Minha matéria na "Ilustrada" da Folha de S.
Paulo, sobre o livro "Poemas", de T.S. ELIOT, na tradução de Caetano
Galindo.
NOVA ANTOLOGIA, "POEMAS" RESGATA MÚSICA DA
LINGUAGEM DE T.S. ELIOT
Tradução de Caetano Galindo mostra cuidado com efeitos
sonoros do original
RODRIGO GARCIA LOPES
T. S. Eliot (1888-1965) dominou a cena poética de
língua inglesa e se firmou como um dos grandes poetas do século 20. Foi
crítico, dramaturgo e editor de influência, autor de um poema longo que é um
marco literário: “A Terra Devastada” (1922).
A Europa ainda recolhia os cacos e os mortos da
Primeira Guerra quando apareceu o poema desnorteante de Eliot. Nada mais
natural, para captar o espírito dos tempos, que seu poema também fosse
despedaçado, apocalíptico.
Neste que é talvez o mais célebre poema do século
passado ele rompia com as convenções do verso e oferecia ao leitor uma colagem
dramática, descontínua. Deslocando o “eu lírico” de sua centralidade, o poema
vinha saturado de citações, alusões literárias, históricas, mitológicas,
esboços de cenas e personagens, referências ao cotidiano londrino e à cultura
popular.
A obra-prima da maturidade, “Quatro Quartetos” (1943),
é um belíssimo poema meditativo sobre o tempo e a consciência, com as ideias
sendo desenvolvidas ao modo da música.
Eliot já teve sua poesia completa bem traduzida no
Brasil, por Ivan Junqueira (em 1981 e 2004). Uma nova e ótima tradução acaba de
sair: “Poemas”, por Caetano Galindo. Em edição bilíngue, traz toda a obra
poética eliotiana publicada em livro.
Autores da estatura do Prêmio Nobel de Literatura de
1948 precisam ser revisitados, afirma Galindo. “Eliot é relevante porque disse
coisas importantes demais (o diagnóstico daquele desespero do entre-guerras, a
poderosíssima síntese de espiritualidade ocidental e oriental). E disse de
maneiras mais do que interessantes, com uma poesia sonora, vigorosa e
encantadora demais”, defende.
O paranaense encarou “Ulysses”, de James Joyce, a
poesia de Paul Auster e Bob Dylan, a prosa de David Foster Wallace, mas
considera esta a tradução mais difícil que realizou.
Ele demorou um ano e meio na tarefa: “A dificuldade
veio das especificidades dos versos e, também, do peso da responsabilidade. Eu
travei. Passei meses procrastinando, porque no fundo estava morrendo de medo de
entregar uma tradução que, eu sabia, pode estar sendo esmiuçada daqui a
décadas. Poesia é literatura endovenosa. As pessoas vão (espero) se apropriar
visceralmente desses versos. E eu queria fazer bem, ajudar o nosso amigo Eliot
com esses novos leitores. E o peso da tarefa me assustou um pouco”, admite.
Valeu a pena. Eliot surge menos empolado, sisudo e
mais conciso do que na versão de Junqueira. Quase sempre as decisões do
tradutor são acertadas e criativas. Mostra cuidado não só com o aspecto
semântico, mas com os efeitos sonoros do original (rimas, ritmos, aliterações,
assonâncias etc.), escassos em outras traduções. É na recuperação da música da
poesia de Eliot que reside o maior mérito do livro. Em revelar que o mestre do
verso livre era capaz de uma grande variedade de ritmos e registros: do erudito
ao coloquial, do solene ao conversacional, do meditativo ao bem-humorado (como
nos versos travessos de “O Livro dos Gatos Sensatos do Velho Gambá”).
“A grande chave do verso livre de Eliot”, para
Galindo, “é essa tensão com um metro ´fantasma´. Ele vive borboleteando à roda
de um padrão, de que se desvia das maneiras mais variadas. Tensionando a
(ir)regularidade. É como certa música atonal não dodecafônica (para usar um
exemplo mais ou menos contemporâneo, pensar em Bartók, que ele admirava),
definida pela luta com um padrão que nunca se impõe de verdade. E tende a ser
igual com a rima. Ele quase-rima, ele aproxima, ele rima de fato, tudo ao mesmo
tempo”.
A nova tradução mostra que seu autor ouviu atentamente
o conselho de Eliot: “Nenhum verso é livre para quem quer fazer um bom
trabalho”.
POEMAS
Preço R$ 89,90 (448 págs.)
Autor T. S. Eliot
Editora Companhia das Letras
Tradução Caetano W. Galindo
Preço R$ 89,90 (448 págs.)
Autor T. S. Eliot
Editora Companhia das Letras
Tradução Caetano W. Galindo
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