CRÍTICA ROMANCE
POLICIAL
'O Trovador' propicia
leitura divertida e instrutiva apesar de clichês narrativos
LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há
na atual geração de escritores no Brasil um evidente cosmopolitismo, em
cenários e em temas. Mas ainda é raro que tal incorporação conviva com o
empenho localista e histórico, para rever o passado de alguma região
não-hegemônica do país.
E mais raro ainda é que tudo isso seja
administrado na consagrada forma de um romance policial.
Essa
mistura acontece no romance "O Trovador", de Rodrigo Garcia Lopes,
que traz ainda outro ingrediente, mais inusitado ainda, para a mistura --a
alusão cult.
"O
Trovador" tem como peça-chave da intriga um poema de Arnaut Daniel, o
poeta provençal que legou ao mundo o intrigante termo "noigandres",
presente em cartas e outras situações do enredo.
A história se passa nos anos 1930, basicamente
em Londrina (mas também em cenários ingleses), a cidade paranaense criada em
função de uma empresa de exploração de madeira, por capitais europeus.
O
romance, mesmo com o habeas-corpus preventivo de ser apenas ficção, repassa os
bastidores reais da época e da situação, que envolve até o rei inglês, sócio
dessa empresa, que na história real e na ficção tem simpatias nazistas e
renuncia para poder casar com uma norte-americana complicada.
Há
uma série de crimes em torno do sumiço do contador dessa empresa, porque ele
sabia demais, até mesmo do envio de dinheiro para financiar o nazismo alemão,
tema que engata com a vida de imigrantes alemães que se localizaram no sul do
país, no período.
O
romance, apoiado em clichês linguísticos e narrativos próprios do gênero
policial, tem a necessária clareza, o andamento correto e um justo equilíbrio
entre todas as variáveis, proporcionando uma leitura divertida e, de quebra,
instrutiva. Talvez pudesse ter menos ramais, para ganhar em velocidade. Mas tem
a cara certa para virar ótimo filme.
E
é preciso reconhecer que não é para qualquer escritor botar até mesmo
Churchill, o mito, em ação, falando um português britânico exemplar.
O TROVADOR
AUTOR Rodrigo Garcia Lopes
EDITORA Record
QUANTO R$ 45 (406 págs.)
AVALIAÇÃO bom
LUÍS AUGUSTO
FISCHER é professor de
literatura na UFRGS e autor de "Filosofia Mínima" (Arquipélago
Editorial).
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