro é o melhor amigo do homem. Dentro de um cachorro é escuro demais pra ler.
*
A política é a arte de procurar encrenca, encontrá-la em toda parte, diagnosticá-la incorretamente e receitar os remédios errados.
*
Serviço de quarto? Mandem um quarto maior.
*
Ela herdou os traços do pai. Ele é cirurgião plástico.
*
Em quem você vai acreditar, em mim ou em seus olhos?
*
Por que deveria me importar com a posteridade? O que a posteridade já fez por mim?
GROUCHO MARX
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
PÓS/ESCRITO
fui levada a um anfiteatro de porcelana branca em miniatura. os ladrilhos zunindo como escultura cinética, ondulando como os motivos coloridos de Vasarely. colunas formavam um amplo retângulo. no centro mortiço uma laje de mármore ajustada c/ montes de couro. eles a deitaram numa mesa. um cone verde desceu através da clarabóia, brisas de rosas pela janela aberta seu traje coberto c/ pétalas. cada mulher na história era ela, cada ventre na aventura. olhei no espelho. dei a luz à alexandre, fui sua amante. pintura de guerra formou-se em minha face, talhos ocres e lavandas. a mulher de jubas castanhas montou sobre ela. suas mãos delicadas operavam pequenos milagres. canos finíssimos de celulóide eram inseridos depressa nos poros da vítima, uma virgem. os canos, tentáculos se misturando em sua veias em sonhos bem fundo na luz virginal, o lago sob a memória. um fluxo rubi onde palavra alguma se forma. a rainha era uma deusa que amarrava em si mesma um mecanismo amoroso — um dispositivo adequado à penetração. um cilindro pontudo trançado de jóias. eu a empurrei o quanto pude. eu era o trono que ela montava. eu era o sêmem do destino, o conceito de reino. primeiro seria a picada, a luz, depois o beijo. um dilúvio de fios e vapores se soltando. não tive coragem de resistir à sua face ligando-se à minha. os gozos e silvos de um mamífero indo fundo.
— que desejas de mim? ela disse
— ondulando sob ela, gritei — lascívia!
— que desejas de mim, perguntei.
— linguagem, ela disse, linguagem.
AFTER/WORDS
i was led into a miniature amphitheatre of white porcelain. the floor tiles buzzing like kinetic sculpture, waving like the color patterns of Vasarely. columns formed a large retangle. dead center was a marble slab fitted w/a raft of leather. they laid her on the table. a green cone descended through the skylight, a draft of roses through the open window her costume was covered w/petals. every woman in history she was, and every womb in venture. i looked in the mirror. i gave birth to alexander, i was his lover. war paint formed on my face, ochre and lavender slashes. the woman w/the chesnut mane stood over her. her delicate hands worked small miracles. slender celluloid tubes were swiftly inserted into the pores of the victim, a virgin. the tubes were tentacles melding w/her veins her dreams and deeper into the virginal light, the pool beneath memory. a ruby flux where no words were formed. the queen was a goddess strapping to herself a love mechanism — a device designed for penetration. a pointed cylinder of jeweler's plat. i held back as long as i could. i was the throne she was mounting. i was the seed of destiny, the conceit of reign. first would be the poke, the light, and then the kiss. a flood of steam and wire released. i could not resist her face was connecting w/my own. the rush and hiss of a mammal going under.
— what do you want out of me? she said
— undulating beneath her I cried — lust!
— what do you want out of me, I asked her.
— language, she said, language.
PATTI SMITH
(De Babel)
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
Elle est retrouvée!
-- Quoi? -- L'éternité.
C'est la mer mêlée
Au soleil.
Foi reencontrada!
-- O que? -- A eternidade.
É o mar somado
Ao sol.
Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada
E a teus pés vão-se encostar os intrumentos
Aprendi a respeitar tua prumada
E desconfiar do teu silêncio
Penso ouvir a pulsação atravessada
Do que foi e o que será noutra existência
É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos
É assim como se o ritmo do nada
Fosse, sim, todos os ritmos por dentro
Ou, então, como um música parada
Sobre um montanha em movimento
Passagem por uma paisagem,
lugar do onde, do ontem, do quando,
quantas palavras ficaram faltando
na boca cheia de imagens.
O outro é aquele que ficou à margem,
no espanto de um pronome,
no corpo de uma brisa suave;
o outro é como uma fome,
pluma à deriva, a distância, ou quase.
Estranho em sua própria viagem,
garrafa com uma mensagem,
olhar durando numa flor,
sem nome, secreta, selvagem.
Desterro, água bebida num trem,
peça incompleta, festa adiada, vertigem,
a cabeça sempre em alguém,
eu outro, eu todos, ninguém.
Rodrigo Garcia Lopes, Visibilia (Travessa dos Editores, 2005)