terça-feira, abril 23, 2013

Resenha de Canções do Estúdio Realidade, por Ranulfo Pedreiro



0Ranulfo Pedreiro/JL


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O novo CD de Rodrigo Garcia Lopes abre e fecha ressaltando seu lado beat,
o da poesia falada em happenings musicais cheios de suingue. Mas é no miolo
que Canções do estúdio realidade esconde suas complexidades. A primeira delas
 é a palavra, mergulhada em melodia. As letras já não parecem poemas
musicados. A segunda é a direção musical de André Siqueira, dando tal qualidade
aos arranjos que eles, muitas vezes, roubam a cena.
Dizer que o CD, com distribuição da Tratore e patrocínio do Promic, mistura MPB
e jazz é pouco. Há algo sinfônico no sentido com que as vozes se cruzam. A bateria
de Rodrigo Serra, por exemplo, está longe de se restringir ao ritmo. O piano
econômico de Mateus Gonsales fala pouco e toca muito, sempre em acordes
abertos. Gabriel Zara divide o baixo com o próprio André, que empunha o inconfundível
 fretless construído por Renato Alves e faz um belo solo em Alba – canção praieira
que disfarça uma ciranda.
Há momentos cinematográficos na tensão de Vertigem e uma delicadeza à
Modern Jazz Quartet em Cerejas, talvez pelo vibrafone límpido de Marcello
Casagrande. O suingue volta em Adeus, parceria visceral com Paulo Leminski.
E é leminskiano o clima de haikai que pousa sobre Iluminações, parceria com
Bernardo Pellegrini. É uma melodia que segue a fala, mas com direito a curvas
 fechadas no caminho. Com Neuza Pinheiro, Rodrigo assina a folk Butterfly,
 única em inglês.
Não é disco para se ouvir distraído. Ele clama por atenção, que revela tessituras
 imperceptíveis à primeira audição. Evite, portanto, aquelas caixinhas de
computador. Canções... é para se abrir com volume e amplitude.
Seus detalhes, caminhos, pontos e cruzamentos é que são elas. Dão o clima,
porque se trata de CD com arquitetura, ambiente. Há poesia, mas ela não é
exatamente a ponta de lança. Cantador, Rodrigo Garcia Lopes especula
sentimentos que assombram nossa condição humana. Com palavras ou sem.

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